Tutorial para uso da plataforma DIVERSA e formação docente em contexto escolar inclusivo: um estudo exploratório

Introdução

A partir do final do século XX, a aceleração do processo de globalização econômica e de mundialização da cultura (ORTIZ, 1994) tem produzido repercussões nas dinâmicas de exclusão/inclusão social e educacional.

Embora os padrões de consumo tenham sido ampliados, o desenvolvimento do capitalismo tem resultado no aprofundamento dos níveis de desigualdade social nos diversos países do mundo e entre os países centrais e os da periferia do capitalismo. Mais, recentemente, com o advento da pandemia, o crescimento do desemprego e o reordenamento de setores produtivos têm agravado as situações de miséria e de fome ao redor do mundo e de modo particular no Brasil, onde a crise econômica soma-se à crise social e política e à crise sanitária, em um contexto de políticas macroeconômicas ultraliberais.

Nesse contexto, o modelo da racionalidade técnica proposto pela revolução industrial atravessa um processo de transformação; a chamada Revolução Tecnológica e Digital vem aumentando a rapidez de circulação e produção da informação, bem como ampliando a possibilidade de acesso ao conhecimento.

A revolução tecnológica possibilita, ainda, a automatização da produção, provendo novas ferramentas de trabalho, de produção e de socialização que facilitam as relações em meio digital.

Escola e as tecnologias

A escola, enquanto instituição social, acompanha tais mudanças, que afetam, sobremodo, os docentes. Por exemplo: os alunos passam a exigir não apenas acesso ao conhecimento, tal como em uma aula expositiva mais usual.

Acostumados à lógica dos games e das redes sociais, os estudantes entram em confronto com as formas tradicionais de transmissão de conhecimento. O conjunto de informações armazenadas em meio digital possibilita-lhes, também, acesso rápido aos próprios conhecimentos curriculares, exigindo dos docentes capacidade de reinventar sua prática.

No final da primeira década do século XXI, Teixeira (2010) advogava que a escola e os professores precisavam incorporar uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), por constituírem um diversificado conjunto de recursos tecnológicos que lhes possibilitaria a ampliação de respostas educativas às demandas de seus estudantes, dentre os quais: computadores; internet; e ferramentas que compõem o ambiente virtual, como chats e correio eletrônico; fotografia e vídeo digital.

Nos últimos anos, a esses recursos juntaram-se as redes sociais; podcasts; aplicativos; homepages; plataformas de ensino (ambiente virtual); e objetos digitais de aprendizagem (OA).

Ensino remoto

No Brasil, a última versão da pesquisa TIC nos Domicílios, realizada desde 2005 por uma organização social ligada à UNESCO com o objetivo mapear o acesso às TIC nos domicílios urbanos e rurais do país e suas formas de uso por sujeitos a partir dos 10 anos de idade, mostrou como resultado a exclusão digital personificada nas desigualdades de acesso e no desenvolvimento pleno das habilidades para realização de atividades remotamente (CETIC, 2019).

A versão TIC Educação da mesma pesquisa frisou, ainda, que 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas não tinham computador ou tablet em sua residência. Nas escolas da rede privada de ensino o índice foi de 9%. Informou ainda que 53% de docentes informaram que não ter participado de curso específico para usos de computador dificultava seu trabalho com TICs (CETIC, 2019).

O setor de pesquisa da Fundação Carlos Chagas (FCC) juntou-se a um conjunto de organizações sociais que realizou pesquisa coletiva sobre a escola brasileira em tempos de pandemia, concluindo que cerca de oito em cada dez professores fizeram uso de materiais digitais apoiando-se em ferramentas, tais como TV e rádio, plataformas educacionais, salas de videoconferência, uso de redes sociais e aplicativos de mensagens como apoio para as estratégias de ensino durante pandemia (LIMA, 2020).

A pesquisa específica da FCC, realizada com 14.285 docentes, concluiu que:

A suspensão das aulas presenciais resultou em expressivo aumento no uso de formas digitais de comunicação pelos professores com seus colegas, alunos e familiares. Essa informação se articula, de certo modo, com a ampliação no apoio e suporte às famílias dos alunos, com destaque para as redes pública estadual e privada (FCC, 2020 sp.)

Assim, no Brasil, em contexto pandêmico, torna-se relevante pensar em reinventar práticas pedagógicas. Tal reinvenção exige, portanto, a entrada dos professores no mundo digital, fazendo apelo à sua capacidade de, continuamente, se apresentar como um pesquisador crítico de sua realidade, nos termos de Freire (2014).

Saviani (2020) explica que não fomos previamente preparados para contexto pandêmico, mas que fomos levados a nos adaptar a essa nova realidade sem aviso prévio.

Essa situação colocou em xeque a formação dos profissionais das mais diversas áreas, inclusive do professor, que necessitou reconstruir sua sala de aula em ambientes virtuais e repensar a relação docente-discente, agora mediada pelas TICs.

Estratégias

Tal (re)construção tem sido demanda tanto a professores generalistas, quanto a professores especialistas em educação especial que atuam no Atendimento Educacional Especializado (AEE), na Sala de Recursos Multifuncionais ou em outro espaço escolar.

É necessário atentar que a educação especial brasileira tem caráter complementar e suplementar aos demais níveis e modalidade de ensino, não se apresentando, pois, como substitutiva da educação regular. Assim, em uma perspectiva inclusiva da educação especial, na escola regular encontram-se alunos com e sem deficiência. Daí cabe circunscrever objetos de aprendizagem ou TICs como ferramentas tanto no ensino escolar, quanto na formação continuada de professores.

Ora, as TICs são ferramentas que fazem parte de nossa sociedade e ocupam cada vez mais espaços nas diferentes áreas profissionais e em nossas atividades do cotidiano. Durante a situação de pandemia foram, em geral, os meios para o desenvolvimento das práticas pedagógicas, apresentando soluções viáveis para o andamento do fluxo escolar, por meio do ensino remoto. Portanto têm potencial pedagógico como apoio para o desenvolvimento de diversas práticas no ambiente educacional, inclusive no que diz respeito à formação continuada de professores.

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Pesquisa

Este artigo apresenta o resultado de um Estudo Exploratório que integra uma pesquisa de mestrado. No âmbito dos programas de pós-graduação profissionais a elaboração de ferramentas digitais ou analógicas e de Objetos de Aprendizagem (OA) têm se apresentado como um desafio, notadamente, quando se refere à população-alvo da educação especial.

A investigação de Pedro e Carvalho (2018) mapeou estudos nacionais sobre OA desenvolvidos entre 2003 e 2016 que constavam na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. Foram analisadas 168 produções (130 dissertações e 38 teses); apenas 8 trabalhos enfocaram a educação especial e a formação de professores, respectivamente. Tal achado coloca em evidência a importância de investigações sobre OA da forma proposta no presente artigo.

Com base nesses argumentos, o objetivo deste artigo é apresentar o processo de elaboração de um tutorial para uso de dada plataforma de educação, que se configura como um objeto de aprendizagem em um sentido mais amplo do termo.

Referencial teórico

A tecnologia tem ensejado mudanças no ensino e aprendizagem, na organização curricular e nas relações interpessoais na escola. Porém, desde a pandemia, a tecnologia veio para o centro da discussão, porque professores de todos os níveis e modalidades de ensino, regular ou especial, foram obrigados a aprender TICs para ministrar/desenvolver aulas remotas em um cenário de incertezas.

É importante considerar que as “[…] tecnologias já faziam parte do ambiente educacional antes da pandemia, assim como das vidas privadas de professores e alunos” (FANTIN, 2009, p. 2). Assim, ao refletirmos sobre o uso dessas ferramentas no cotidiano da escola e no desenvolvimento de ações na formação continuada de professores é necessário ter em conta uma diversidade de experiências e de vivências desses sujeitos no manuseio de TICs em períodos anteriores ao contexto pandêmico.

Para Bonilla e Oliveira (2011) faz-se oportuno considerar que as tecnologias estabelecem novas relações no espaço escolar e representam um grande desafio para a escola e para os professores. As TICs possibilitam o rompimento com métodos e programas baseados em perspectivas que secundarizem os artefatos tecnológicos, utilizando-os como mera forma de apoio ao ensino.

Conforme apontam Giroto, Poker e Omote (2012), as ferramentas provenientes das TICs precisam ser inseridas nos contextos educacionais de todos os alunos, mas de modo específico na vida daqueles que enfrentam barreiras sociais impostas pelo preconceito à sua condição de pessoa com deficiência.

Ainda nessa direção, os autores afirmam que pesquisas evidenciam a utilização das TICs como possibilidade de superação das dificuldades do aluno, provenientes da condição social, sensorial, intelectual, neurológica, motora, dentre outras. Ao investigarem o uso de Tecnologias Assistivas com tais alunos em contextos de aprendizagem com seus professores, os autores afirmam que:

As aplicações das TIC para a realização de atividades traz uma série de vantagens, tais como: a individualização do ensino respeitando o ritmo e o tempo de realização de atividade de cada aluno; a flexibilidade que viabiliza o uso de canais sensoriais distintos; a avaliação contínua e dinâmica; a autoavaliação; a manutenção da mesma atividade/exercício de acordo com as necessidades educacionais do aluno; o ajuste do nível de complexidade da atividade; o desenvolvimento de hábitos e de disciplina para sua utilização (GIROTO, POKER E OMOTE, 2012, p. 21)

Objetos de aprendizagem

Emer (2011) ressalta a importância do uso de TICs nas práticas de educação especial em perspectiva inclusiva, mas não as reduz às chamadas Tecnologias Assistivas, as quais se desenvolveram, em geral, para contextos de educação presencial.

Silva, Souza e Manguetti (1919, p 117) ressaltam o que denominam de Educação digital ou media literacy (em português, “alfabetização midiática”) as quais objetivam a criação de um “conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos – dos impressos aos digitais”. Nessa perspectiva, tal processo educativo não deve ater-se à tecnologia em si, mas desenvolver habilidades para um uso crítico e reflexivo das redes sociais em processos educativos.

As ferramentas tecnológicas digitais podem ser utilizadas no atendimento de demandas da população-alvo da educação especial, mas também em processos de formação de professores, especialmente considerando as mudanças paradigmáticas decorrentes das necessidades de distanciamento social impostas pela pandemia da covid-19, das incertezas quanto ao controle da epidemia, das perspectivas de mudanças de hábitos e de modos de vida definitivos ou pelo menos prolongados.

As TICs apresentam potencial por formarem um arcabouço de recursos tecnológicos, capazes de viabilizar novas práticas pedagógicas inclusivas na escola. No campo da educação especial, investigações foram desenvolvidas com vistas ao uso de tecnologias no contexto formativo.

Estudos ressaltam a validade da utilização de recursos tecnológicos para o ensino de alunos com deficiência, bem como a possibilidade de ampliação de respostas educativas docentes para as demandas de estudantes com deficiência (SANTAROSA; CONFORTO; BASSO, 2012; SANTAROSA; CONFORTO, 2015; GUEDES; NETO; BLANCO, 2020).

Guedes, Neto e Blanco (2020, p.18) ressaltam que:

[…] é visível a escassez de propostas de ensino de conteúdos acadêmicos, como a alfabetização de alunos com TEA, assim como propostas de formação continuada para professores com o intuito de ensiná-los a manusear essa ferramenta como apoio pedagógico.

As TICs, via tecnologias móveis (aparelhos como telefones celulares, tablets, laptops, notebooks etc.), podem favorecer o acesso e a troca de informações entre as pessoas por permitirem maior interatividade e mobilidade, dada a portabilidade que possibilita às pessoas realizarem tarefas e se deslocarem livremente no espaço e a qualquer tempo, diferentemente das demais mídias interativas (CARVALHO, 2017).

Independentemente do contexto pandêmico adverso, como postularam Giroto, Poker e Omote (2012), o desenvolvimento tecnológico trouxe ferramentas que, direcionadas às especificidades do aluno população-alvo da educação especial, podem viabilizar o avanço escolar de todos.

Para Braga (2015, p. 13), as TICs, a exemplo dos chamados Objetos de Aprendizagem, “[…] podem ser vistas como componentes ou unidades digitais, catalogadas e disponibilizadas em repositórios na Internet para serem reutilizadas no ensino”. Portanto, um Objeto de Aprendizagem, entendido como um material digital, pode contribuir para práticas pedagógicas mais significativas.

Bardy et al. (2013, p. 285) afirmam, nesse sentido, que “[…] as TIC, e em especial os OA, subsidiados pelo uso do computador, podem ser adaptados aos diferentes estilos de aprendizagem, aos diferentes níveis de capacidade e interesse intelectual, às diferentes situações de ensino e aprendizagem [..]”.

Na visão de Bardy et al. (2013), os OA apresentam-se como recursos potencializadores do acesso ao conhecimento a todos os alunos, incluindo os que têm alguma deficiência. O professor tem a oportunidade de incorporar ao seu fazer mudanças em suas estratégias de trabalho, que poderão culminar em práticas de ensino inclusivas, uma vez que:

[…] Os OA são vistos e abordados como um importante material didático; uma ferramenta, um recurso de auxílio ao professor em seu processo de ensino de conteúdos disciplinares entre outros assuntos da vida escolar dos estudantes com deficiência (BARDY et al, 2013, p. 279).

O uso de Objetos de Aprendizagem auxilia, ainda, o professor no cotidiano escolar, favorecendo a aprendizagem dos conteúdos, mas é necessário ter claro o objetivo a ser alcançado, como ressalta Braga,

[…] o mais importante é que o professor tenha clareza dos objetivos de aprendizagem que ele pretende alcançar. Tendo esta clareza, saberá escolher adequadamente o OA que o apoiará ou até possibilitará por completo o alcance dos objetivos previstos (BRAGA, 2015a, p. 26).

Diferentemente de outras mídias utilizadas nos processos de ensino, os OA podem ser considerados “[…] entidades digitais, via internet, permitindo que um número infinito de pessoas possa acessá-los e usá-los simultaneamente.” (AGUIAR E FLORES, 2014 p. 14). Assim, a flexibilidade de uso, bem como a reutilização em vários contextos de ensino, torna os objetos versáteis.

Bardy (2010, p. 78), ao ressaltar o papel dos OA na formação docente afirma que a ampliação do acesso de professores e estudantes aos objetos pode ser garantida com seu armazenamento em repositórios e estes:

[…] repositórios de materiais digitais tornam-se um grande aliado para o processo de ensino e aprendizagem, uma vez que permitem que materiais digitais sejam catalogados, organizados, classificados e disponibilizados de forma acessível para os professores do ensino público e também privados.

Bibliotecas digitais

Elias, Motta e Kalinke (2018) realizaram uma pesquisa acerca do desenvolvimento de um curso sobre com o software Scarth com professores de educação básica, que evidenciou o potencial do meio digital como facilitador da aprendizagem, mas frisaram que houve dificuldades no primeiro contato com o software pelos professores, defendendo a perspectiva de que a formação docente deve possibilitar o contato com as TICs.

Podem ser encontrados, na internet, diversos ambientes acessíveis/plataformas, em que citamos as plataformas DIVERSA e Objetos de Aprendizagem para Matemática (Obama), os sites MEC RED, Prática SCALA, Robótica Educacional, dentre outros. Este estudo será focado na plataforma DIVERSA, que subsidiará a produção de um tutorial no formato vídeo, para possível uso em processos formativos de professores.

Freire (1994) escreveu uma orientação para professores na qual disse que era importante para o docente ter acesso a uma boa biblioteca para realizar estudos e aprofundar o conhecimento da práxis educativa. Podemos fazer uma analogia e afirmar que a plataforma Diversa, por exemplo, disponibiliza para professores, especialmente o não especializado em educação especial, acesso a um conhecimento teórico associado a relatos de experiências exitosas no campo da educação especial no país.

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É importante considerar a relevância de plataformas educacionais na busca pela democratização do conhecimento entre profissionais da educação. Entretanto, é necessário que sejam pensadas estruturas que permitam o acesso pelos interlocutores dessas plataformas, ou seja, do ponto de vista econômico, docentes e estudantes. Notadamente, as redes públicas de ensino necessitam investimentos com vistas a permitir a universalização de acesso e de uso de ferramentas tecnológicas virtuais.

Metodologia

Este artigo apresenta resultados de uma Pesquisa Exploratória para produção de um tutorial em vídeo, parte integrante de uma dissertação de mestrado, que visa utilizar TICs na organização de um curso de formação a ser denominado “Descomplica e alfabetiza de forma inclusiva”.

Em geral, a pesquisa exploratória é entendida como um estudo preliminar realizado com a finalidade de melhor adequar instrumentos de medida à realidade que se pretende conhecer (RODRIGUES, 2007) ou como forma de mergulho no campo de pesquisa para formulação de novas hipóteses ou organização de intervenções (TRIVINOS,2006). No caso em apreço, a Pesquisa Exploratória serviu para aproximar os pesquisadores dos modos de utilização das TICs em processos formativos.

Em nosso estudo exploratório, a escolha do tutorial no formato vídeo se justifica pela perspectiva de criação de mecanismos para ajudar o professor a pesquisar sua prática e a de outros docentes, bem como articular redes de apoio a seu trabalho.

Escolhemos a plataforma Diversa, um portal educacional gratuito, com foco em áreas relacionadas à educação especial, que está há 11 anos na internet e é uma iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes (IRM), o MEC (Ministério da Educação) e outros setores da sociedade envolvidos com o tema equidade. Configura-se como um espaço de informações sobre práticas impulsionadoras do processo de inclusão de alunos com deficiência.

Foi realizada uma análise da referida plataforma para, na sequência, elaborar o tutorial no formato vídeo. O tutorial foi concebido em linguagem mobile, acessível em Libras e legendado, para utilização em smartphone. Pensamos nesse formato por oferecer maior acessibilidade aos usuários surdos.

O material para uso em smartphone justifica-se pelo fato de pesquisas indicarem que o celular é o principal meio de acesso à internet no país. A informação é proveniente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística):

A parcela de domicílios que havia somente telefone móvel aumentou de 63,3%, em 2017, para 66,4%, em 2018, nos domicílios do País. Em 2018, as Regiões Norte (80,7%) e Nordeste (79,4%) continuaram a deter os maiores percentuais de domicílios em que havia somente telefone móvel celular e a Sudeste (55,6%), o menor” (IBGE, 2019, p. 35).

Construção do objeto de aprendizagem

O processo de construção do tutorial passou por algumas etapas. Inicialmente, realizamos a navegação na plataforma Diversa a fim de estudarmos sua aplicabilidade; na sequência, realizamos a síntese de seus principais mecanismos de acesso, para a posteriori produzir roteiro de gravação no vídeo.

Foram vários ensaios para elaboração e leitura do roteiro, a fim de implementarmos a entonação da voz adequada ao objetivo da ação, na criação do tutorial digital para navegação na plataforma escolhida.

Uso de recursos necessários à gravação e edição foi realizado de modo artesanal, afinal a produção não aconteceu em estúdio, mas foi realizada em um quarto de uma residência. É importante destacar que as gravações foram desenvolvidas utilizando um smartphone.

Inicialmente, gravamos a introdução do vídeo, posteriormente, a tela do celular paralelo ao áudio, indicando a navegação por meio dos menus da tela inicial, dispostos na plataforma. Concluída essa etapa, solicitamos o serviço de uma intérprete de Libras, que realizou a tradução do vídeo em sua totalidade. Foi aberta uma janela de Libras no vídeo, ou seja, um delimitado no vídeo onde as informações veiculadas na língua portuguesa oral foram interpretadas em Libras.

No que concerne à edição, utilizamos o programa FILMORA 9, disponível no link: https://filmora.wondershare.com.br/. Nele encontramos as opções de legendagem e edições das simples as mais complexas.

Resultados

A plataforma Diversa, para a qual construímos o tutorial, configura-se como um espaço de fomento de práticas impulsionadoras no processo de inclusão de alunos com deficiência. Encontramos artigos, relatos de experiências, estudos de caso do Brasil e de outros países, materiais pedagógicos acessíveis, espaço para discussão e esclarecimento de dúvidas.

Consiste em um ambiente virtual de aprendizagem acessível a todos que trabalham em perspectiva inclusiva, tenham ou não alguma necessidade de ferramenta de acessibilidade. Essa acessibilidade constitui um diferencial do site que informa sobre a educação especial e que está também acessível para pessoas com deficiência.

De uso gratuito, possibilita a professores, gestores, pais, alunos e demais interessados nas temáticas tratadas, o acesso e o compartilhamento de objetos de aprendizagem e conteúdos teórico-práticos sobre educação inclusiva.

A plataforma publicou* 145 artigos de especialistas, registrou 260 práticas inspiradoras (relatos e estudos de caso) de pessoas envolvidas no processo de inclusão de estudantes com deficiência nas redes de ensino em vários países além do Brasil, tais como Argentina, Dinamarca e França. (DIVERSA, 2020)

Seu principal objetivo é oferecer acessibilidade à discussão dos conceitos que envolvem a educação inclusiva, estabelecendo laços colaborativos entre os que a acessam. O espaço propicia discussão de temas, compartilhamento de vivências, socialização de recursos pedagógicos e de referências bibliográficas.

Há uma transversalidade entre os temas tratados, a exemplo de currículo, formação docente, infraestrutura, acessibilidade, tecnologia assistiva, dentre outros. Todos se entrecruzam, organizados tendo a inclusão no âmbito da escola dita comum como tema transversal. Nesse sentido, pode constituir importante ferramenta para a construção de processos de formação de professores que se encontram diante dos desafios de incluir um aluno surdo, por exemplo.

Formação docente

Pesquisas vêm evidenciando a importância de o professor pensar numa perspectiva de investimento pessoal na sua formação. Ou seja, as demandas da prática exigem da docência um exercício permanente de estudo e pesquisa. É o que Freire (1994) denomina práxis: a contínua reflexão-ação-reflexão em movimentos de síntese que se expressam no discurso e na ação docente.

Na “biblioteca”* disponibilizada, pudemos encontrar 185 artigos, que são filtrados por autor e dimensão; 16 estudos de caso, buscados por tipo de escola, segmento, especificidade e dimensão; 340 relatos de experiência, filtrados por tipos de experiência, tipos de escola, série (ano), especificidade, segmento, áreas de conhecimento e dimensão; formulários para preenchimento de dados do usuário para socialização de experiência; e, por fim, 53 materiais pedagógicos, que apresentam aos educadores vivências interativas de aplicação em sala de aula, articuladas com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e aos atributos do Desenho Universal da Aprendizagem.

Os conteúdos apresentados na plataforma são orientados pelo pressuposto de que todos têm direito à educação de qualidade, considerando suas singularidades. Sendo assim, todos têm condições de aprender, basta aplicar a estratégia adequada. Cada pessoa aprende de uma forma, não há homogeneidade, portanto, o convívio escolar é para todos, aprende-se na heterogeneidade, considera-se o direito à igualdade e o respeito às diferenças (DIVERSA, 2020).

A tela inicial da plataforma contém as informações básicas para a navegação, permitindo ao usuário conhecer as especificidades do ambiente virtual, sem restrição de acesso.

Seus principais tópicos de navegação são: Institucional (projeto, impactos, princípios, metodologia, conselho e parceiros); Educação Inclusiva (conceitos fundamentais, marcos legais, garantia de direitos, políticas públicas, gestão escolar, estratégias pedagógicas, famílias, parcerias e temas transversais); Fórum; Acessibilidade; Notícias e a Biblioteca, que entendemos ser a parte de maior foco de nosso estudo, pois traz artigos, estudos de caso, relatos de experiência, materiais pedagógicos e compartilhamento de práticas (DIVERSA, 2020).

A socialização de práticas pedagógicas inclusivas na referida plataforma é motivadora para que outros professores sejam sensibilizados a modificar seu percurso pedagógico caracterizando-se, pois, como um ambiente virtual de compartilhamento de materiais e meios educacionais.

Tutorial

Segundo Giroto, Poker e Omote (2012), para que mudanças ocorram, a escola necessita de adequações no processo formativo do professor. Essa precisa estar aberto a aprender e desenvolver percursos novos, desprendendo-se dos padrões homogeneizantes, seletivos e excludentes de aluno, ou seja, a atenção deve ser voltada à formação docente. Supomos que a plataforma DIVERSA ofereça essa possibilidade para docentes obterem informações e descrição de práticas pedagógicas com o uso do próprio celular.

A plataforma em seu formato articula informações, conceitos e práticas relativos à educação especial de fundamental importância e de fácil acesso para pesquisadores iniciantes. Por sua vez, o tutorial elaborado foi direcionado para uso em processos formativos de professores.

Dotado de linguagem simples, expressa informações detalhadas sobre sua aplicabilidade, a fim de oportunizar ao professor um recurso para aprender novos conhecimentos sobre educação especial.

O tutorial, visando sua funcionalidade, foi desenvolvido em linguagem mobile, apresenta interface que oportuniza a muitos usuários o acesso à plataforma. Foi providenciada sua legendagem e sua tradução em Libras. Tais aspecto faz do tutorial um OA que poderá ser utilizado em diversos contextos de formação continuada docente.

O vídeo tutorial tem duração de 7 minutos e 24 segundos, sendo apresentado por uma das autoras deste artigo. Durante 2 minutos e 04 segundos instiga o usuário a entrar na plataforma e ter uma possível experiência formativa. Na continuidade, apresenta com detalhes de descrição as abas e possibilidades de navegação. A apresentação oral do vídeo amplia as possibilidades de compreensão das funcionalidades da plataforma.

Assista ao tutorial produzido:

Os designs da capa do tutorial e do canal foram construídos no programa Adobe Illustrator CC 2019. O vídeo tutorial inicialmente foi postado no canal “Descomplica e Alfabetiza de forma Inclusiva”. No seguimento, foi hospedado no Portal Educapes podendo ser acessado no seguinte endereço http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/584177 (NASCIMENTO EMAGALHÃES, 2020).

O material produzido visou favorecer a navegabilidade, possibilitando experiências significativas aos usuários, que poderão acessar o conteúdo da plataforma de forma rápida e interativa.

Ressaltamos, ainda, que em nosso estudo não desconhecemos a condição de acesso desigual a internet nas variadas regiões do país: em 2019, 83% dos alunos de escolas localizadas em áreas urbanas eram usuários de internet. Porém, ainda há grande discrepância no acesso. Por exemplo, na região norte do país o acesso é de 73% contra 87%, na região sul (CETIC, 2019). Outro aspecto a ser considerado, em meio a pandemia, são as reais condições de trabalho dos docentes, que dificultam o aprendizado de novas abordagens metodológicas, bem como o uso de ferramentas digitais.

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Considerações finais

A literatura consultada evidenciou a importância do uso de TICs, inclusive de OA, no âmbito do ensino em perspectiva inclusiva, bem como para ações de formação inicial e continuada de profissionais da Educação Especial.

O tutorial elaborado pode ser aplicado durante processos formativos com professores, na intenção de oferecer percursos mais interativos e inovadores de acesso a conteúdos e experiências pedagógicas pautadas na atenção à diversidade.

A disponibilização do tutorial em plataformas e sites de acesso aberto oportuniza, mesmo indiretamente, a construção de novos conhecimentos por meio da interação tecnológica, objetivando a introdução de novas metodologias no cotidiano escolar. Novos direcionamentos metodológicos confluirão para o planejamento de situações didáticas que incluam a todos indistintamente.

A aproximação dos recursos tecnológicos aos contextos educacionais propicia aos envolvidos novas aprendizagens, podendo o tutorial da plataforma DIVERSA contribuir para a prática docente no contexto da Educação Especial. Foi criado para ampliar o acesso de professores e demais interessados às novas ferramentas adequadas às especificidades escolares, visando a aprendizagem significativa de todos os alunos.

A concepção em linguagem mobile objetivou facilitar o acesso por smartphone. Além disso, a inserção de um profissional para o trabalho de interpretação/ tradução em Libras propiciou maior acessibilidade para o usuário surdo.

Sendo assim, tem um alto fator de reuso, bem como adaptabilidade a variados contextos formativos. Oferece aos usuários que atuam na Educação Especial uma ferramenta de uso prático para acessar uma plataforma educacional que visa popularizar e organizar conhecimentos voltados para inclusão escolar.

Frisamos que o uso de ferramentas digitais pela escola deve ser acompanhado de uma mudança de perspectiva com vistas à melhoria de condições de vida e trabalho dos docentes, o que pode ajudar a ampliar as possibilidades de uso das Tecnologias da Informação em sala de aula.

Referências

As referências bibliográficas deste artigo podem ser consultadas em https://bit.ly/3iMCLYQ.


Este artigo foi publicado originalmente na edição de fevereiro de 2021 da Revista Humanidades e Inovação e está disponível para leitura em https://bit.ly/3iMCLYQ.

* Os dados mencionados sobre as publicações no portal DIVERSA são referentes ao mês de setembro de 2020.

Helayne Carvalho é formada em Pedagogia, professora e supervisora atuante da rede pública do sistema de ensino municipal de João Pessoa (PB), educanda do Programa de Mestrado Profissional em Educação Especial.

Rita de Cássia é graduada em Pedagogia, mestra em Educação Especial e doutora em Educação. Atualmente é professora associada da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) no Centro de Educação.

Andrialex Silva é graduado em Pedagogia, especialista em Literatura e Ensino e em Psicopedagogia Escolar. Mestre em educação e atualmente doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Instituto Rodrigo Mendes.

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