Educação como caminho para uma sociedade inclusiva

No Dia Nacional dos Direitos Humanos, especialista fala da importância da educação para uma sociedade cada vez mais inclusiva

Quando olhamos para a história da humanidade e para o seu desenvolvimento, percebemos o encontro da espécie humana com dilemas, conflitos, realizações, conquistas que nos levam a fazer uma pergunta, principalmente devido à pandemia de covid-19: somos seres mais inclusivos ou excludentes?

Esse binômio, inclusão versus exclusão, precisa ser debatido na atualidade com educadores, pesquisadores, estudantes, famílias, gestores e políticos, visto que a educação, em uma perspectiva inclusiva, ultrapassa qualquer processo de escolarização e está atrelada ao viver em sociedade.

Pesquisadores no seu fazer conceituam que, quando enfatizamos a necessidade de incluir, há o reconhecimento de situações de exclusão, como já foi também expresso por Mônica Pereira dos Santos, doutora em Psicologia pela Universidade de Londres, no livro “Inclusão em educação: culturas, políticas e práticas” (Cortez Editora).

Analisar e identificar as ambiguidades e complexidades entre as expressões “inclusão” e “exclusão” significa dizer que esses termos devem romper as fronteiras acadêmicas e as ações isoladas defensoras dos processos inclusivos para pessoas com deficiência.

Apesar de sua potência nas políticas públicas, nas propostas curriculares, nos espaços de convivência social, essas nuances devem ser superadas e ressignificadas por se referir a pessoas. Até porque inclusão é envolvimento, é interação, é participação plena das decisões desenvolvidas em qualquer espaço social, desde a nossa convivência familiar até as escolhas feitas por nós em ambientes nos quais estamos inseridos.

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Desafios práticos para a inclusão

Para além da complexidade e ambiguidade das expressões citadas acima, falar sobre o tema é algo dialético e subjetivo. Às vezes nos deparamos com situações contribuidoras para eliminar qualquer barreira prejudicial à interação de sujeitos, propiciando inclusão. Ou, então, vimos sutilmente (e até demasiadamente) acontecimentos intensificadores da exclusão.

Nesse sentido, dois exemplos exprimem um pouco desses incidentes. O primeiro caso foi em uma palestra com discentes que atuam especificamente com estudantes público-alvo da educação especial. No término da explanação de ideias, ao falar do quanto o lúdico propicia inclusão no espaço escolar, uma professora expôs a sua opinião, dizendo: “pessoas portadoras de deficiência devem ter um espaço para elas. O tempo de aprender é diferente, e nós nunca fomos preparamos para lidar com essas crianças especiais”.

O segundo caso é de um estudante com deficiência do curso de pedagogia, ao tentar ingressar em uma escola de educação infantil para realização de estágio, ouviu da coordenadora: “como você é um ser especial, já pensou em fazer estágio em espaços especiais? Lá você pode conseguir. Aqui não dá, as famílias ainda têm muito preconceito”.

É importante elucidar que portamos a chave de um carro, um livro, um celular, mas as pessoas com deficiência não portam uma deficiência, pois em nenhum momento da vida vão conseguir abandonar ou alterar a sua deficiência. Se desejamos ser mais inclusivos, precisamos reconhecer falas e expressões nada colaborativas para a inclusão. O correto é dizer, escrever, mencionar “pessoa com deficiência”.

O argumento de que pessoas com deficiência são especiais, ou que possuem necessidades especiais, até o presente momento, é empregado em algumas políticas públicas e artigos científicos. Mas, diante do nosso olhar, afirmamos que qualquer indivíduo é especial e necessidade todos nós temos em algum momento.

A própria Lei Brasileira de Inclusão (LBI) destaca que a valorização da pessoa como indivíduo deve estar acima de tudo, independentemente das características físicas, sensoriais, intelectuais, visuais e auditivas.

Se incluir é um processo diário, reconheçamos as expressões excludentes, rotuladoras, discriminatórias para, assim, construir uma cultura mais inclusiva, e a linguagem é um caminho.

Educação transformadora

Lidar com dificuldades de aprendizagem é um desafio a ser trabalhado e, atrelado a isso, é necessário transformar certas crenças ultrapassadas ou preconceitos. Educadores e gestores devem criar práticas inclusivas e transformadoras em sala de aula.

O comportamento dos estudantes é resultado do contexto onde estão imersos, principalmente na reprodução da vida cotidiana e familiar, ou até mesmo por não saberem lidar com os seus medos e frustações. Por isso, a ideia é que professoras e professores contem histórias, brinquem, criem um espaço em que todas e todos se sintam acolhidos, seguros e confiantes para, assim, reelaborarem suas histórias e construírem um mundo melhor para todas e todos.

Viver a intensidade da vida, não importando o espaço ocupado, significa reconhecer as inclusões e exclusões que fazem parte da identidade humana.

Se incluir é um processo, valorizemos cada atitude, expressão e conquista como elo para quebrar ações excludentes, sobretudo aquelas bem sutis as quais jamais pensamos. Logo, a educação transforma humanos, e nesse caminhar devemos estar sempre prontos para nos modificar, criar, brincar e imaginar.

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Jonathan Aguiar é doutor e mestre em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador científico do Laboratório de Pesquisa, Estudos e Apoio à Participação e à Diversidade em Educação (LaPEADE) da UFRJ. 

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