Relatos iniciais do DIVERSA

No ano de 2010, atuei em uma sala de aula de 1º ano, com alunos ouvintes e uma surda. A partir disso, repensei minha prática pedagógica, que até então considerava somente ouvintes. Como não tinha o auxilio de um intérprete ou de uma professora de apoio em sala, a coordenação pedagógica e a direção diminuíram o número de alunos em sala para que eu pudesse dar atendimento individual a todos. Sempre que preciso eram adquiridos novos materiais que ajudavam a desenvolver nosso trabalho.

Apesar de ter feito uma especialização na área da surdez, ainda não tinha a prática. Era preciso tornar a sala de aula um ambiente bilíngue e prazeroso para todos. Como mostrar aos alunos a importância da comunicação e suas diferentes formas de linguagem que a partir daquele momento faria parte de suas vidas?

Recorri à literatura para sanar algumas dificuldades de comunicação. É comum encontrarmos contos clássicos em DVD adaptados e produzidos por grupos de surdos e intérpretes que possibilitam às crianças surdas o acesso ao mundo da literatura. Além destes, preparei e adaptei outras histórias, utilizando as técnicas pedagógicas de Freinet, histórias em caixas, jogos e brincadeiras.

Os pais também vivenciaram uma experiência nova. Todos tinham inseguranças e receios quanto à aprendizagem de seus filhos. Com as reuniões bimestrais as dúvidas dos responsáveis foram esclarecidas. Com o tempo fomos percebendo que as crianças e os pais passaram a ter outra visão com relação à inclusão de uma criança surda, principalmente a própria família da estudante surda. Sua irmã gêmea mostrou-se muito empenhada em aprender a língua de sinais.

Observamos a evolução da turma com relação à língua de sinais, a interação, a leitura e a escrita. Concluímos que juntos fomos aprendendo a observar um mundo diferente do nosso, no qual não ouvimos sons, porém, há sensações, emoções e cores que podem ser vistas e sentidas. Aprendemos com a estudante com deficiência auditiva que não são apenas os surdos que precisam ser inclusos, nós ouvintes também precisamos estar preparados para não ser excluídos por eles.

MARCIA MENDES LUCIANO, PROFESSORA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Participante do Prêmio Educador Nota 10 da Fundação Victor Civita

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