Tendo como principal marca a velocidade das mudanças, o século XXI coloca a escola diante de um grande desafio: repensar a forma de ensinar e de se relacionar com os estudantes. O mundo está globalizado, passando pela afirmação das diferenças e por uma mudança de paradigma com o avanço da tecnologia, que impactou as relações sociais, a forma de convivência, o pensamento e a comunicação e, por isso, impõe novas formas de agir.
Historicamente, as escolas foram pensadas e desenhadas para um pequeno grupo de privilegiados social, econômica, política e culturalmente. A entrada nos espaços acadêmicos era marcada por mérito ou por condição social. Quem frequentava a escola era a elite econômica ou a elite cultural. Muitas das crianças estavam fora da escola, que não era um espaço democrático, onde todos os cidadãos tinham o direito de estar.
Atualmente, a escola como um espaço público e democrático precisa acolher as diferenças. É certo que, no espaço escolar, há uma diversidade enorme de pessoas, não apenas falando do grupo social constituído pelas pessoas com deficiência, mas de todos os indivíduos e grupos que – por razões distintas – ocupam uma posição de vulnerabilidade social ou em posição de preconceito e discriminação.
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Estratégias pedagógicas com base na BNCC
Há muitas leis que tratam de direitos específicos e de como devem ser conduzidas as ações em torno da diversidade. As desvantagens vividas por membros dos grupos que se encaixam na esfera do termo diversidade são infinitas e impossíveis de serem mapeadas, porque elas acontecem no dia a dia, em alguns segundos, e somente são percebidas ou seus efeitos sentidos por aqueles que as vivem.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento normativo que vai orientar a elaboração dos novos currículos escolares, fez questão de destacar a necessidade de a escola contribuir para aplacar toda discriminação e preconceito, dialogar com a multiculturalidade.
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A convivência e o respeito à diversidade devem ser dimensões fundamentais de uma escola acolhedora. Nesse sentido, a BNCC não é só o alicerce para os futuros profissionais, é, também, um elemento essencial para os seres humanos e cidadãos formados nas escolas.
Na hora de construir o currículo, todo o Brasil deve se adequar às matrizes da BNCC e ao que ela propõe. Esse é um grande momento de mudança. As escolas devem aproveitar essa oportunidade, uma vez que deverão rever seus projetos pedagógicos em função da base.
A defesa dos direitos humanos transpassa qualquer posicionamento político ou ideológico. Por isso, são fundamentais o diálogo e o entendimento em torno da BNCC, com o resgate de valores essenciais para a educação, como o integral respeito aos direitos de cada um no processo de formação de crianças e jovens.
Formação continuada
Atentas a isso, as escolas devem desenhar programas de formação continuada para os professores e gestores, além de dialogar com alunas, alunos e familiares. Combater o bullying, cyberbulling, aprender a conviver, são premissas essenciais de qualquer convivência humana, uma vez que os preconceitos emergem, muitas vezes, por causa do medo e da inabilidade de lidar com o diferente.
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O mais difícil é fazer com que o professor veja necessidade em seguir novos rumos, desconstruir práticas e abrir mão de suas convicções. A maior barreira para a mudança na educação está na mudança de mentalidade.
Incluir verdadeiramente estudantes público-alvo da educação especial, por exemplo, requer conhecimento sobre práticas diferenciadas. Adequações curriculares, flexibilização dos tempos e espaços escolares. Trabalhos colaborativos, em grupo, são boas estratégias para garantir a participação de todos. São muitas as possibilidades, mas é preciso superar as barreiras.
Para isso, nos programas de formação é necessário também cuidar do professor. Atuar na dimensão cognitiva, com aporte teórico, mas também de sua dimensão afetiva, emocional relacional e física. O professor hoje é marcado por muitas pressões. Faz-se necessário montar programas de formação que abarquem as várias dimensões, tendo assim uma visão do ser humano integral. É preciso CUIDAR de quem cuida.
Por isso, o caminho para se construir o respeito e atacar o preconceito não consiste em desconstruir identidades e anular os indivíduos em sua própria natureza, e sim aceitá-los e aprender a conviver com as singularidades. Respeitar as diferenças, sejam elas quais forem, é um papel de todos!
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Priscila Boy é especialista em BNCC, currículo e Reforma do Novo Ensino Médio. É membro do GEINE, grupo de educação inclusiva da UFMG. Lançou o livro “Inquietações e desafios da escola – Inclusão, violência, aprendizagem e carreira docente”.
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