Município aposta em trabalho colaborativo na educação infantil

Equipe escolar de Americana (SP) coloca em prática ações para incentivar participação plena de criança com transtorno do espectro autista

Americana (SP) possui população de 242.018 habitantes, segundo dados de 2020. A rede municipal de ensino possui 12.658 educandos matriculados, distribuídos em 49 escolas do município, sendo 5.883 na educação infantil e 6.775 no ensino fundamental.

A escola que será contextualizada na situação desafiadora é uma Casa da Criança, nomeada dessa forma por contemplar e atender no mesmo prédio crianças entre 0 e 6 anos.

A Casa da Criança Maíra atende três classes no período da manhã, sendo uma de nível II, com estudantes de 5 e 6 anos; e duas de nível I, de 4 e 5 anos. A unidade pode atender até 208 educandos(as) das faixas etárias descritas.

A equipe escolar conta com 37 funcionários, distribuídos da seguinte maneira: equipe de apoio; equipe pedagógica; e trio gestor (supervisor, diretor e pedagogo).

 

Fachada da escola de educação infantil Casa da Criança Maíra, com portões brancos. Fim da descrição.
Foto: Salete Cristina. Fonte: acervo pessoal.

Conhecendo a situação desafiadora

O estudante Bernardo iniciou em nossa unidade escolar em 2017. No início, apresentou dificuldade em adaptar-se à rotina escolar. Geralmente chegava à escola e recusava-se a entrar na sala.

Mesmo quando o incentivávamos com alguns materiais de seu interesse, tentando fazê-lo participar das atividades com os colegas, recusava-se a aceitar e não interagia com as demais crianças. Procurava sempre andar pela escola, entrando e saindo de todos os ambientes, pegando objetos e levando-os de um lugar para o outro, mas sem a intenção de explorá-los.

No ano seguinte, após passar por equipe multidisciplinar, Bernardo obteve o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Já em 2019, foi possível observar um comportamento oscilante: algumas vezes participava das atividades, mas em outros momentos apresentava episódios de resistência.

 

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Em 2020, a escola como um todo notou a necessidade de replanejar a relação com o estudante, que, na maioria das vezes, não oferecia recusa à aproximação de outras crianças, demonstrava desejo em participar das atividades com o grupo e se comunicava, ainda que com gestos, para demonstrar o que queria ou precisava. Bernardo era uma criança alegre e cativante.

A percepção desse contexto levou à busca de estratégias para eliminar barreiras que pudessem fazer com que o estudante não participasse plenamente das aulas, de forma que pudéssemos auxiliar toda a turma.

Replanejando estratégias

Apesar do pouco tempo de aula presencial que tivemos, por conta da pandemia da Covid-19, o vínculo afetivo entre Bernardo, a professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e a profissional de apoio não foi comprometido.

Uma das principais dificuldades à aprendizagem identificadas no ano letivo foi a interrupção das aulas no momento em que o trabalho estava fluindo e apresentando bons resultados.

Diante disso, a equipe pedagógica, da qual fazem parte professora de sala regular, profissional de apoio, professora de AEE, pedagoga e diretora da escola, se uniu para pensar em caminhos para facilitar o processo de inclusão da criança, ainda como parte de rede de apoio. Foi possível contar com as supervisoras de educação especial e de educação infantil e colegas de equipe do AEE envolvidos em processo formativo.

Entre fatores e estratégias que passamos a desenvolver nesse processo, destacam-se: estabelecimento de vínculo afetivo com o educando; conquista de sua atenção de acordo com a sua predileção; estabelecimento de rotina visual, com dicas auditivas da profissional de apoio; investimento no acolhimento do educando e de sua família; ações em conjunto, em um trabalho colaborativo entre profissionais de sala regular e AEE; apoio da equipe gestora; e contribuição da rede de apoio em atividades e estratégias.

Trabalho colaborativo

É importante ressaltar o tipo de convivência do Bernardo com a equipe da escola: ele demonstra muita afinidade com a diretora, a pedagoga da unidade, as cozinheiras, professoras e com o profissional de apoio.

A família também participou do processo, inclusive se aproximando e demonstrando cada vez mais confiança no trabalho desenvolvido pela escola. Durante o período de atividades de aulas remotas, a família apresentou muitas devolutivas e participação e relatou perceber um avanço no desenvolvimento do filho.

Dessa forma, podemos afirmar que o trabalho realizado partiu da percepção e colaboração de toda a equipe.

Sabemos que todo estudante precisa ser acolhido de forma que se sinta bem-vindo, e este é um ponto fundamental com que sempre procuramos trabalhar, pois todo ser humano necessita do sentimento de pertencer a algum lugar.

O educando é nosso!

O primeiro ponto que pôde ser compreendido com o processo formativo vivenciado foi conseguir, enquanto equipe, entender verdadeiramente que O EDUCANDO É NOSSO! E isso já configura um grande avanço.

A maior mudança observada foi na postura do grupo enquanto equipe. Possivelmente, isso facilitou a criação de vínculo com a criança e sua família, fazendo com que a mãe do Bernardo passasse a confiar mais na escola e aceitar as atividades propostas, ainda que nem sempre conseguisse filmar ou fotografar os momentos de realização das mesmas.

Sabe-se que a readaptação no retorno das aulas presenciais ainda é uma pendência. No entanto, diante dos desafios mais urgentes, acredita-se que foram dados passos importantes para o seu desenvolvimento.

Educação de qualidade a todas e todos

Embora tenhamos ficado pouco tempo em aula presencial, acreditamos que o avanço conquistado nesse período permanecerá no retorno à escola e se aprimorará.

Durante o ensino remoto, tivemos um aumento na confiança da família que, por meio de incentivos, se tornou parceira nas atividades; garantimos a mudança de olhar, envolvendo elogios e reconhecimento dos esforços da família e do educando; efetivamos a aproximação entre a professora da sala regular e a professora de AEE; e, ainda, tivemos uma maior proximidade entre a equipe de professores, em um esforço conjunto para oferecer atividades atrativas, considerando as singularidades do educando.

O caminho está sendo trilhado ao caminhar, buscando vencer os desafios e garantir uma educação de qualidade a todas e todos.

 

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Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2020 do DIVERSA Presencial – formação para profissionais envolvidos com o processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Grupo Volkswagen. Por meio de parcerias com secretarias municipais de educação, o projeto tem como objetivo contribuir com a ampliação de conhecimentos sobre a educação inclusiva a partir de situações reais e desafiadoras escolhidas pelos participantes.

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