Metodologias ativas contribuem para a participação de todos

Em educação muito se fala em aprendizagem: como aprender determinado conteúdo, como aprender mais rápido e melhor, mas pouco se fala sobre como ensinar, como olhar para a “ensinagem” como o real combustível da educação.

As escolas tradicionais estão perdendo espaço para as escolas chamadas de inovadoras, essas que têm como base um olhar mais respeitoso sobre o estudante, escuta ativa, valoriza os saberes e traz para a conversa habilidades e interesses de cada envolvido no processo de ensino-aprendizagem.

O estudante passa a ser o centro da aprendizagem, e o educador um mediador, corresponsável no processo, para que este estudante tenha a possibilidade de transformar informações em conhecimento.

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O professor que adota essa concepção de aprendizagem passa a ser corresponsável pelo aprendizado do aluno, que é o principal responsável por esse processo. A adoção da visão interacionista implica que o professor entende a aula como um espaço no qual a voz do aluno deve ser ouvida para que ele possa constituir-se como sujeito da sua aprendizagem. Isso conduz o aluno à formação de uma consciência crítica, que o professor precisa fomentar, como aponta Oliveira (2010, p. 29).

Enquanto a maioria das escolas baseiam a aprendizagem através do “QUE” precisa ser transmitido, as escolas que utilizam metodologias ativas se preocupam muito mais com o “COMO”. E essa diferença fica evidente na sala de aula. O aluno é instigado a observar, vivenciar e se encantar com um assunto novo, já que ele se sente parte do processo.

Como trabalhar as metodologias ativas

As metodologias ativas surgem em resposta à metodologia tradicional, que, além de não considerar o estudante como parte do processo do seu próprio desenvolvimento, estando apenas de forma passiva em sala de aula, é excludente, já que não valoriza os saberes plurais.

Quanto menos recursos e estratégias usados em sala de aula, menos o educador terá sucesso em atingir o seu objetivo, isto é, contribuir para o desenvolvimento e aculturamento dos seus estudantes.

Já as metodologias ativas trazem algumas formas de “ensinagem” diferentes e abordam o mesmo conteúdo por meio de experiências, vivências ou projetos.

Existem várias formas de trabalhar metodologias ativas em sala de aula, como: o levantamento de hipóteses, as perguntas que contribuem para uma discussão entre os estudantes, aulas invertidas, atividades em grupo e outras formas de transformar as atividades em um momento de interação e aprendizagem, trazendo questões e olhares que uma aula apenas expositiva não traria. As trocas são fundamentais para que os estudantes possam se sentir valorizados e tenham a chance de aprenderem uns com os outros (Vygotsky).

Discípulo de Vygotsky, Reuven Feuerstein reforça a importância do mediador. Segundo ele, a mediação do educador e da família do estudante contribui de forma mais efetiva para a aprendizagem, já que o mediador filtra, organiza, nomeia e dá significado à interação da criança com os estímulos do mundo.

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Mas usar metodologias ativas garantem a inclusão de estudantes com deficiência ou distúrbios de aprendizagem? A resposta é não!

Embora as metodologias ativas por si só sejam mais inclusivas, uma vez que valorizam as especificidades do estudante e seus saberes, é fundamental que haja suporte e mediação.

Feuerstein também explica o cérebro humano ser modificável, portanto, poder sempre aprender. O fato de uma criança não aprender determinada matéria, em determinado momento, não significa que ela não seja capaz de compreender em outro momento. O autor afirma que muitas vezes é o método que é falho e não garante a compreensão do tema discutido. Ele sugere o uso de métodos diversos para uma aprendizagem igualmente diversa.

Planejamento pedagógico

Leve como exemplo uma criança com deficiência intelectual, com limitações em levantamento de hipóteses; ela necessita de alguém que estimule seu olhar à observação. Com repertório muitas vezes escasso, o estudante não conecta aquilo que está observando com o que já possui na memória e em suas experiências anteriores.

Por isso, ao invés de o educador ou familiar (mediador) dizer apenas “observe este objeto e me diga o que você vê”, ele precisa fazer perguntas mais direcionadas, como: “isso que você está vendo se parece com o que?”, “ se parece com uma fruta ou um animal?”, “qual a cor?”, “é grande ou pequeno?”, “em a forma de…”. O uso de comparativos, com repertório já conhecido pelo aluno, também contribui na observação mais ativa, no levantamento de hipóteses e deduções.

A mediação, ao invés de frustrar a criança, contribui ativamente e efetivamente para que a criança ou jovem se sinta parte e tenha a chance de dar respostas e chegar às conclusões. Os estudantes se sentem seguros em tentar, já que terão apoio.

Além disso, o educador precisa conhecer seus estudantes previamente, compreender o contexto em que vivem, conhecer suas famílias, dialogar e usar esse conhecimento prévio nos momentos de troca em sala de aula. 

Se o educador sabe que o estudante tem interesse em esportes, pode usar o tema que está sendo discutido e usar algo relacionado ao esporte para despertar o interesse desse e de outros estudantes que podem precisar de um suporte na construção do pensamento.

Pensando nisso, confira uma sugestão de planejamento de aula:

  • Conhecer bem o estudante, seus interesses e habilidades; 
  • Planejar a aula contemplando os saberes diversos que ali se encontram; 
  • Estimular a participação de todos os estudantes para que se sintam realmente pertencentes;  
  • Instigar o interesse e encantar o estudante; 
  • Buscar alternativas criativas para uma aula ativa.

Toda essa construção prévia é fundamental para uma aula participava e inclusiva. Assim, é possível desenvolver habilidades de observação, para a organização dos pensamentos e trocas, uma vez que o aprendizado acontece quando existe significado, entre os estímulos e as vivências do estudante.

A grande maioria das crianças com deficiência são conduzidas e presas a uma forma rígida de sistematização e registros. Por isso a possibilidade de encantar crianças e jovens com deficiência permite que suas experiências pedagógicas e socioemocionais sejam vividas pelo coração, pela alma e não por uma experiência fria, mecânica e desinteressante.

Estudantes com deficiência precisam ser vistos como pessoas que aprendem e têm o direito de conviver em escolas regulares, com todos os recursos necessários para sua efetiva participação.


Vivi Paiva Reis é educadora, designer, mãe do João Pedro e Clarinha, que nasceu com T21, autora do livro “Quem nasceu? Minha filha ou o diagnóstico?” e fundadora do Inclusivamente.

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