Em comemoração ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo, especialista aborda estratégias que apoiam a aprendizagem de estudantes com TEA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno neurobiológico que afeta atualmente cerca de 70 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, a estimativa é que 2 milhões de pessoas sejam afetadas.
No autismo, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da OMS (versão mais atualizada de 2018), muitas questões para o diagnóstico foram alteradas e orientações para os profissionais foram acrescentadas.
Na classificação, para o diagnóstico deve-se ter a priori os sintomas específicos do transtorno, sendo eles: interação social prejudicada; padrões repetitivos e estereotipados; e padrões restritos de linguagem verbal e não verbal.
Além disso, foram acrescentadas subdivisões, o que trouxe muito debate e muitos questionamentos. Mas, no ponto central de identificação individual dos sintomas, as subdivisões vieram elucidar muitos conceitos, inclusive para o processo educacional, facilitando principalmente o planejamento para um processo pedagógico funcional. As subdivisões incluem prejuízos na linguagem funcional ou deficiência intelectual.
A educação inclusiva na prática
Quando iniciamos um processo educacional para uma pessoa com deficiência, não somente a estudantes com autismo, as informações sobre o comportamento e características do estudante são de extrema importância para o professor de sala comum, professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e toda equipe escolar.
No processo de análise do estudante com autismo, o que se caracteriza é se a criança possui ou não o comprometimento cognitivo e, a nível escolar, permite direcionar os profissionais de educação, por exemplo, a como planejar as estratégias pedagógicas e como construir materiais pedagógicos acessíveis para uso na sala comum e na sala de recursos multifuncional.
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A maior parte dos autistas tem, em uma fase da vida, o comprometimento na linguagem verbal, conforme aponta a OMS. É muito comum a criança falar palavras soltas e repetidas, processo conhecido como ecolalia, onde são ditas palavras ou frases repetidas sem a função de se comunicar. Isso pode apresentar a desregulação emocional da pessoa por não conseguir se fazer entender pelos demais.
Ao atuar com alunas e alunos nesse estágio, é importante realizar dinâmicas de ensino com atividades que trabalhem diferentes maneiras de comunicação, como visão e gestos, mas desenvolvendo aos poucos a fala da criança. Outro ponto fundamental é fazer com que todos se sintam confortáveis, principalmente utilizando materiais, objetos e assuntos de interesse do estudante.
As dicas apresentadas devem sempre ser levadas em conta com a realidade dos estudantes e da escola.
Parceria no processo de ensino
O trabalho realizado por todos os envolvidos no processo de inclusão da criança e adolescente é único, já que deve ser respeitada as singularidades existentes na sociedade. Para que a evolução seja constante e contínua, o preenchimento do Plano Educacional Individualizado (PEI) é fundamental para detalhar as informações e permitir que sejam elaboradas estratégias pedagógicas assertivas de acordo com as dificuldades e habilidades de determinado estudante.
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Aliado ao PEI, a parceria entre escola e família se torna ponto determinante para a evolução do estudante, e possibilita o desenvolvimento da autonomia dentro e fora da escola.
A fim de chegar a esse objetivo, o processo educacional da pessoa com autismo e de qualquer outra criança não pode seguir uma grade curricular engessada. O ensino deve ser funcional, individual, focado na realidade do estudante e da escola, mas isso é responsabilidade de todos: da família, da escola e, também, da comunidade escolar.
Quando o processo de ensino é baseado numa grade curricular engessada, a primeira coisa que se escuta é sobre a escola não estar preparada ou não possuir profissionais qualificados para determinada situação. Não se pode levar isso como uma verdade, o profissional da educação se prepara durante anos para atuar em sala, mas não há ainda uma conscientização da diversidade encontrada na escola, só existe a descrição de um único caminho a ser seguido e o resultado esperado.
Conhecimento para a inclusão
O processo de ensino pedagógico tem uma sequência neurocognitivo (práxios, gnósicos, atenção, memória, pensamento e linguagem) que acontece com a maior parte da população, mas esse mesmo processo não segue uma linha igual para todos os seres humanos. Por conta disso, sempre haverá a necessidade de os educadores trabalharem de forma mais específica com seus estudantes, e as formações continuadas vem para elucidar e apoiar educadores e gestores na busca por uma educação inclusiva.
Em todo esse contexto é de suma importância a continuidade das atividades de conscientização, como acontece no Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril.
Ao longo desses anos muito se evoluiu nas divulgações de informações e atividades voltadas a quebrar os tabus, mitos e preconceitos relacionados ao autismo, confortando milhares de famílias e possibilitando a plena participação de todas as pessoas em diversas áreas da sociedade.
Quanto mais se falar, conhecer, divulgar sobre o autismo e sobre educação inclusiva, mais possível será a inclusão na prática, desde a matrícula na escola até o pleno desenvolvimento das potencialidades de cada um.
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Emanoele Freitas é professora da educação especial, neurocientista, psicanalista clínica, com especialização em autismo pela Universidade UC DAVIS da Califórnia e em TDAH pela Universidade John Hopkins. Entre os livros lançados está “Transtornos do Neurodesenvolvimento: Conhecimento, Planejamento e Inclusão Real”, da editora Wak.
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