Projeto político-pedagógico: como construir coletivamente um norte para a escola?

O projeto político-pedagógico (PPP) é um documento de construção coletiva da identidade da escola pública. É o que une todos os segmentos e setores de uma unidade de ensino, pois traduz a própria organização do trabalho pedagógico em suas especificidades, níveis e modalidades. O registro pressupõe a reflexão e a discussão crítica da sociedade e da educação com o intuito de encontrar possibilidades de intervenção. Ele exige e articula a participação de todos os sujeitos do processo educativo para a elaboração de uma visão global da realidade escolar e dos compromissos coletivos.

Leia também:
+ O atendimento educacional especializado como parte do PPP
+ Gestão democrática, escola inclusiva

O documento alicerça o trabalho pedagógico enquanto processo de criação contínua e, portanto, nunca é pronto e acabado. Não é um agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas, nem deve ser formulado para ser arquivado como prova de tarefa burocrática pronta e acabada para ser encaminhado às autoridades educacionais. Muito menos é tarefa específica do pedagogo, do coordenador pedagógico ou do diretor.

O que o documento contém

Todo PPP expressa:

  • A função social da educação e da escola em uma sociedade cada vez mais excludente, compreendendo que a educação, como campo de mediações sociais, define-se sempre por seu caráter intencional e político;
  • Sua necessária organicidade com os anseios da comunidade escolar, prevendo a efetiva participação de todos em seus momentos de elaboração, implementação, acompanhamento e avaliação.

Por isso, faz sentido que o documento responda a algumas questões, como por exemplo:

  • Qual a finalidade da escola?
  • Que sujeitos, cidadãos queremos formar?
  • Que sociedade queremos construir?
  • Que conhecimentos e saberes a escola trabalhará?
  • Como possibilitará a apropriação dos saberes cultural e historicamente construídos?
  • Que espaços participativos criará?
  • Como estimulará, apoiará e efetivará a participação do coletivo da escola?

O que considerar

O processo de elaboração do projeto político-pedagógico deve levar em conta algumas características importantes:

  • É um movimento de luta em prol da democracia escolar. Não esconde as dificuldades e os pessimismos da realidade, mas não se deixa imobilizar por eles, procurando assumir novos compromissos em direção a um futuro melhor. Orienta a reflexão e ação da escola;
  • Está voltado para a inclusão. Logo, observa a diversidade dos estudantes, suas origens culturais, suas necessidades e expectativas educacionais;
  • Por ser coletivo e integrador, é necessário para sua elaboração, execução e avaliação, o estabelecimento de um ambiente de diálogo, de cooperação e de negociação, assegurando-se o direito de as pessoas intervirem e se comprometerem na tomada de decisões de todos os aspectos. Sua legitimidade reside no grau e tipo de participação de todos os envolvidos com o ambiente educativo;

Supõe continuidade de ações e apresenta uma unicidade entre a dimensão técnica e política. Preocupa-se com trabalho pedagógico, porém, não deixa de articulá-lo com o contexto social. Alguns princípios precisam ser respeitados, já que também estão presentes em toda legislação educacional:

  • Igualdade de condições para acesso e permanência (a desigualdade do ponto de partida deve traduzir-se em igualdade no ponto de chegada);
  • Qualidade para todos (qualidade social para todos);
  • Gestão democrática;
  • Liberdade (princípio que sempre está associado à ideia da autonomia);
  • Valorização dos profissionais da educação (magistério e demais trabalhadores).

Orientações para a elaboração

Durante o desenvolvimento do documento é importante saber quais itens devem ser considerados, como aspectos legais e premissas fundamentais. Nesse sentido, a escola pode orientar-se pela seguinte sugestão de roteiro:

  • Da escola
  • Fins
  • Níveis e modalidades
  • Objetivos dos níveis e modalidades de ensino
  • Filosofia
  • Concepção de mundo e sociedade
  • Concepção de educação
  • Concepção de escola
  • Concepção de conhecimento
  • Concepção de projeto político-pedagógico
  • Currículo
  • Concepção de currículo
  • Metodologia
  • Concepção de metodologia
  • Organização curricular
  • Regime escolar
  • Avaliação
  • Gestão da escola
  • Conselho escolar
  • Coordenação da escola
  • Corpo docente
  • Funcionários
  • Serviços de apoio
  • Corpo discente
  • Grêmio estudantil
  • Pais ou responsáveis
  • Princípios de convivência
  • Disposições gerais

A nota técnica nº 11/2010 emitida pelo Ministério da Educação (MEC) traz orientações para a institucionalização da oferta do atendimento educacional especializado (AEE) em salas de recursos multifuncionais (SRMs).

Mudanças

O processo de construção do projeto político-pedagógico de uma escola é dinâmico, exige esforço coletivo e comprometimento. Não é apenas a elaboração de um documento escrito; deve ser legitimado na ação. É um desafio para a transformação da realidade que se apresenta. Por isso, a mudança na forma de organização e na gestão são imprescindíveis para sua efetivação.

Uma metodologia possível parte de perguntas como: onde estamos? O que é? Onde queremos chegar? Por quê? Para quê? Que ações implementar? Como agir? Tais questões podem contribuir para reflexão e sensibilização do grupo, que precisa ser envolvido e comprometido em todas as etapas.

O PPP traduz a “alma da escola”, a essência do trabalho pedagógico a ser realizado. Suas considerações serão incorporadas ao regimento da unidade e aos Planos de Estudo. Esses documentos, posteriormente, irão determinar o modo de funcionamento e os conhecimentos escolares a serem trabalhados no dia a dia para que a escola caminhe em direção aos objetivos definidos, colaborativamente, pela comunidade escolar.

 

Márcia Carvalho é professora e conselheira estadual de educação do Rio Grande do Sul. Foi secretária municipal de Educação, Cultura e Desporto de São Francisco de Paula, avaliadora educacional da Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino do Ministério da Educação (Sase/MEC) e presidenta da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação do Rio Grande do Sul (Undime/RS).

© Instituto Rodrigo Mendes. Licença Creative Commons BY-NC-ND 2.5. A cópia, distribuição e transmissão dessa obra são livres, sob as seguintes condições: Você deve creditar a obra como de autoria de Márcia Carvalho e licenciada pelo Instituto Rodrigo Mendes e DIVERSA.

Deixe um comentário