No Dia Nacional do Livro Infantil, veja como a literatura infantil pode ser uma aliada no desenvolvimento e aprendizagem de todas as crianças
Há mais de 20 anos, em todo dia 18 de abril, comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil no Brasil. A data, instituída pela Lei nº 10.402/02, faz homenagem ao dia de nascimento de Monteiro Lobato, escritor considerado pioneiro em literatura infantil brasileira.
Apesar de não ter escrito apenas para crianças e ter publicado literatura para adultos durante o pré-modernismo nas primeiras décadas do século XX, Monteiro Lobato ficou mais amplamente conhecido após a adaptação de sua obra “O sítio do Picapau Amarelo” para a televisão nos anos 1970.
O Dia Nacional do Livro Infantil tem como propósito celebrar a literatura infantil brasileira, reverenciando autoras e autores desse gênero; incentivar a leitura, para e por crianças, conscientizando adultos cuidadores sobre a relevância dessa prática; e ressaltar a importância dos livros infantis no processo de desenvolvimento e aprendizagem de todas as crianças.
Livros infantis como base para a educação inclusiva
Fortalecendo os princípios da educação inclusiva, livros infantis que abordam e retratam a diversidade humana, assim como a oferta de formatos acessíveis de livros para pessoas com deficiência, podem contribuir para a garantia dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil, como dispostos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), citada a seguir.
Reconhecer personagens de diferentes etnias, raças, gêneros, religiões, com deficiência, dentre outras características inerentes à uma sociedade plural pode colaborar para que a criança aprenda a “conviver com outras crianças e adultos, (…) ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas”. Assim como ter acesso a um livro em braile, a um audiolivro ou ter a história do livro interpretada em Língua Brasileira de Sinais (Libras) pode possibilitar a criança “conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento”.
“Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas pedagógicas na Educação Infantil.”
BRASIL, Ministério da Educação, 2018
Leia também
+ Educadores, especialistas e famílias relatam importância do livro
A diversidade presente nos livros infantis
“Está começando a ser mais habitual ver as deficiências retratadas nas ilustrações, misturando personagens que utilizam cadeiras de rodas ao lado de andantes, por exemplo”, comenta Kelli Machado, jornalista, coordenadora de comunicação do Instituto Rodrigo Mendes (IRM) e mãe de dois meninos de 3 e 5 anos.
Kelli entende a importância da leitura para aumentar o repertório de assuntos e experiências dos filhos: “Aqui em casa, a biblioteca das crianças tem títulos que falam um pouco de tudo, desde dinossauros, monstros e rimas, a sentimentos, luto, viagens, poesia, construções, política, misturando histórias reais e fantasias”. Como mãe, ela acredita que a diversidade de personagens e demais elementos das histórias dão referências que ajudam os filhos a lidarem com mais familiaridade quando se deparam com situações que ainda não vivenciaram ou diferentes da rotina, como “quando encontram, pela primeira vez, um animal que só tinham visto no livro (…) ou veem que é comum algumas pessoas usarem óculos, outras bengala ou cadeira de rodas”.
Por fim, a jornalista aposta na diversidade não só de personagens e temas, mas também de autoras e autores negros, indígenas, brasileiros ou estrangeiros fora dos nichos América do Norte e Europa, reforçando diferentes culturas e abordagens. “Pode ser um movimento sutil, porém que representa justamente o que desejamos: a inclusão”, conclui.
Saiba mais
+ Autores relatam importância de livros sobre diversidade para crianças
Livros para crianças (e adultos) aprenderem sobre diversidade e inclusão
O DIVERSA selecionou algumas indicações de livros infantis que retratam a diversidade entre as pessoas e falam sobre o respeito e o convívio com as diferenças.
+ Tudo bem ser diferente, Todd Parr, Panda Book
O escritor e ilustrador americano é conhecido por seus livros supercoloridos, que abordam os sentimentos e situações do dia a dia. Em “Tudo bem ser diferente” ele fala sobre as diferenças que existem entre os indivíduos e o quanto essas especificidades tornam as pessoas únicas e importantes, exatamente como são. Nas ilustrações ele retrata, por exemplo, uma pessoa cega com um cão-guia e outra que utiliza cadeira de rodas para se locomover.
+ O grande e maravilhoso livro das famílias, Mary Hoffman e Ros Asquith, SM Educação
O livro aborda as diferentes estruturas familiares que existem ao redor do mundo e seus estilos de vida, desde o número de pessoas – das menores famílias às mais numerosas –, à estrutura da casa em que vivem – ou a falta de um local para morar –, as escolas que frequentam, os meios de transporte disponíveis, diferentes modelos de trabalho e uma grande diversidade de atividades de lazer. É um livro que fala principalmente sobre a diversidade, retrata as desigualdades sociais, mostra famílias interraciais e pessoas com deficiência.
+ Todos juntos!, Daniela Kulot, Telos Editora
A cada página a autora apresenta personagens com características totalmente diferentes e que, por isso mesmo, se complementam. Ela fala sobre empatia e respeito ao próximo, sobre confiar em si e no outro para enfrentar situações adversas e sobre o poder do companheirismo e do coletivo para lidar com as dificuldades. No livro são retratadas uma criança em cadeiras de rodas e uma senhora que utiliza bengala.
+ Não Somos Anjinhos, Gusti, Solisluna
O livro aborda com afetividade e um senso muito simples e direto da realidade a vida vivida por crianças com Síndrome de Down síndrome de down e suas famílias. E desmente algumas das crenças mais difundidas sobre elas.
+ Vivinha, A Baleiazinha, Ruth Rocha, Salamandra
O livro conta a história de uma baleia diferente das demais, que vivia sozinha e triste. Até que um polvo resolve preparar um filme sobre o fundo do mar e escolher para o papel principal alguém que não fosse comum. Uma história delicada da Ruth Rocha, que sutilmente aborda o anti-bullying e a afirmação das diferenças.
+ O gato xadrez, Isa Mara Lando, Brique-Book
História de um gato que passa por diversas transformações até encontrar seu próprio estilo, mostrando o quanto é legal se descobrir.
+ Coleção Monstros, Olga de Díos, editora Boitatá
A escritora espanhola Olga de Díos tem alguns livros publicados que falam sobre respeito, cuidado, empatia, escuta e acolhimento. Os personagens são totalmente fora dos padrões normativos e dos estereótipos. Os títulos são: “Monstro Rosa”, “Monstro Azul”, “Pássaro Amarelo”, “Rã de três olhos”, entre outros.