Como escola do Acre se tornou referência em educação inclusiva

Escola de Rio Branco (AC), Clarisse Fecury reverbera práticas inclusivas estimulando trabalho colaborativo, engajando famílias e valorizando aprendizagem de todos

“Nós não podemos parar o processo de inclusão. Pelo contrário, precisamos aperfeiçoá-lo e melhorá-lo a cada dia: ele é real e importante para todos”.

É assim que Assis da Silva Ribeiro, diretor da Escola Estadual Clarisse Fecury, de Rio Branco (AC), descreve o aprendizado adquirido pelos profissionais da escola desde que a unidade se tornou referência em educação inclusiva no Acre, em 2012.

O Caso da Escola Clarisse Fecury foi publicado no DIVERSA no mesmo ano e reúne as ações da instituição para proporcionar e garantir aprendizagem a todos os estudantes da escola. Entre as atividades, a escola oferecia aulas de Libras a todos os alunos para eliminar barreiras comunicacionais.

O estudo também faz parte do livro Educação Inclusiva na Prática. A obra foi lançada recentemente pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Editora Moderna e Fundação Santillana.

 

https://www.youtube.com/watch?v=ntoMjoWg9nw&feature=youtu.be

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Assis está na Clarisse Fecury desde 2013, tendo atuado como professor de sala comum, coordenador pedagógico e agora diretor. Para ele, as práticas inclusivas realizadas pela escola na época do estudo de caso continuam impactando a realidade das ações pedagógicas:

No período do estudo de caso, as práticas inclusivas tiveram um salto importante e a própria secretaria estabeleceu um olhar mais carinhoso com a escola. Foi um trabalho que ganhou renome.

Impactando outras escolas da rede

Fachada da Escola Estadual Clarisse Fecury. Letreiro com o nome da escola está fixado em estrutura laranja acima de portão com grades brancas. Acima, telhado está pintado na cor verde. Fim da descrição.

 

A escola de ensino fundamental recebeu investimento para melhorar sua infraestrutura e garantir acessibilidade arquitetônica. Todo esse processo ganhou notoriedade e impactou outras unidades da rede estadual.

De acordo com o diretor, muitas unidades educacionais da comunidade utilizam as práticas pedagógicas da Clarisse Fecury como referência. “Durante a pandemia, por exemplo, recebemos contato de outras unidades para entender como estávamos atendendo os estudantes remotamente”, revela.

A ação foi importante no estímulo ao diálogo entre as escolas da região para a elaboração de estratégias pedagógicas que garantissem que nenhum estudante ficasse para trás durante a suspensão das aulas presenciais.

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“Garantir a aprendizagem para todos”

Atualmente a escola atende 473 estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental, dos quais 35 são público-alvo da educação especial. A comunidade escolar está localizada em uma região periférica da cidade, no bairro Santa Inês, e conta com famílias de baixa renda e índices negativos de violência.

 

Imagem aérea do entorno escolar com quarteirões e quadras próximas à escola. Há galpões e áreas arborizadas ao redor. Fim da descrição.
Imagem aérea do entorno escolar. (Fonte: Google Earth)

Diante dessa realidade, Assis reconhece a importância de potencializar práticas inclusivas para não excluir ninguém do processo de aprendizagem. Ele explica que o processo inclusivo vai muito além de proporcionar o acesso dos alunos à escola.

A nossa ideia é ter um processo inclusivo em todos os sentidos: incluir a criança no aspecto social, cultural e de ensino.

Para ele, é prioridade das escolas trabalhar a valorização das diferenças e as potencialidades dos estudantes e, dessa forma, “garantir aprendizagem para todos”.

O entendimento do diretor é reforçado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) da escola. Em 2019, a Clarisse Fecury recebeu 6,9 como avaliação de aprendizado dos alunos – o que é maior do que a média estadual (6) e a média brasileira (5,6).

Em comparação com a época do estudo de caso, houve evolução positiva das notas do IDEB médio. A escola era avaliada em 4,6 em 2012 (2,3 pontos abaixo da atual), enquanto a média de Rio Branco era de 4,2.

Trabalho colaborativo

Para se tornar referência de respeito à aprendizagem no estado, Assis cita a importância da adaptação de determinadas atividades, levando em conta o currículo escolar e as especificidades de cada aluno.

As crianças recebem os mesmos conteúdos curriculares. Desconsiderar isso na elaboração das atividades não é inclusão e sim exclusão.

Como fator relevante para a realização de um planejamento pedagógico que considere as individualidades e potencialidades dos alunos, a escola valoriza o trabalho colaborativo entre os educadores.

Essa prática estimula o diálogo e a parceria entre os mediadores e os professores da sala comum e do Atendimento Educacional Especializado (AEE) na elaboração das aulas. Para Assis, essa prática é essencial para a promoção de estratégias pedagógicas que respeitem as características de todos os estudantes.

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Oficinas pedagógicas: o aluno como protagonista

Como exemplo de estratégia pedagógica inclusiva realizada pela escola, as oficinas pedagógicas estimulam o protagonismo dos estudantes no processo educativo.

As oficinas ganharam notoriedade na escola a partir da experiência de um aluno em 2018. Ele possuía grande habilidade para construir objetos com diversos tipos de material, mas não socializava com os demais.

Em diálogo com a gestão escolar, os educadores organizaram uma oficina pedagógica para potencializar sua habilidade construtora. A ideia foi colocar o próprio estudante na condição de protagonista, ensinando e compartilhando conhecimento com os colegas da turma.

De acordo com Assis, a experiência foi positiva tanto para o estudante, quanto para os profissionais de educação da escola. Houve reconhecimento e valorização do aluno como sujeito ativo do processo educacional e detentor de conhecimentos.

“Essa experiência me marcou, não vou me esquecer nunca”, afirma. A partir daí, a escola passou a realizar oficinas pedagógicas em todos os anos letivos, relacionadas às disciplinas curriculares.

Engajamento de familiares na gestão escolar

Além da integração entre educadores, a escola também conta com a participação ativa dos familiares nas etapas de decisão e na elaboração de propostas. Segundo o diretor da Clarisse Fecury, cerca de 70% das mães e dos pais são ativos nos processos decisórios.

Colocando em prática um modelo de gestão democrática, os familiares têm representatividade nos conselhos e comitês escolares, opinando sobre as prioridades da escola e discutindo sobre a alocação de recursos.

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Assis explica que a participação dos familiares não é ilusória na Clarisse Fecury: é real, eficaz e tem impacto na aprendizagem. Isso é importante para que as diversas realidades vivenciadas pela comunidade escolar sejam consideradas nos processos de decisão.

Os pais compreendem a importância da escola e fazem parte das discussões. São elementos que contribuem para que nenhuma criança fique para trás.

Avanços e aprendizados necessários

Ainda que a escola Clarisse Fecury vivencie práticas inclusivas em sua metodologia, é necessário avançar em termos de uma educação para todas e todos. É o que acredita Assis.

Para ele, algumas questões – como a acessibilidade arquitetônica – já foram superadas na escola, mas ainda há o que ser feito. “Precisamos melhorar a nossa formação”, avalia, considerando ser dever da rede de ensino formar os educadores.

Para termos um avanço significativo é prioritária a formação dos profissionais de educação: do porteiro à cantina.

Além disso, também há a necessidade de desenvolvimento e melhoria da metodologia e da didática dos professores, a fim de alcançar todos os estudantes da sala. “Precisamos repensar as estratégias pedagógicas de acordo com a realidade de cada turma”, explica.

Como principal aprendizado adquirido pela escola ao longo dos últimos anos, o educador finaliza defendendo um dos princípios da educação inclusiva: todo aluno aprende!

Não podemos dizer que a educação inclusiva não funciona. Ela funciona sim! Os alunos são capazes e nós podemos aprender com eles!


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