A inclusão escolar de pessoas com síndrome de down

Anualmente, no dia 21 de março é comemorado o Dia Internacional da Síndrome de Down. O principal objetivo da data é conscientizar a população sobre a importância da inclusão e de iniciativas para aumentar a visibilidade social das pessoas com a síndrome.

A participação plena dessa população na vida escolar, profissional e social aumenta sua possibilidade de desenvolvimento, além de reforçar para a sociedade a necessidade de respeito às diferenças e à diversidade, quaisquer que sejam. 

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Aprendizagem da criança com síndrome de down

A síndrome de down, ou trissomia do cromossomo 21 (T21), como também é conhecida, é a alteração cromossômica mais frequentemente observada em recém-nascidos, tendo uma incidência de 1 em cada 660 nascidos vivos. Está associada a uma gama de fenótipos e alterações neurofisiológicas. 

Dos resultados apresentados na tese de doutorado “A aprendizagem da criança com síndrome de down no cotidiano da escola regular”, observa-se possíveis dificuldades e facilidades em situações de aprendizagem vivenciadas no cotidiano escolar da criança com T21 no ensino fundamental e sugestões de várias ações pedagógicas.

São achados que demostram e confirmam barreiras à aprendizagem dessas crianças, como as condições educacionais, as práticas pedagógicas adotadas especificamente a elas, além de aspectos da dimensão afetivo-social, gerando dificuldades interrelacionais.

Com base nesses achados e em outras questões presentes no livro decorrente da tese, publicado pela Wak Editora, existem algumas sugestões de estimulação sensório-motora de base e abordagem pedagógica para esse público-alvo.

Possibilidades de estimulação para bebês com T21

Inicialmente, é recomendado o estímulo de práticas motoras no cotidiano dessas crianças por meio de diferentes vivências corporais, propiciando, assim, novas experiências. Nos primeiros meses de vida, é importante incentivar a variabilidade de posturas e posições que favoreçam as conquistas motoras de base. 

No âmbito pedagógico, é possível proporcionar estimulações para um desenvolvimento integral: cognitivo, socioafetivo e motor. Podem ser realizadas atividades lúdicas com a implementação de brinquedos e equipamentos apropriados à faixa de idade da criança. 

A seguir, algumas sugestões de atividades físicas para desenvolvimento integral: arrastar no chão por baixo de cadeira; passar por cima de uma corda esticada; rolar no chão; puxar e empurrar brinquedos; arremessar bola com as duas mãos; chutar bola; brincar de estátua; andar em linha reta; correr e parar ao sinal de pare; subir e descer escada com apoio e avançando o mesmo pé; andar para trás puxando um carrinho; pular com os dois pés; tentar ficar em um pé só e andar entre obstáculos. 

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Sugestões para um ambiente escolar inclusivo 

Para crianças com T21 e outros tipos de deficiência, é imprescindível não avaliar precocemente o estudante a partir do diagnóstico, mas sim valorizar seus conhecimentos prévios e suas interpretações sobre os conteúdos desenvolvidos. Destaca-se compreender as especificidades de cada um. 

Além disso, não apenas para pessoas com deficiência como para todos os estudantes, oferecer vários tipos de avaliação (escrita, discursiva, em desenhos ou ainda teatralizadas) permite que o estudante manifeste o conhecimento desenvolvido da maneira que melhor consegue expressar. 

10 dicas de interações pedagógicas inclusivas

  1. Dirigir-se pontualmente às crianças, no mesmo plano visual, pois isso favorece a comunicação e a aprendizagem. Dessa forma, priorizar a colocação da criança em carteiras posicionadas na frente da sala, próximas da lousa e do professor, favorecendo melhor visualização e uma escuta mais apurada das orientações dadas. Isso propicia também um acompanhamento mais próximo do professor em relação às demandas das crianças.
  2. Fomentar o respeito dos colegas da turma nas demandas e particularidades apresentadas pelas crianças com deficiência. Essa atitude contribui para a formação de cidadãos responsáveis, solidários e respeitosos com as diferenças de todos os indivíduos.
  3. Estimular atividades motoras e sensoriais, em grupo, para potencializar a atividade intelectual e social. Atividades desenvolvidas no gira/gira, escorregador, balança, escalada, tanque de areia ou grãos.
  4. A imitação intelectual consciente da criança também é caminho para promover o desenvolvimento cognitivo. Brincadeiras com jogos de imitação são positivas para esse fim.
  5. Incentivar a criança a expressar seu pensamento em sala, respeitando os seus limites.
  6. Não limitar o tempo para criança realizar a leitura e a explicação de um texto ou tarefa, permitindo que ela expresse o que aprendeu em seu ritmo próprio.
  7. Reforçar a necessidade de a criança cumprir as tarefas e em participar da atividade proposta, de forma gentil, procurando olhar diretamente em seus olhos, e perguntando o que ela necessita e como é possível ajudá-la.
  8. Estimular a independência funcional e incentivar a autonomia nos momentos de interação fora do horário de aula.
  9. Pesquisar e preparar material pedagógico diferenciado, sem descontextualizar do conteúdo curricular e das atividades realizadas pelos pares.
  10. Promover práticas cotidianas que permitam que as crianças fiquem mais tranquilas e concentradas nas atividades pedagógicas, como relaxamento, meditação, planejamento do dia e acordos prévios.

Referências

ALVES, Fátima. Para Entender Síndrome de Down. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. 

AMARAL, Lilian Pinto; Nista-Piccolo, Vilma Lení. “Aprendizagem para criança com Síndrome de Down: desafios do cotidiano escolar”. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2019. 

FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade e Neuropsicologia. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012.


Lilian Pinto Amaral é fisioterapeuta, mestre e doutora em educação e especialista em tratamento neuroevolutivo.  

Vilma Lení Nista-Piccolo é licenciada em educação física, bacharel em fisioterapia, mestre em educação e doutora em psicologia educacional. 

Este artigo é de responsabilidade das autoras e não representa, necessariamente, a opinião do Instituto Rodrigo Mendes 

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