“Helinho Come-come” foi criado por educadoras para mudar cenário de má alimentação e melhorar a comunicação de turma da educação infantil
A Escola Municipal Professor Hélio Jorge dos Santos está localizada dentro do Complexo Educacional Professor Francisco Anaruma, no bairro Jardim Novo I, área da periferia de Rio Claro, cidade a 175 km da capital São Paulo. Percebe-se que o bairro está em constante desenvolvimento, pois existem muitas casas prontas e em construção, bem como o comércio local. A maioria dos estudantes mora próximo da escola.
No complexo educacional há quatro escolas que atendem desde a educação infantil até o ensino médio. O prédio escolar é privilegiado pelo amplo espaço físico que possui, enriquecendo o trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças; seja no interior das salas de aula, que são amplas, bem iluminadas e ventiladas, seja no espaço externo, onde podem estar em contato com a natureza e explorá-la a fim de desenvolver habilidades.
Em nosso prédio, há oito classes por período (manhã e tarde), com aulas de educação física e musicalização, além da sala de recursos. As turmas de estudantes são constituídas por até 25 crianças, agrupadas segundo a faixa etária.
Os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação são atendidos com apoio pedagógico da professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) na sala de recursos, que também realiza um trabalho colaborativo em sala de aula comum.
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Identificação do desafio
Em 2022, durante a nossa participação na formação Materiais Pedagógicos Acessíveis, promovida pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM), elaboramos um material a fim de solucionar uma questão desafiadora existente em nossa sala de aula.
A turma escolhida para o desenvolvimento do projeto foi a maternal do período da manhã, com 20 crianças de 3 a 4 anos. Os estudantes tiveram um pouco de dificuldade na adaptação com o início das aulas, pois, com o isolamento social, muitos não frequentaram o berçário e o maternal I da educação infantil e, com isso, todos estavam, pela primeira vez, na escola.
Na nossa escola é servida a merenda, oferecida pela Secretaria Municipal da Educação de Rio Claro. O cardápio é elaborado por nutricionistas e os alimentos são preparados pelas cozinheiras responsáveis.
Ao darmos início à rotina escolar, percebemos que a maioria dos estudantes não estava se alimentando durante o período de permanência na unidade, e isso gerou uma grande preocupação.
Muitas crianças não estavam acostumadas a comer os alimentos da merenda e com o horário estipulado para a refeição. A partir daí, surgiu a ideia de criarmos um projeto de educação alimentar, uma vez que as mães e os pais, observando que seus filhos não estavam comendo na escola, enviavam outros tipos de alimentos para que a criança não ficasse sem comer: salgadinhos, bolacha recheada, suco de saquinho e outras comidas que não são saudáveis, se consumidas em excesso.
O objetivo do projeto era apresentar os ingredientes da merenda aos estudantes e estimular uma alimentação saudável de forma dinâmica, além de estimular a comunicação entre eles e um aumento do vocabulário das crianças. Isso possibilitou momentos de trocas de saberes entre as crianças e as professoras, considerando as diferentes formas de expressão.
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O boneco Helinho Come-come
Como parte da estratégia, desenvolvemos um material pedagógico acessível com o uso da tecnologia. Decidimos criar um boneco em madeira MDF, com silhueta de uma criança, chamado de “Helinho Come-come”, em homenagem ao nome da nossa escola.
Pensando na participação de todos e para que as crianças pudessem ter contato com os itens da merenda, de forma complementar à tecnologia, foram desenvolvidos outros materiais acessíveis: alimentos em feltro (saudáveis e não saudáveis), pratos e panelão em papelão e pequenas caixas com o desenho e o nome das comidas.
Após o término da construção do boneco, partimos para a aplicação em sala de aula, utilizando algumas estratégias.
A primeira foi um momento de aula expositiva e dialógica, na qual a professora fez um levantamento prévio do conhecimento dos estudantes sobre os alimentos trabalhados, utilizando os recursos criados como materiais de apoio.
Em seguida, a turma foi dividida em pequenos grupos (azul, amarelo, laranja, verde e vermelho) com no máximo 5 crianças. Cada equipe recebeu um prato e um pegador de macarrão de uma cor.
Uma criança por vez, de acordo com a divisão feita, foi convidada a escolher um alimento dentro do panelão, utilizar seu pegador para o alimento e levá-lo até o seu prato. Nesse momento de escolha, a professora perguntava a cada criança se ela lembrava o nome do alimento que estava escolhendo.
Por último, realizamos uma dinâmica de apresentação do alimento para o “Helinho Come-come”, o qual foi o momento de maior envolvimento da turma com a atividade. Os estudantes foram convidados a conferirem se o alimento escolhido era ou não saudável. Cada criança pegava um cartão com a imagem do seu alimento e o aproximava da boca do boneco para ouvir o que o Helinho tinha a dizer sobre ele.
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Acessibilidade e o desenvolvimento de cada criança
A implementação da aula, com a utilização do material pedagógico acessível, considerou os princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) desde o princípio. O boneco e os demais itens foram criados de forma a deixá-los atrativos, com cores, facilitando a interação dos estudantes entre si e com o Helinho.
Levando em conta a acessibilidade, não só do boneco, mas dos demais itens em toda dinâmica, algumas ações foram tomadas:
- Em um dos pegadores havia um pedaço de velcro para possibilitar que as crianças que ainda não fazem o movimento de pinça pudessem pegar o alimento;
- Os cartões tinham uma espessura que possibilitou às crianças manuseá-los com mais facilidade;
- Os profissionais tiveram a sensibilidade para analisar as diversas expressões das crianças que ainda não desenvolveram a oralidade, ajudando-as na comunicação.
Equipe engajada para a inclusão
A unidade escolar apoiou todo o projeto que foi ofertado e desenvolvido pelas professoras. A articulação entre gestão, professora do AEE e professora da sala comum ocorreu de forma muito leve.
Juntas compreenderam a dificuldade da turma do maternal para além da comunicação verbal, algo normal para idade e por não terem frequentado a escola anteriormente: a de se alimentar com a merenda escolar.
Foi muito significativo ter toda a equipe escolar envolvida durante o desenvolvimento do projeto até chegar ao produto final. Tivemos a participação das monitoras, que confeccionaram o panelão, os pratos coloridos, e de uma professora de outra turma, que fez o mamão em feltro.
A formação Materiais Pedagógicos Acessíveis nos mostrou inúmeras possibilidades ao reunir educadores de diversas regiões do Brasil para pensar a educação e a inclusão.
O contato com realidades diferentes da nossa fez com que ampliássemos o olhar, de modo a pensarmos a inclusão por variados pontos de vista, isto é: nem sempre as escolas terão os mesmos recursos e, ainda assim, a inclusão deve ocorrer independentemente de ações de órgãos superiores. Devemos cobrar e agir, dentro de nossas possibilidades, buscando sempre uma educação de qualidade para todas e todos.
Alimentação saudável em toda a escola
Esse projeto nos possibilitou fortalecer a união, o acolhimento e o trabalho em equipe entre os membros da escola e as famílias.
A participação da comunidade é fundamental na construção de uma educação democrática, e a escola deve se transformar em um espaço público, onde haja abertura para o diálogo.
Na turma com a qual desenvolvemos o projeto, há um estudante com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e foi muito positivo notar sua participação nas atividades propostas. Além disso, em relação a todos os estudantes, o projeto contribuiu com as habilidades de comunicação, o saber ouvir, esperar sua vez, a psicomotricidade, a associação e a interação entre todos da sala de aula.
Acreditamos que esse trabalho nos ajudou a ampliar nossas percepções sobre o aprendizado de cada criança, pois tivemos ricas trocas de experiência durante a formação. Daremos continuidade ao projeto, com o objetivo de proporcionar uma alimentação saudável a todas as crianças da unidade. Usaremos diferentes métodos para trabalhar, de forma lúdica e prazerosa, a importância de se alimentar adequadamente. Uma das estratégias é ter contato com a horta da escola, que foi retomada após o retorno presencial.
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Este relato de experiência é fruto da participação das autoras na edição 2022 do Materiais Pedagógicos Acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns.
A edição de 2022 do projeto foi realizada pelo Instituto Rodrigo Mendes e o MudaLab, com parceria do Instituto Ambikira e Instituto Far, com objetivo de contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.