Potencializamos alfabetização e participação de estudantes com material interativo

Com elaboração de recurso acessível, aulas se tornaram mais dinâmicas e proporcionaram aprendizagem mais divertida e significativa

Somos educadores da EMEF Brigadeiro Haroldo Veloso, localizada na zona leste da cidade de São Paulo (SP). Em 2019, a turma do 1ª ano do ensino fundamental era muito esperta e comunicativa. Havia 30 estudantes na sala, dentre os quais um aluno com baixa visão e uma aluna com paralisia cerebral.

O aluno com deficiência visual não mostrava motivação durante as aulas, querendo apenas desenhar. E a estudante com paralisia cerebral apresentava muita dificuldade para realizar as atividades propostas. Ela não interagia com os demais estudantes, nem falava com clareza: todos a viam como um bebê.

Como estimular a participação e o envolvimento?

A partir da identificação dessas barreiras ao aprendizadoplanejamos desenvolver uma estratégia pedagógica para estimular a alfabetização e o ensino de conteúdos de ciências, como o estudo de características e desenvolvimento de animais domésticos e selvagens. Nossa intenção era proporcionar a participação dos estudantes nas atividades propostas e garantir a aprendizagem de todos.

Duas alunas escrevem com giz branco na lousa interativa, que está apoiada no quadro negro da sala de aula, enquanto professora as observa. Fim da descrição.
Foto: Paulo Fehlauer. Fonte: Instituto Rodrigo Mendes.

Estabelecendo diálogo com o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e com a coordenação pedagógica, e observando as potencialidades da turma, entendemos que era possível construir um material pedagógico acessível (MPA) capaz de garantir o acesso de todos ao currículo.

Com a definição de nossa estratégia, demos início à elaboração do recurso para dar luz aos nossos objetivos. A ideia era potencializar a alfabetização e possibilitar envolvimento por parte de todas e todos. Queríamos que o material também estimulasse a escrita e a escuta dos estudantes. Optamos, então, por um painel sonoro para reproduzir os sons de animais determinados. Nascia assim a “Lousa interativa”.

Saiba como o material se articula com a BNCC

Construindo a Lousa interativa

Buscamos acesso a um repertório teórico e prático para a elaboração do material, que foi construído com utilização de uma cortadora a laser e de recursos de eletrônica básica. Dessa forma, pudemos inserir temporariamente sons e imagens dos animais que queríamos trabalhar com os estudantes.  

Criamos o material com uma caixa de som com seis botões, associada a uma lousa, para que as crianças pudessem escrever e desenhar. Em cada um dos botões, gravamos sons de animais. Por conta da tecnologia empregada, podemos alterar o áudio quantas vezes quisermos, tornando o material adaptável ao conteúdo proposto.

+ Aprenda a construir o material com o nosso tutorial

Aprendizagem interativa e divertida

Após a construção e preparação da Lousa interativa, decidimos aplicá-la em sala de aula com os estudantes. Eles foram separados em pequenos grupos para que todos pudessem participar da atividade. Pedimos para as crianças que, quando acionassem um dos botões e ouvissem o som, identificassem o animal e o caracterizassem como doméstico ou silvestre.

O material exigiu atenção dos alunos e instigou a participação de todos. Eles distinguiram os sons dos animais, desenharam na lousa e escreveram o nome de cada espécie animal representada, favorecendo a escrita e a escuta. A atividade estimulou a interação entre os estudantes, despertou muito interesse e mobilizou muito para o aprendizado.

A Lousa interativa consegue ser flexível na proposta da aula e os estudantes gostaram muitoPercebemos que eles ficaram muito encantados e se envolveram bastante, até mesmo os mais tímidos.  

O mais gratificante foi presenciar o espírito de colaboração que eles tiveram um com o outro durante toda a atividade. O MPA enriqueceu o fator lúdico da aprendizagem, favorecendo o acesso de todas e todos ao currículo, de maneira mais prazerosa e eficaz.

Ao redor de mesa escolar, cinco estudantes interagem entre si e observam brinquedo ao lado de pilha de cadernos. Fim da descrição.
Foto: Paulo Fehlauer. Fonte: Instituto Rodrigo Mendes.

Material foi utilizado para outros conteúdos e disciplinas

Notamos que o material tinha potencial para ser utilizado com outras disciplinas e conteúdos e assim aplicamos em aulas de inglês, com a mesma turma. Dessa forma, foi possível trabalhar a pronúncia de palavras. Os estudantes escreviam as frases em inglês na lousa e depois escutavam a pronúncia, e vice-versa. 

Com a utilização do material, as crianças conseguiram melhorar a dicção, o vocabulário e a pronúncia das palavras, comprovando a possibilidade de utilização do material para diversos conteúdos de diferentes componentes curriculares.

Com o sucesso do MPA, resolvemos disponibilizá-lo também para a sala de leitura da escola, para ser utilizada com todos os estudantes em intervenções artísticas, peças de teatro e contação de histórias. 

Para nós, educadores, a experiência com a Lousa interativa foi incrível, pois possibilitou diálogo e o trabalho colaborativo entre diversos educadores. Foi um laboratório para pensarmos a inclusão como um todo, como um eixo transversal de todo o currículo e mobilizou toda a comunidade escolar.

Enquanto é observada pelos colegas de sala, aluna aperta um dos botões da caixa da lousa interativa, que está na mão da professora. Fim da descrição.
Foto: Paulo Fehlauer. Fonte: Instituto Rodrigo Mendes.

Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do Materiais pedagógicos acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes Site externoSite externoem parceria com a Fundação LemannSite externo Site extern. O objetivo é contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.

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