Educadoras elaboraram material pedagógico acessível para desenvolver o processo de alfabetização e a coordenação motora dos estudantes
A Escola Municipal Adriano Gordilho está localizada na região central da cidade de Candeias, na Bahia, e é a mais antiga do município, com 66 anos de atendimento à comunidade.
O público-alvo é composto por estudantes do ensino fundamental I, onde temos 210 crianças matriculadas. Além das salas comuns, as alunas e os alunos têm à disposição espaços para serviço social, atendimento com a psicóloga e a sala de recursos do Atendimento Educacional Especializado (AEE), para os 26 estudantes público-alvo da educação especial da escola.
A gestão escolar e toda a equipe docente sempre está desenvolvendo projetos para que as turmas estejam engajadas e participem de diferentes atividades escolares. Em 2022, participamos da formação Materiais Pedagógicos Acessíveis, do Instituto Rodrigo Mendes (IRM), no qual tivemos novos horizontes para colocar em prática projetos pedagógicos inclusivos.
Planejamento do projeto
Como objetivo da formação, desenvolvemos um material pedagógico acessível, seguindo o conceito do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Nele, buscamos resolver uma situação desafiadora na rotina escolar.
Em nosso contexto, estávamos retornando às aulas presenciais após a suspensão por conta da pandemia de covid-19. Entretanto, ainda havia um formato híbrido, devido a obras estruturais no prédio escolar.
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Na parte pedagógica, analisamos e percebemos que muitos estudantes não desenvolveram a coordenação motora fina (mãos, pulso e dedos) e outros ainda estavam em processo de alfabetização. Somado a isso e levando em conta a formação, tínhamos o desafio de propor um projeto inclusivo que envolvesse a todos, algo que identificamos como ponto a ser alcançado.
Após várias ideias, decidimos trabalhar, com uma turma do 4º ano, a cultura popular nordestina, de forma que as crianças conhecessem a história da região e valorizassem os costumes do nosso território. Essa ideia fez com que nascesse o “Baú Interativo”, criado para trabalhar a imaginação, a criatividade e a interação dos estudantes de maneira inclusiva.
Pensando na época em que estávamos, quisemos trabalhar a festa de São João, um grande evento com identidade nordestina. Escolhemos seis estados da região Nordeste para conhecer o que temos de comum em nossa cultura e também os costumes específicos de cada lugar, sendo Bahia, Sergipe, Maranhão, Ceará, Paraíba e Pernambuco.
O Baú Interativo
O “Baú Interativo” é uma peça feita em madeira, corda, papel tecido e circuitos eletrônicos. No interior de sua tampa fica o tema a ser trabalhado e o circuito eletrônico (LEDs, botão, alto-falante, Arduino). Quando o botão é acionado, os LEDs acendem simultaneamente e, em seguida, apenas um fica aceso, indicando qual subtema será discutido naquele momento. Na medida que o botão for apertado, o processo se repetirá e outro subtema será selecionado, e assim sucessivamente.
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Escolhemos quatro temas a serem estudados: música, comida, brincadeira e dança. As perguntas e respostas ficam em cartões numerados, onde o cartão de resposta escolhido deve ser encostado no baú, que valida a resposta como correta ou não.
Esse material é um objeto que mexe com a imaginação de todos. Nos contos infantis, que envolvem o baú, encontramos tesouros, magia, brinquedos e fantasias. É nele que a imaginação flui e permite o desabrochar das ideias.
Em sua construção, pensamos em ter todos os requisitos de acessibilidade necessários, já que na turma havia um estudante com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outro com paralisia cerebral. Para isso, as perguntas de cada temática são disponibilizadas em cartões com grafia em língua portuguesa e em braile, cartões com imagem, além da sonorização vinda da caixa com Arduino. Assim, conseguimos deixar o material pronto para as demais turmas que tenham estudantes com outras especificidades.
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Retornos do nosso trabalho
Para essa proposta, atuamos de forma interdisciplinar com as disciplinas de língua portuguesa, matemática, ciências, geografia, arte e história. Antes de apresentar o baú nas salas de aula, trabalhamos com as turmas na rotina escolar, atividades que abordassem a região, seguindo o currículo.
Almejamos alcançar os seguintes objetivos com os estudantes:
- Reconhecer a variação linguística e respeitar o uso dela;
- Reconhecer a literatura encontrada em rimas e músicas como expressão de identidades tradicionalmente associadas à região nordeste;
- Compreender o conceito que define a palavra forró e seu gênero musical;
- Compreender a história da festa junina, bem como seu valor dentro do folclore brasileiro, destacando seus costumes sociais e religiosos;
- Reconhecer traços da cultura nordestina nas festas e em nossos lugares de vivência;
- Enriquecer o conhecimento da criança quanto aos costumes das festas juninas.
Avaliamos que esse projeto foi um grande desafio em todos os aspectos. No que diz respeito ao uso da tecnologia, a formação foi fundamental para que pudéssemos dar um grande passo em nosso trabalho pedagógico.
Em relação a inclusão, percebemos que a verdadeira participação e aprendizagem de cada estudante é possível, desde que tenhamos uma perspectiva inclusiva desde o planejamento de cada estratégia pedagógica. O entendimento entre os professores e a gestão, em uma parceria significativa, tornou possível a realização dessa experiência em toda a escola.
Por fim, as crianças estiveram motivadas a participar, principalmente por tratarmos de um tema da realidade de todos. O “Baú Interativo” proporciona a junção de aprendizagem, com musicalidade e uma quantidade de hipóteses que viabiliza o aprender de todos os estudantes, possibilitando trabalhar assuntos variados, despertar curiosidades, criatividade, alegria e diversão. Pensar no baú é perceber que diversas temáticas podem ser aplicadas no processo dinâmico, concreto e abstrato de uma sala de aula.
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Este relato de experiência é fruto da participação das autoras na edição 2022 do Materiais Pedagógicos Acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns.
A edição de 2022 do projeto foi realizada pelo Instituto Rodrigo Mendes e o MudaLab, com parceria do Instituto Ambikira e Instituto Far, com objetivo de contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.