Em 18 de maio foi comemorado o Dia Internacional dos Museus, data criada em 1977 pelo Conselho Internacional de Museus (Icom). Segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o Brasil conta com mais de 3,8 mil museus espalhados por todo o território nacional. Por isso, surge como pauta a função educativa e social desses espaços, mesmo sendo considerados parte da educação informal.
Levando em conta o planejamento de estratégias pedagógicas que abrangem as dimensões intelectual, física, afetiva, social e cultural, as visitas aos museus podem contribuir para a formação integral de estudantes, como cita Lígia Helena Zamaro, assistente de Educação para Acessibilidade na Gerência de Educação para Sustentabilidade e Cidadania do Sesc São Paulo:
“O acesso à cultura é essencial para estimular o senso crítico, o desenvolvimento social e interpessoal e a possibilidade de expressão e comunicação, e ajuda a construir um sentido de pertencimento da pessoa em relação a seu tempo, seu território e a sociedade.”
Pensando além da habilidade EF03HI05 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que entra em consonância com a fala de Lígia ao citar a identificação de marcos históricos do lugar em que se vive e compreender seus significados, é possível estruturar propostas educativas para professores e estudantes de todas as etapas de escolarização: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e ensino superior.
O currículo fortalece a importância das mais diversas manifestações artísticas e culturais de acordo com a Competência 3 – Repertório Cultural, das áreas de Linguagens e Ciências Humanas, contudo, é necessário intencionalidade.
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A intencionalidade do acesso à cultura no ensino
Em uma publicação do International Committee for Education and Cultural Action (Comitê Internacional de Educação e Ação Cultural, em português) os autores Marie-Clarté O’Neill e Colette Dufresne-Tassé afirmam que os museus podem cumprir seu papel no desenvolvimento e desempenho das pessoas em dois modos: com programas educacionais e com programas culturais.
Em ambos os casos, havendo um objetivo com o qual a visita é feita, é possível realizar ações educativas que podem ou não ser relacionadas à uma disciplina escolar, como discorre a educadora responsável pelo projeto de acessibilidade do Museu do Ipiranga, em São Paulo (SP), Denise Peixoto. Ela afirma que deve haver uma aproximação prévia dos educadores com o espaço cultural, bem como o apoio às atividades que podem ser desenvolvidas a partir das exposições:
“Percebemos que esse encontro dos dois universos, da educação e da cultura, tem aquilo que foi construído dentro das intencionalidades do professor. A visita ao museu tem que ter intencionalidade se a gente quer chamar de educativa.”
Para Denise, estar no museu é muito mais do que conhecer um lugar diferente da sala de aula: deve ser um momento de perceber as diferentes formas de aprendizagem e de se relacionar com o conhecimento, de aguçar os sentidos e estimular o diálogo. Dessa forma, a experiência cultural como um todo deve ser participativa e com significado.
Renato Frosch, mestre em educação e idealizador do Santos às Cegas, concorda que deve haver clareza no andamento dos projetos e, para isso, um dos caminhos é olhar para as práticas existentes e adaptá-las de acordo com a realidade de cada turma e do entorno:
“Em quantos conteúdos a gente olha para a cidade? E para o patrimônio histórico do bairro? É nesse sentido que a gente pode entender aquele monumento: para quem, a serviço de quem, por que ele existe? Mais do que adicionar mais um item, é necessário adaptar os itens existentes tendo um olhar um pouco mais atento para a cidade. As experiências culturais são muito promissoras.”
O Santos às Cegas, que inicialmente tinha a intenção de levar pessoas com deficiência visual a pontos turísticos da cidade e, por lá, apresentar miniaturas impressas em 3D dos monumentos, possibilitou que Renato percebesse a importância do participar com autonomia, por meio de uma experiência imersiva e acessível.
A iniciativa agora atende um público abrangente, de pessoas com e sem deficiência, com destaque à participação de estudantes universitários interessados em acessibilidade e inclusão, e recebe apoio da Coordenadoria de Defesa de Políticas para Pessoa com Deficiência (CODEP), atuante nas políticas públicas da pessoa com deficiência em Santos.
Recursos imersivos e acessíveis
Falando em imersão, Denise conta que, quando iniciou seu trabalho no museu, trouxe uma bagagem de apresentar os itens táteis como outra forma de percepção e apreensão dos conteúdos que vai além do objeto como recurso de acessibilidade.
“O objeto entra em uma lógica de compartilhamento de saber. Ao mesmo tempo em que uma pessoa vidente está explorando de forma tátil, tentando perceber a materialidade, a pessoa cega tem esse componente agregado de também permitir a construção de uma imagem mental, mais próxima do que só uma descrição da escultura.”
Segundo informações do conteúdo para professores “Por onde começar?”, disponibilizado gratuita e digitalmente no site do Museu do Ipiranga, o local é dedicado à disciplina de história e desenvolve seus trabalhos a partir da cultura material produzida pela sociedade brasileira, especialmente a de São Paulo, entre os séculos 1900 e 2000.
Dessa forma, a educadora destaca que pensar a cultura por meio dos objetos e trazer isso aos estudantes fez com que o museu também conseguisse se aproximar de diferentes perfis de público, concretizando a inclusão de fato e permitindo experiências mais espontâneas onde, ao tocar no objeto, uma pessoa sem deficiência também potencializa essa troca. Por isso, ao destacar a participação do público com deficiência, além da acessibilidade arquitetônica, a diversidade intrínseca em cada indivíduo também deve ser considerada.
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Cultura é para todos
Para Renato, é fundamental o acesso de estudantes de escolas públicas a programas culturais e muitos deles conseguem atender os currículos das escolas de forma interdisciplinar, contanto que haja uma verdadeira inserção dos atores envolvidos.
Recentemente o Museu do Ipiranga recebeu o Selo de Acessibilidade Arquitetônica da prefeitura de São Paulo, o que Denise aponta como uma oportunidade de visibilidade para o trabalho que vem sendo realizado no local, embora ache que apenas falar dos recursos de acessibilidade não é suficiente:
“A gente quer oferecer um espaço de descoberta para todos e qualificar ainda mais a experiência para aprimorar essa aproximação. Nós ouvimos grupos diversos e, dentro de um universo reduzido e de determinadas condições, tem uma positividade daquilo que foi feito, tem um “puxa, que legal, foi feito pra mim!”
Outro exemplo de atividades educativas para todos vem do Sesc SP, onde toda a programação artística, esportiva, socioambiental e de lazer incentiva a participação e a convivência plena das pessoas com e sem deficiência e pode ser acessada por estudantes e educadores. Assim como no Museu do Ipiranga, o Sesc oferece materiais de mediação e educadores para apoiar a visita e as experiências dos visitantes.
Lígia Helena, do Sesc, conta ainda que são realizadas atividades educativas de conscientização sobre educação inclusiva, acessibilidade atitudinal, combate ao capacitismo, entre outras, todas abertas à comunidade.
“O direito a experimentar as dimensões da cultura atravessa também as pessoas com deficiência em seu processo educativo, tornando-as parte das mudanças culturais necessárias a uma sociedade mais plural e equânime.”
Serviço
Para mais informações sobre as programações e meios de acesso, entre em contato com as unidades do Sesc no Estado de São Paulo: https://www.sescsp.org.br.
Sobre o projeto Santos às Cegas, o contato deve ser feito pelo e-mail: santosascegas@gmail.com.
Para mais informações sobre as visitas educativas no Museu do Ipiranga, entre em contato pelo e-mail: serveduc@usp.br.