Tok Math foi criado durante a formação Materiais Pedagógicos Acessíveis para ensinar estudantes a realizarem as operações matemáticas básicas em diferentes níveis
A Escola de Ensino Fundamental Manoel Martins de Almeida, em Quixeramobim (CE), foi uma das instituições de ensino selecionadas para participar da formação Materiais Pedagógicos Acessíveis (MPA), promovida pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM).
Após algumas conversas entre a equipe escolar que participou do curso, os formadores do IRM e do MudaLab, decidimos criar o Tok Math: um jogo para que os estudantes do sexto ano conseguissem aprender as quatro operações básicas de matemática (adição, subtração, multiplicação e divisão) de forma divertida e inclusiva, com autonomia e cooperação.
Leia mais
+ Educadora ensina matemática na pandemia com “O Pulo do Gato”
O jogo
O Tok Math é uma caixa de madeira, com botões de toque e três opções de respostas matemáticas. Quando a gente escolhe a opção correta, uma luz verde é acesa, indicando o acerto da operação. O jogo tem três níveis de dificuldade. No primeiro, os estudantes trabalham com as unidades. No segundo, com as dezenas. E, no terceiro, com as centenas ou a unidade de milhar.
Conjuntamente e divididos em equipe, os estudantes devem resolver as operações matemáticas, que aparecem no jogo de forma aleatória. Cada grupo deve escolher um líder – geralmente a pessoa com mais facilidade na disciplina – para auxiliar os colegas na resolução dos cálculos.
Além do apoio da liderança, as alunas e alunos podem contar também com a ajuda de um manual interativo (acessado por meio de tablets), com a “mesa manipuladora” (cujo objetivo é apresentar materiais concretos para facilitar a compreensão dos estudantes com dificuldade de aprendizagem ou de atenção) e com os “cadernos de cartazes”, que mostram imagens com as alternativas em algoritmos das quatro operações matemáticas básicas. O material possui, ainda, um código de cores e organizadores visuais, que transmitem informações.
Esses recursos propõem uma nova estratégia para os estudantes encontrarem a resposta correta. Também favorecem a participação de toda a turma, independentemente das singularidades de cada um.
Trabalho colaborativo
O Tok Math foi desenvolvido com muita parceria e cooperação. Houve uma troca recíproca de ideias e ajuda mútua. Aprendemos todos juntos, nos divertindo. Os estudantes auxiliaram na definição da proposta de aplicação do jogo. Após o primeiro contato com a tecnologia digital Tok Math, eles demonstraram vontade de colaborar com os colegas que estavam com dificuldades de aprendizagem.
Os professores atuaram de forma interdisciplinar: o de língua portuguesa trabalhou o desenvolvimento da fala e da comunicação clara e objetiva, a partir de uma sequência de procedimentos necessários para que os estudantes pudessem interpretar e comunicar aos seus pares os métodos do projeto.
Também contribuiu com a interpretação de uma paródia, criada para reflexão sobre a importância dos estudos e para que todos entendessem a ideia cooperativa e inclusiva do jogo, o que gerou, de maneira lúdica e artística, um maior engajamento dos estudantes.
O professor de educação física ajudou os alunos na reflexão para a escolha de um líder, a ser tomada não somente pela ação da comunicação, como também pelo domínio dos conhecimentos necessários para gerar produtividade de estudos aos liderados. A professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) colaborou com sugestões para tornar o material acessível a todos os estudantes, já que nas turmas há estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com baixa visão.
A gestão escolar apresentou disposição para verificar se algum aluno necessitava de atendimento extraescolar. Cuidou também da infraestrutura da sala de aula para efetivar o projeto, atendendo todas as necessidades.
Leia também
+ Trabalho colaborativo como ferramenta para inclusão escolar
Aprendizado com a formação Materiais Pedagógicos Acessíveis e a importância da inclusão escolar
A partir do aprendizado adquirido na formação Materiais Pedagógicos Acessíveis, fomos capazes de criar algo muito interessante, cuja utilidade se provou bastante útil: o Tok Math. Só basta tentar um pouco mais e o “impossível” acontece.
A formação nos tirou de uma certa zona de conforto, ao nos colocar diante de uma tecnologia com a qual não havíamos trabalhado antes, o Arduino. Nos fez refletir sobre nossos métodos de ensino e na identificação das barreiras do ambiente escolar, a fim de criar estratégias pedagógicas que possam suprir as necessidades de aprendizagem dos estudantes, nos fazendo pensar na importância das ações empregadas.
A parceira entre membros do ambiente escolar, do IRM e do MudaLab propiciou uma satisfação no trabalho desenvolvido e implementado na escola, deixando um legado memorável: o ato de pensar na educação inclusiva.
Aprendemos que a turma, ao conviver com um colega com deficiência e ao trabalhar diretamente com ele, passa a enxergar o seu potencial e, portanto, a tratá-lo da mesma forma. Todos se tornam parceiros.
Essa experiência foi muito importante para nós, não somente por possibilitar a criação de uma ferramenta para se trabalhar com os alunos, mas por nos apresentar à nossa própria capacidade criadora.
Ao trabalharem a matemática de forma lúdica, os estudantes começaram a se encantar pela disciplina. Utilizar uma ferramenta tecnológica de tão fácil manuseio para o desenvolvimento da aprendizagem possibilitou a turma brincar com os números e saber matemática com muita diversão. Além disso, os alunos aprimoraram a atenção, aprenderam a trabalhar em grupo, aceitar regras e cooperar uns com os outros.
A cooperação criou relações mais fortes de valorização da sua escola, do seu professor e de seus pares. Os estudantes se sentiram pertencentes da construção do conhecimento, ao precisarem se comunicar adequadamente entre si para a realização dos procedimentos das operações matemáticas básicas.
Acesse
+ Plataforma de formação do IRM
Próximos passos
Inspirado no Tok Math e na experiência adquirida durante a formação Materiais Pedagógicos Acessíveis, a escola pretende manter um portfólio de atividades como sugestão para o que deve ser trabalhado na sala de aula.
Na ambientação das turmas do ensino fundamental dos anos iniciais foi percebido que o professor deverá aplicar os conhecimentos tendo como ponto de atenção uma maior intervenção dos estudantes nas atividades propostas, suprindo a dificuldade com o uso dos materiais pedagógicos criados, tais como a “mesa manipuladora” e o “caderno de cartazes”.
Nas turmas finais do ensino fundamental houve maior produtividade quando suprimos as equipes de recursos acessíveis, criando um ambiente cooperativo e construtivo.
Para gerar oportunidades de criação de novos materiais que possam diminuir a barreira do domínio das operações matemáticas básicas, serão feitas reflexões com base em outras experiências observadas a partir da usabilidade do material.
Conheça outros materiais pedagógicos acessíveis
+ Boneco incentiva alimentação saudável de forma lúdica
Este relato de experiência é fruto da participação das autoras na edição 2022 do Materiais Pedagógicos Acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns.
A edição de 2022 do projeto foi realizada pelo Instituto Rodrigo Mendes e o MudaLab, com parceria do Instituto Ambikira e Instituto Far, com objetivo de contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.