Alfabetização inclusiva como meio de formar cidadãos

No Dia Internacional da Alfabetização, educadoras falam dos benefícios da inclusão nessa fase da educação como uma forma de reduzir desigualdades

O acesso à educação de qualidade de forma inclusiva é um direito de todas as pessoas. A meta 4 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas (ONU), busca apoiar a garantia desse direito em todo o mundo até 2030.

Para conseguir chegar ao objetivo, a ONU criou o Dia Internacional da Alfabetização, celebrado em 8 de setembro, a fim de ressaltar a importância da alfabetização e reforçar o compromisso pela erradicação do analfabetismo.

A ONU enfatiza que a alfabetização é essencial para o desenvolvimento pessoal e social de todas as pessoas, sendo um direito humano vital para a construção de uma sociedade mais inclusiva e sustentável.

No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há onze milhões de analfabetos entre pessoas com 15 anos ou mais. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é alfabetizar todos os brasileiros até 2024.

Inclusão e alfabetização

O desafio de educadoras e educadores nessa etapa de ensino é garantir que todos possam aprender a ler e escrever, possibilitando o desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes para que se formem cidadãos críticos e empáticos. Para isso, é essencial que nessa fase, considerada a base da educação, seja iniciado o processo de inclusão, levando em conta a diversidade e as singularidades.

Atuando há 27 anos em escola pública, a professora Vilma Soares, da rede municipal de Duque de Caxias (RJ), vem trabalhando durante todo esse tempo com o processo de alfabetização de forma inclusiva. Ela acredita que deve se partir do pressuposto que todos aprendem e que o professor é peça-chave para isso: “A inclusão começa ao nós termos a noção de que todo aluno é capaz de aprender dentro de suas características. Se o educador e os gestores não tiverem esse olhar, a inclusão não será possível”.

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Já Mônica Ursini, do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da cidade de Santos (SP), destaca que o trabalho colaborativo entre os docentes é uma forma de conseguir desenvolver a alfabetização com os estudantes: “A sincronia entre as atividades desenvolvidas em sala de aula e sala de recursos, por exemplo, faz com que a evolução siga um mesmo ritmo, respeitando o tempo de cada um”.

A educadora participou do projeto “Caminho Sustentável”, na Escola Cidade de Santos, em 2019, durante processo formativo realizado pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM). Ao desenvolver uma experiência lúdica com estudantes do 1º ano do ensino fundamental, a turma teve uma boa evolução na leitura e na escrita: “O projeto rendeu muito, principalmente para os estudantes com deficiência, uma vez que o material pedagógico acessível estimulou a participação, e a colaboração entre eles, além do respeito às diferenças”.

A leitura e a escrita para jovens e adultos

No Brasil, como citado, ainda há um grande número de analfabetos acima dos 15 anos. Portanto, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino com muitos estudantes, que buscam aprender a ler e escrever. A elaboração de estratégias pedagógicas inclusivas para esse público também se faz necessária, considerando suas especificidades.

A educadora e alfabetizadora Nilma Sladkevicius entende que, assim como com as crianças, ao atuar com jovens e adultos é essencial buscar métodos para estimular a participação e desenvolver a aprendizagem.

Com mais de 20 anos de experiência na EJA da rede municipal de Osasco (SP), a docente aponta que envolver os pontos comuns do cotidiano desses estudantes é uma maneira de potencializar a leitura e a escrita: “Trazer a realidade deles para os conteúdos é uma forma assertiva de se trabalhar, pois as alunas e os alunos se tornam protagonistas do aprendizado.”

Em sala de aula, duas mulheres negras de mais de 40 anos, alunas da EJA, estão sentadas na carteira, uma atrás da outra, enquanto escrevem no caderno. Fim da descrição.
Foto: Nilma Sladkevicius. Fonte: arquivo pessoal.

Em 2019, Nilma foi a vencedora do Prêmio Educador Nota 10 com o projeto “Um sorriso negro, um abraço negro”. Nessa experiência, o processo de alfabetização abordou preconceitos sofridos pelos estudantes e por demais pessoas, principalmente pela questão racial e o analfabetismo.

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Ela conta que, por essa e outras experiências, fica claro que a alfabetização de pessoas jovens, adultas e idosas deve ser diferente da maneira que é feita com crianças: “Quando trazemos brincadeiras e brinquedos nas aulas para os pequenos, isso dá resultado. Já com os adultos, a realidade é outra: precisamos falar sobre os problemas e situações do dia a dia para que as atividades façam sentido na vida de cada um.”

Alfabetizar para formar cidadãos

Ao visar a erradicação do analfabetismo, o Dia Internacional da Alfabetização promove a reflexão sobre os impactos do letramento na vida de cada pessoa e da sociedade, tais como o desenvolvimento social e econômico.

A diminuição de desigualdades é um fator que Vilma Soares salienta como um dos principais efeitos de um bom processo de alfabetização: “Quando o professor dá a oportunidade de seu aluno aprender a ler e a escrever, ele já começa a possibilitar um futuro muito melhor para ele e todos aqueles a sua volta.”

Em consonância, a educadora Nilma Sladkevicius afirma que alfabetizar forma, na prática, cidadãos e que isso facilita o acesso ao que todos têm direito: “Quando uma pessoa tem o domínio do seu idioma, ela sabe e exige seus direitos, como o direito à saúde, educação, moradia, ao de decidir os governantes e, claro, ao trabalho.”

Ela completa que os efeitos positivos não param por aí: “É muito mais que a habilidade de colocar a tinta da caneta em um papel, é desenvolver a autoestima, a autonomia e reconstruir a própria história.”

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