A utilização de recursos digitais nas escolas se tornou parte da realidade educacional. Em diversos países, há anos ocorre a modernização dos sistemas escolares com o auxílio de novas tecnologias. Em muitos casos, ela assume forma por meio de programas governamentais.
No Brasil, a Estratégia Brasileira para a Transformação Digital já havia explicitado, em 2018, o interesse do Estado nesse assunto. Hoje, a adoção do ensino remoto ou híbrido reforça a necessidade de reflexões direcionadas para a construção de experiências inclusivas.
Conforme destacado em artigo publicado anteriormente no DIVERSA, a prática de ensino à distância com o uso de tecnologias revelou experiências positivas. Elas favorecem a comunicação e a interação entre professores e estudantes, possibilitam a flexibilidade e a personalização do ensino e estimulam o aprendizado de cada estudante de acordo com seu próprio ritmo.
No campo educacional, duas soluções são geralmente destinadas ao público estudantil: Recursos Educacionais Digitais (REDs) e recursos de Tecnologia Assistiva (TA).
Os Recursos Educacionais Digitais são produtos e serviços que apoiam tanto os processos de ensino e aprendizagem como a gestão pedagógica das escolas. De uso abrangente, eles facilitam as atividades de docentes, estudantes e gestores e são disponibilizados sem dependência externa. Também são replicáveis e autocontidos, isto é, podem ser reproduzidos sem dependências externas.
Segundo classificação produzida pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), os REDs podem ser divididos em dois tipos principais: Softwares e Hardwares, que, por sua vez, podem ainda ser classificados em 20 grupos.
Recursos digitais inclusivos
Há, atualmente, recursos educacionais digitais que desde a sua concepção consideram a diversidade humana e respeitam a singularidade de cada usuário. Sua adoção nas escolas pode projetar cenários inclusivos para estudantes público-alvo da Educação Especial (pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação).
O Clusive é um exemplo atual. Trata-se de uma ferramenta de leitura adaptativa, fundamentada em princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e desenvolvida pelo Centro de Software Inclusivo para Aprendizagem (CISL).
Já a Tecnologia Assistiva é definida na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de 2015, enquanto: “produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”.
A utilização de Tecnologia Assistiva pode promover a autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão do usuário.
Como se trata de uma solução específica para a particularidade da pessoa, recomenda-se usar o termo no singular. Segundo a publicação “Introdução à tecnologia assistiva”, de Rita Bersch, para nomear um conjunto de ferramentas ou equipamentos utiliza-se o termo “recursos de tecnologia assistiva”. Os recursos de TA são bastante amplos, podendo variar de objetos analógicos simples a dispositivos de alta complexidade (bengala, cadeira de rodas, sistema braile, próteses, recursos de acessibilidade em computadores, tablets e celulares).
No contexto escolar, os recursos de TA são compostos por um conjunto de ferramentas ou equipamentos que garantem a participação da aluna ou do aluno no processo de ensino e aprendizagem. Sobretudo, o uso desses recursos nas escolas deve ocorrer dentro de um projeto pedagógico participativo.
Conforme destacou o relatório Digital Education Outlook da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2021, as fronteiras da educação digital trazem oportunidades e desafios, dos quais destaca-se a necessidade de consolidar formatos de aprendizagem que contemplem a diversidade humana.
Sob essa perspectiva, o Núcleo de Pesquisa e Tecnologias do Instituto Rodrigo Mendes atualmente desenvolve pesquisas sobre a utilização de REDs e recursos de TA em escolas. Uma delas é intitulada “Tecnologias digitais aplicadas à Educação Inclusiva: Fortalecendo o Desenho Universal para Aprendizagem”, realizada em parceria com o Instituto Unibanco, com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2021. Sua finalidade é oferecer um retrato global e atual das tecnologias educacionais digitais que têm potencial para favorecer a inclusão escolar de todos os estudantes.
Leia mais
+ Mapa de evidências: estudos sobre Recursos Educacionais Digitais no Brasil
Gustavo Taniguti é pesquisador do Instituto Rodrigo Mendes. Possui mestrado e doutorado em sociologia, realizou estágios de pesquisa nos Estados Unidos e na França e foi professor do Instituto Federal de Minas Gerais.
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A Tecnologia já faz parte da realidade do nosso sistema educacional. Contribuem efetivamente nos
processos de ensino e aprendizagem, bem como na gestão pedagógica das escolas.
Atualmente ,alguns recursos digitais consideram a diversidade e respeitam a singularidade de cada estudante.
Partindo da premissa que toda esta Tecnologia promove autonomia, independência e INCLUSÃO dos estudantes, temos que ressaltar a importância dos mesmos em favorecer a inclusão escolar de todos..