O que é Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)?

Dia 13 de julho é marcado como o Dia Mundial de Conscientização do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o intuito de promover uma reflexão sobre o transtorno em si e as consequências que pode causar a crianças, adolescentes e adultos. 

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade está classificado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), da Associação Americana de Psiquiatria (2014), como um Transtorno do neurodesenvolvimento. Tem como principais características: desatenção, hiperatividade e impulsividade. 

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, o TDAH é considerado um dos fatores mais prejudiciais à escolarização de crianças e adolescentes, tendo em visa que afeta cerca de 5% da população em idade escolar. Cerca de 80% desses indivíduos sofre com dificuldades de aprendizagem durante sua vida acadêmica, sendo a evasão escolar um acontecimento frequente. 

 Dentro das instituições escolares, ouvimos muito falar em crianças agitadas e sem limites, que, equivocadamente, acabam recebendo o “rótulo” de hiperativas, fazendo referência ao transtorno. Por conta disso, é necessário destacar que nem todas as crianças mais agitadas ou desatentas possuem o transtorno. 

 Embora alguns estudantes apresentem características parecidas em uma determinada época de suas vidas, eles podem estar passando por outras questões (como perda de um ente querido; separação dos pais; falta de atenção de algum de seus responsáveis; ausência de papéis parentais; mudança de casa, de escola; inadequação à metodologia utilizada pela escola; pedagogia extremamente tradicional; recebimento de conteúdos inadequados ao seu potencial de desenvolvimento real). 

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Diagnóstico 

O neurologista José S. Schwartzman chama atenção para esse ser um transtorno complexo e difícil de ser diagnosticado, considerando o comportamento cauteloso que o indivíduo com TDAH pode apresentar dentro de um consultório, frente a um profissional desconhecido. 

Além disso, não há exames físicos que o detectam, dessa maneira é identificado por observação clínica. Devido a isso, há a necessidade de um profissional experiente (neuropediatra ou psiquiatra infantil).  

Ao longo dos anos, foram desenvolvidos alguns testes específicos que podem rastrear o transtorno; dentre eles, destaco: Child Behavior Cheklist (CBCL); Escala Conners (Brasil, validada por Barbosa, 1997); SNAP-IV; Escala de TDAH (Benczik, 2000); Escala Comportamental para Pré-Escola e Jardim de Infância; Escala Conners de Avaliação para Pais; Inventário para Crianças Pequenas-4; versão de Lista de Conferência de Comportamentos para Crianças.

É importante salientar que, para ser caracterizado como TDAH, é preciso que o indivíduo apresente os sintomas há mais de seis meses ininterruptos e em diversos ambientes, como casa, escola e trabalho. 

Entretanto, vale ressaltar que se algumas questões se apresentam depois de 12 anos de idade, não se trata de TDAH, sendo que este começa a se manifestar desde a primeira infância, sendo mais notável quando a criança inicia a escolarização. Por conta disso, a relação entre escola e família é importante, uma vez que os sintomas devem ser observados por educadores e familiares, na escola e em casa. 

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Neurodiversidade

Existem três subtipos do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade: 

  • predominantemente desatento; 
  • predominantemente hiperativo-impulsivo; 
  • tipo combinado (desatento e hiperativo-impulsivo).  

Dessa forma, percebemos que não é regra todas as características se apresentarem juntas em um mesmo indivíduo. Normalmente, nas meninas, a desatenção prevalece. Enquanto nos meninos a hiperatividade (agitação motora, fala alta e em demasia) é acentuada. 

Diversos estudos afirmam que indivíduos com TDAH sofrem com alterações na região frontal do cérebro, em seus neurotransmissores. Portanto, suas conexões cerebrais funcionam de forma diferenciada, havendo menor controle sobre as funções superiores – pensamento, organização, comparação, classificação e análise. 

Sendo assim, controlar a fala, a agitação motora e a impulsividade, tornam-se tarefas extremamente difíceis para quem tem TDAH. É o que diversos estudiosos chamam de prejuízo no “mecanismo de inibição do comportamento”. Importante ressaltar que não se trata de falta de educação ou falta de limites, mas, sim, de um processamento cerebral diferente dos demais indivíduos.  

Todos os impactos causados pelo transtorno refletem no processo ensino-aprendizagem, prejudicando não só a apreensão e o domínio do conhecimento como, também, o relacionamento com seus pares. 

O tratamento do TDAH

Estudiosos do transtorno comentam pouco sobre a hiperatividade mental. No entanto, trata-se de uma frequente agitação mental que ocasiona abstrações variadas, pensamentos rápidos, concorrendo à impulsividade e à mudança de assuntos sem mesmo terem sido findados. 

Essa agitação cerebral muitas vezes causa cansaço mental, exaustão e fadiga, o que para muitos pode ser visto e entendido como preguiça. Consequentemente, ocorre a insônia e outras situações não desejadas. 

Indivíduos com TDAH não tratado podem apresentar grande sofrimento devido à baixa autoestima que desenvolvem ao longo de sua jornada acadêmica, profissional e relacional. 

Além de medicação apropriada para os sintomas do TDAH, é de grande relevância que a criança ou adolescente seja acompanhado por terapias que o façam refletir sobre seu comportamento, melhorando no dia a dia seu entendimento sobre si mesmo e suas ações. 

Os esportes também são excelentes, principalmente para as crianças. Ou seja, as atividades físicas gastam energia excessiva e ajudam a melhorar a socialização, uma vez que exigem disciplina dos participantes. Assim elas trabalham regras que devem ser compreendidas e obedecidas. Na escola, as aulas de educação física, por exemplo, com diferentes atividades, entre esportes e brincadeiras, ajudam a gastar energia e na interação dos estudantes. 

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Pouco a pouco percebemos que o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade supera a descrença dos leigos, provando se tratar de um processamento cerebral diferenciado que afeta crianças, adolescentes e adultos de forma significativa. Enfim, uma realidade que precisa ser estudada, discutida e normatizada para que todas as pessoas alcancem méritos com dignidade e igualdade de oportunidades. 


Priscila Romero é especialista em orientação educacional e pedagógica, educação especial na perspectiva da educação inclusiva e educação especial com ênfase em autismo. Autora do livro “O Aluno TDAH”, da Wak Editora. 

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