Mapa de evidências: estudos sobre Recursos Educacionais Digitais no Brasil

As tecnologias estão cada vez mais presentes na sala de aula e no currículo escolar. Em meio à ampliação do ensino híbrido ou remoto, torna-se necessário disseminar boas práticas que resultem em ganhos educacionais. Elas podem ser replicadas e servir de inspiração para educadores de todo o país. A produção de conhecimento baseado em evidências é igualmente importante. Ela subsidia ações de docentes e equipes de gestão a partir de exames criteriosos da realidade.

Em artigo publicado anteriormente no DIVERSA, é notável que dois tipos de tecnologia educacional são geralmente destinados ao público estudantil nas escolas brasileiras: Recursos Educacionais Digitais (RED) e recursos de Tecnologia Assistiva (TA). Em sala de aula, o uso desses recursos se tornou recorrente. Não por acaso, nos últimos anos cresceu significativamente o número de estudos acadêmicos sobre o assunto.

O que são Recursos Educacionais Digitais?

Recursos Educacionais Digitais são produtos e serviços que apoiam tanto os processos de ensino e aprendizagem quanto a gestão pedagógica, administrativa e financeira das escolas. Eles incluem Softwares (soluções digitais) e Hardwares (dispositivos físicos). Exemplos de RED são jogos, cursos on-line, plataformas digitais, aplicativos, ferramentas maker, entre outros.

Tecnologias a favor da inclusão

Tendo em vista obter resultados a favor da inclusão escolar, é importante considerar que o uso desses recursos deve ocorrer dentro de um projeto pedagógico participativo, em formatos que levem em conta a diversidade humana e os diferentes ritmos de aprendizagem.

O seu uso serve como meio de atender as necessidades individuais de estudantes em um ensino que é comum, sem deixar ninguém para trás. Sob essa perspectiva, as tecnologias devem estar acessíveis e o seu uso deve beneficiar todas e todos. Esse novo olhar sobre as tecnologias pode se apoiar em duas abordagens pedagógicas: a educomunicação e o Desenho Universal para Aprendizagem.

Saiba mais

+ O uso de tecnologias para educação de todas e todos
+ Desenho universal para aprendizagem – Um guia para o sucesso escolar

A primeira é uma concepção de mediação pedagógica que propõe novas vias de aprendizagem com recursos tecnológicos, ao passo que estimula formas comunicacionais mais igualitárias. Entende-se que o uso de mídias amplia a capacidade de expressão dos estudantes, a exemplo da criação de podcasts, documentários e outras formas de expressão.

 

Dois estudantes estão sentados utilizando um computador para participar de um jogo educativo sobre formas geométricas. Fim da descrição.
Foto: Pedro Noronha. Fonte: Instituto Rodrigo Mendes.

Já o segundo é um modelo prático que visa ampliar as oportunidades de desenvolvimento de cada estudante por meio de planejamento pedagógico contínuo, somado ao uso de mídias digitais. Essa abordagem se baseia na visão de que o desenho dos ambientes e dos produtos pode ser previamente pensado de forma a permitir o uso por parte do maior número possível de pessoas, sem que haja a necessidade de adaptações posteriores.

Portanto, uma atividade de aula realizada on-line pode ser classificada como Recurso Educacional Digital. Ela pode ser mediada e, sob uma perspectiva inclusiva, pode ser acessível e ter como premissa a participação de todos os estudantes.

Estudos acadêmicos sobre RED no Brasil

O Núcleo de Pesquisa e Tecnologias do Instituto Rodrigo Mendes (IRM), em parceria com o Instituto Unibanco, investigou o uso e a oferta de Recursos Educacionais Digitais e recursos de Tecnologia Assistiva no Brasil. A pesquisa “Tecnologias digitais aplicadas à Educação Inclusiva: Fortalecendo o Desenho Universal para Aprendizagem” acompanhou a produção acadêmica sobre esses dois recursos nas últimas décadas.

O estudo identificou e descreveu o universo da produção científica existente sobre os temas. Esse tipo de análise também é conhecido como “mapa de evidências”.

A seguir, confira dados sobre teses e dissertações sobre RED defendidas em instituições de ensino superior brasileiras.

• Os dados indicam que houve um crescimento na produção de estudos sobre RED, principalmente a partir de 2013.
• A maior parte dessa produção se situa na grande área das Ciências Humanas (40%), principalmente na área da Educação.
• Há concentração da produção na região Sudeste do país (43,4%).
• Em relação ao nível de titulação, grande parte desses trabalhos (56% do total) corresponde a dissertações de mestrado.

O gráfico a seguir apresenta a frequência anual não cumulativa de teses e dissertações sobre RED por ano e nível de titulação.

Teses e dissertações sobre RED por ano nível de titulação, 1996 a 2020

[amcharts id=”chart-1″]

Descrição do gráfico: O gráfico em formato de linhas apresenta eixo vertical de quantidade de teses e dissertações sobre Recursos Educacionais Digitais e eixo horizontal de tempo em anos. O eixo vertical tem variações de 0, 20, 40, 60, 80, 100, 120 e 140, números relativos à quantidade absoluta de publicações. Já o eixo horizontal tem variações de cinco em cinco anos, começando em 1995 e terminando em 2020. Na legenda do gráfico, há três itens: linha com círculo verde claro representa dissertações de mestrado; linha com círculo roxo representa teses de doutorado; linha com círculo laranja representa dissertações de mestrado profissionalizante.

As marcações em verde claro apontam que as dissertações de mestrado em Recursos Educacionais Digitais tiveram início em 1997, com uma dissertação. Na sequência: duas em 1999; duas em 2000; três em 2002; cinco em 2003; nove em 2004; doze em 2005; sete em 2006; 13 em 2007; 21 em 2008; 25 em 2009; 24 em 2010; 35 em 2011; 28 em 2012; 59 em 2013; 65 em 2014; 99 em 2015; 90 em 2016; 135 em 2017; 47 em 2018; 33 em 2019; 110 em 2020.

Marcações em roxo apontam que houve uma tese de doutorado em 1996; duas em 2001; duas em 2002; duas em 2003; cinco em 2004; uma em 2005; duas em 2006; três em 2007; sete em 2008; cinco em 2009; sete em 2010; oito em 2011; dez em 2012; 17 em 2013; 24 em 2014; 24 em 2015; 31 em 2016; 39 em 2017; 8 em 2018; 8 em 2019; 22 em 2020.

As marcações em laranja apontam que: houve uma dissertação de mestrado profissionalizante em 2008; quatro em 2009; oito em 2010; oito em 2011; onze em 2012; 22 em 2013; 33 em 2014; 55 em 2015; 58 em 2016; 79 em 2017; 47 em 2018; 8 em 2019; 29 em 2020.

Na horizontal há uma linha tracejada indicando a média de produção de teses e dissertações ao longo dos 24 anos mapeados. O resultado mostra que, na média, foram 26 conteúdos produzidos. Fim da descrição.

Gráfico: Instituto Rodrigo Mendes. Fonte: CAPES, 2021.

O que explica o crescente interesse de pesquisadores em RED?

De modo geral, há um movimento mais amplo de adoção de recursos digitais na educação. Os dados sobre a produção acadêmica são um indicativo disso. Por sua vez, essa tendência está relacionada a uma série de acontecimentos, descritos sumariamente a seguir.

No plano internacional, a década de 2000 abrigou inovações como a popularização da cultura maker e a implementação de Fablabs (laboratórios de fabricação digital). Também naquela década, com o apoio da UNESCO, teve início uma ampla discussão sobre recursos educacionais de código aberto, que são aqueles disponibilizados de forma livre e aberta. Em 2015, a Declaração de Qingdao ressaltou que as tecnologias digitais oferecem oportunidades sem precedentes para reduzir as desigualdades na aprendizagem.

No Brasil, entre 2003 e 2016, foram realizados grandes investimentos educacionais em nível superior e pós-graduação, que permitiram a expansão de universidades e centros de pesquisa, além do fomento à pesquisa. Junto disso, os RED passaram a ser introduzidos nas escolas por meio de programas governamentais.

Entre as ações federais mais destacadas sobre o uso de RED está o Programa de Inovação Educação Conectada (PIEC), lançado em 2017 pelo Ministério da Educação (MEC). Esse programa visa ampliar a infraestrutura de internet das escolas públicas brasileiras, bem como fomentar o uso pedagógico de tecnologias digitais.

O programa dispõe da Plataforma Integrada de Recursos Educacionais Digitais, que reúne material digital nos mais diversos formatos para o uso das educadoras e educadores da educação básica. Além disso, governos estaduais e municipais dispõem de suas próprias soluções digitais para as redes de ensino.

É possível afirmar, portanto, que o movimento de introdução de tecnologias nas salas de aula ocorrido ao longo das últimas décadas foi acompanhado pela realização de estudos acadêmicos.

No contexto de sociedades conectadas, há poucas dúvidas de que projetos bem planejados de digitalização são capazes de promover melhorias na educação. Concretizar esses projetos demanda um compromisso coletivo, cujo foco deve ser orientar essas tecnologias para maximizar os benefícios e reduzir as consequências da desigualdade educacional.

Leia mais

+ Salas de Recursos Multifuncionais: marcos normativos
+ Com uso de tecnologia, educadoras criam jogo para aula de ciências
+ A oferta de tecnologias educacionais inclusivas na educação básica


Karolyne Ferreira é pesquisadora assistente do Instituto Rodrigo Mendes. Bacharel e licenciada em Geografia e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP).

Gustavo Taniguti é pesquisador do Instituto Rodrigo Mendes. Possui mestrado e doutorado em sociologia, realizou estágios de pesquisa nos Estados Unidos e na França e foi professor do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG).

©️ Instituto Rodrigo Mendes. Licença Creative Commons BY-NC-ND 2.5. A cópia, distribuição e transmissão dessa obra são livres, sob as seguintes condições: você deve creditar a obra como autoria de Karolyne Ferreira e Gustavo Taniguti e licenciamento pelo Instituto Rodrigo Mendes e DIVERSA.

Deixe um comentário