“Jacaré interativo” incentiva comunicação por meio de histórias

Para eliminar barreiras de comunicação, educadoras criaram projeto que trabalhou leitura e escrita com histórias e música

A EMEIF Chapeuzinho Vermelho se localiza no município de Ariquemes, que fica a cerca de 200 Km de Porto Velho, no estado de Rondônia, e teve origem a partir de uma tribo indígena chamada AriKeme. A escola foi fundada em 1985 e atende aproximadamente 680 estudantes da educação infantil até o 3º ano do ensino fundamental, na faixa etária de quatro a oito anos de idade. A unidade escolar tem uma proposta construtivista, e os docentes estão acostumados a trabalhar com sequências didáticas e projetos. 

Planejamento do projeto dentro da realidade escolar

Em 2022, nós, professora de sala comum, professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e gestora da escola, participamos da formação Materiais pedagógicos acessíveis. A identificação de barreiras para a inclusão em nossa unidade escolar foi uma das atividades que fizemos durante o curso. 

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Durante essa atividade, nós identificamos que havia uma dificuldade na comunicação e interação entre as alunas e os alunos de uma turma de 2º ano do ensino fundamental. Provavelmente porque foi uma turma que veio de dois anos seguidos de pandemia e não teve acesso a pré-escola e ao 1º ano presencial. Essa turma possuía estudantes em diferentes níveis de aprendizagem, dentre eles um aluno público-alvo da educação especial, com paralisia cerebral. 

Selecionamos uma sequência didática que já seria desenvolvida em todas as turmas de 2º ano da escola para desenvolver o projeto do curso. Aproveitamos, então, os conhecimentos adquiridos sobre tecnologia e acessibilidade para pensar estratégias e o desenvolvimento de um protótipo de material pedagógico acessível que nos auxiliassem a eliminar as barreiras de comunicação identificadas. 

A sequência escolhida “Contos da Sylvia Orthof: Conte e cante” era do eixo temático de práticas de linguagens e envolveu também artes visuais e música. Nossos principais objetivos eram desenvolver o sistema de leitura e escrita das crianças e promover maior interação entre elas. 

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Todas as etapas do projeto foram conversadas em planejamento coletivo, não só com a equipe participante do curso, mas também com outros professores e a coordenadora da escola, procurando envolver outros membros da comunidade escolar. 

Desenvolvimento do projeto com as crianças 

Reunimos as crianças e explicamos o projeto. Levamos livros da Silvia Orthof e pedimos para que eles imaginassem e conversassem sobre o que eram as histórias por meio das imagens de capa. Foi o primeiro contato que as crianças tiveram com a sequência didática. 

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Em seguida, foram realizadas diversas outras etapas, como o diagnóstico inicial de escrita, a contação das histórias e a formação de frases, para que os estudantes pudessem avançar no sistema de escrita. 

Menina uniformizada e de máscara escreve palavras a lápis em folha de papel com desenhos coloridos. Fim da descrição.
Foto: Ana Cleide Anorato. Fonte: arquivo pessoal.

Dentro da bibliografia da Silvia Orthof, há um livro chamado “O perigoso”, que traz a história de um jacaré. Por isso, tivemos a ideia de fazer um material pedagógico acessível em formato de um jacaré interativo, para que fosse um protótipo contextualizado com uma das histórias que estavam sendo trabalhadas. 

O “Jacaré interativo” é um boneco de MDF com sensor de movimento. Ele possui dois botões: no primeiro botão, há áudios com perguntas sobre as histórias de Silvia Orthof; no segundo botão, os áudios desafiam as crianças a cantar coletivamente uma música com determinadas palavras. O trabalho com música foi inserido neste projeto pensando no aluno com paralisia, que adora e interage bem com música, mas também numa forma de fazer com que todos se sentissem parte da atividade. 

Material pedagógico acessível “Jacaré interativo” está sobre uma mesa sendo observado por estudantes.
Foto: Ana Cleide Anorato. Fonte: arquivo pessoal.

Queríamos que as crianças pudessem participar de quase todas as etapas do projeto, para que se sentissem protagonistas do próprio aprendizado. Então, as envolvemos inclusive na produção dos materiais de apoio ao protótipo, como a construção dos cards com imagens, para termos recursos visuais das histórias; e a produção e gravação dos áudios, que foram os recursos sonoros. Para a confecção dos cards, decidimos não imprimir imagens digitais, mas sim colocar as crianças para desenhar. 

Menina desenha no quadro branco enquanto é observada por professora. Fim da descrição.
Foto: Ana Cleide Anorato. Fonte: arquivo pessoal.

Avaliação e resultados

Foram várias etapas antes de chegarmos com os estudantes à construção final de textos, exercitando a escrita em sua potência, e à interação com o material pedagógico acessível. As duas últimas atividades foram: a escrita em dupla, onde estudantes puderam se ajudar e escrever colaborativamente; e a escrita individual, que serviu para avaliação do desenvolvimento da escrita de cada estudante desde o diagnóstico inicial até o fim da sequência didática. 

Por fim, a etapa da interação com o jacaré foi a cereja do bolo! Os estudantes amaram o material pedagógico acessível e ficaram muito alegres. Eles se surpreendiam ao ouvir as próprias vozes saindo da boca do jacaré. 

Todo o desenvolvimento do projeto possibilitou uma grande aproximação entre as crianças e fez também com que a equipe docente ficasse mais unida. 

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Este relato de experiência é fruto da participação das autoras na edição 2022 do Materiais Pedagógicos Acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns. 

 A edição de 2022 do projeto foi realizada pelo Instituto Rodrigo Mendes e o MudaLab, com parceria do Instituto Ambikira e Instituto Far, com objetivo de contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.  

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