Proposta permite que crianças aprendam com o pássaro Quero-quero

Em escola de Balneário Camboriú (SC), a professora de educação infantil Jaqueline Weiler possibilita a realização de pesquisas feitas por crianças pequenas

As crianças de 4 a 5 anos da minha turma de educação infantil estão sempre atentas ao que acontece nos espaços do Núcleo de Educação Infantil Taquaras, em Balneário Camboriú (SC). O fato de existirem muitos pássaros Quero-queros no campo em frente à janela da sala de aula foi o suficiente para começarem a demonstrar especial atenção pela ave.

Como de costume, esperou-se alguns dias para termos a certeza de que se tratava de um interesse capaz de gerar uma investigação por parte das crianças, ou se era apenas uma curiosidade passageira, que poderia ser suprida com algumas respostas pontuais.

Confirmada a suspeita de que a cada dia o interesse das aulas e alunos crescia, o projeto foi se estruturando, sustentado pelas hipóteses iniciais e pelas perguntas de pesquisa das próprias crianças. Ou seja, foi feita uma investigação “com as crianças” e não “para as crianças”.

Assim, iniciamos o projeto “A pesquisa como prática educativa: aprendendo a aprender com os Quero-queros”, com o objetivo principal de protagonizar e (co)construir aprendizagens.

Objetivos específicos

A partir do objetivo principal, foram definidos alguns objetivos específicos, como:

(I) ampliar os conhecimentos sobre as características dos Quero-queros, especificamente a respeito de sua alimentação e acerca de sua reprodução;

(II) realizar registro escrito, ainda que não de forma convencional, e oral sobre os aspectos observados;

(III) comparar e refletir sobre os fatos analisados, com o monitoramento e as informações obtidas nas pesquisas em textos e outras fontes sobre os pássaros pesquisados; e

(IV) refletir sobre a sequência temporal das fases da vida de um Quero-quero e reconhecer os ciclos que a compõe.

Os estudantes ainda puderam conhecer os nomes que o pássaro recebe em diferentes locais do Brasil; refutar ou confirmar hipóteses iniciais; brincar com rimas criadas a partir das nomenclaturas dos Quero-queros; identificar os potenciais predadores; e familiarizar-se com o gênero literário lenda.

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Principais propostas desenvolvidas durante o projeto

Com um trabalho multidisciplinar, além da temática englobar estudos em ciências naturais, as crianças tiveram atividades da disciplina de arte por meio de uma investigação pictórica, ao produzirem um desenho da representação inicial de um Quero-quero. Elas conheceram também as cores do pássaro a partir de uma experiência com tintas para descobrir a cor violeta, presente nas asas dessas aves.

O projeto ainda envolveu a disciplina de geografia, em uma atividade com mapas para descobrir que os Quero-queros estão espalhados por toda a América do Sul, e na disciplina de matemática, ao explorarem instrumentos de medida para saberem o tamanho real médio de um Quero-quero.

Os desenhos iniciais foram enriquecidos com informações reais, descobertas nas pesquisas que os próprios educandos fizeram. E, a partir desses levantamentos, foi criada uma tabela de monitoramento, na qual diariamente anotavam dados sobre os comportamentos dos Quero-queros avistados da janela.

Em sala de aula, um menino e uma menina estão observando um Quero-quero do lado de fora, pela janela. Ambos seguram papéis com tabelas. Fim da descrição.
Fonte: arquivo pessoal.

Na disciplina de português, a investigação permitiu trabalhar o registro das informações coletadas e, posteriormente, analisadas. Além da produção de um texto coletivo, aproveitando a escrita usada em um contexto real e necessário. Houve o reconhecimento do gênero literário lenda e a leitura e reconto da história “Cocô de passarinho”, de Eva Furnari, além de brincadeiras orais e escritas com rimas.

Protagonismo estudantil

O estudo não ficou apenas dentro da sala de aula. Os hábitos alimentares dos Quero-queros e as características de seus ninhos foram descobertos em uma pesquisa com as famílias dos estudantes. Também foi realizada uma entrevista on-line com uma estudante de Medicina Veterinária para desvendar outras características dos pássaros.

O interessante do projeto é o protagonismo conferido às crianças, no sentido de buscarem respostas para perguntas que elas mesmas formularam no início da investigação.

Além disso, elas participaram ativamente das atividades planejadas. Todas revestidas de significado, uma vez que envolveram situações de busca de informações para que as alunas e os alunos se aprofundassem mais sobre o tema que lhes interessava, bem como a produção de registros, a partir da escrita e da expressão artística, por meio dos quais as crianças comunicavam à comunidade as descobertas realizadas.

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Resultados alcançados

O ensino por projetos de investigação é uma metodologia que deve ser prazerosa para as crianças. Sendo assim, nossa preocupação não está exclusivamente em um produto final, pois valorizamos muito mais a “viagem”, que é a atitude de pesquisar. Nossos projetos de investigação buscam restituir à ciência esse prazer em aprender e descobrir. E foi o que aconteceu com essa experiência sobre os Quero-Queros.

Durante o processo, as crianças ampliaram os conhecimentos a respeito da alimentação, comportamento, reprodução, características físicas, entre outros aspectos da vida de um Quero-Quero. E também participaram de situações que permitiram o contato com conceitos matemáticos, com a leitura, com a literatura e gêneros literários diversos.

Em sala de aula, um menino e uma menina estão sentados em duas mesas diferentes, recortando pedaços de papel. À frente do menino, há uma folha com mapa. À frente da menina, há um livro, um papel com o mapa mundi e um globo em miniatura. Fim da descrição.
Fonte: arquivo pessoal.

Mas, para além disso, a iniciativa possibilitou conhecer e fazer uso dos procedimentos de pesquisa, bem como ampliar as habilidades de um investigador, como: observar, classificar, analisar e registrar.

Os objetivos foram, em sua maioria, alcançados, e isso é um indicativo importante do sucesso de um trabalho. Entretanto, o resultado mais positivo é observar o quanto o vocabulário das crianças vai aos poucos se modificando, se ampliando e se aproximando de uma linguagem que “fala de ciência”.

Narrativas como: “Vamos pesquisar”, “o que nós já sabemos sobre isso”, “o que nós queremos saber”, “onde vamos pesquisar”, “isso daí é só uma hipótese, depois a gente descobre se é verdade ou não”, “eles chegaram (os Quero-queros), vamos observar e anotar na planilha” são fragmentos que demonstram que pesquisa não é uma atividade restrita a adultos. Investigar é manipular materiais, explorar, observar, e principalmente, experienciar.


O projeto “Aprendendo a aprender com os Quero-queros” é um dos 10 vencedores do Prêmio Educador Nota 10 de 2021.

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