Danilo, estudante com Síndrome de Down do 1º ano do ensino médio, frequenta a Escola Municipal Professor Vicente Bastos desde 2015. A unidade recebe cerca de 870 alunos dos ensinos fundamental II, médio e da educação de jovens e adultos (EJA). Localiza-se no bairro São José, no município de São Caetano do Sul (SP) e atende a uma comunidade de renda baixa/média.
No início, Danilo mostrou-se bastante resistente e teve dificuldades em se relacionar com colegas e professores. Em sala, eram raros os momentos em que o adolescente se mostrava atento e concentrado às aulas.
Com o passar dos meses, percebemos algo interessante. Enquanto os demais estudantes começavam a se aproximar, a dividir as tarefas e a interagir com o jovem, nós, da equipe escolar, continuávamos com dificuldades em compreendê-lo. O profissional do atendimento educacional especializado (AEE) acompanhava os professores na sala regular e, no contraturno, atendia Danilo na sala de recursos multifuncionais (SRM). Mas, mesmo com essa iniciativa, haviam muitos equívocos na forma como os docentes flexionavam o conteúdo e as estratégias pedagógicas. Grande parte deles não acreditava no potencial do adolescente e dizia não estar preparada para lidar com a situação.
Em 2018, iniciamos nossa participação no DIVERSA Presencial – curso de formação em educação inclusiva oferecido pelo Instituto Rodrigo Mendes. Logo nos primeiros encontros, percebemos o quanto estávamos presos ao modelo médico e que teríamos muito trabalho pela frente.
Saiba mais:
+ As diferenças entre os modelos social e médico de compreensão da deficiência
Cultura de colaboração
A trajetória foi longa, mas muito proveitosa para todos envolvidos. Promovemos diálogos com os professores que trabalhavam com Danilo para alinharmos as ações. A primeira a se envolver no processo foi Maria Luiza, professora de geografia, que já se mostrava preocupada em melhorar suas aulas para todos e para cada um dos estudantes. Assista ao depoimento da docente:
A professora Ana Rúbia, de biologia, articulou conteúdos sobre alimentação (lipídios, proteínas e carboidratos) com a área de matemática, numa iniciativa conjunta com o professor do AEE. Essa parceria abriu espaço para o surgimento de uma cultura de colaboração na escola, que acabou por envolver todos docentes.
Resultados na prática
O conhecimento construído no DIVERSA Presencial embasou e fortaleceu as ações da equipe escolar, ajudando a desmistificar o tema da inclusão escolar, diluindo preconceitos e gerando mudanças significativas na escola. Durante a formação, estudamos o movimento das pessoas com deficiência, a legislação específica e trocamos experiências com educadores de outras cidades. A cada encontro, éramos provocados a rever nossos conceitos.
Essas discussões e reflexões geraram mudanças na forma de atuação da equipe. Os saberes e vivências produzidos no curso deixaram marcas que vêm impactando outros profissionais da escola. Agora, eles têm interesse em rever suas práticas e modificar seus planejamentos.
Aprendemos a olhar Danilo antes de sua deficiência e a vê-lo como um ser capaz, cabendo a nós a responsabilidade de promover sua aprendizagem e pleno desenvolvimento.
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2018 do DIVERSA presencial – formação para profissionais envolvidos com o processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns. Por meio de parcerias com secretarias municipais de educação, o projeto tem como objetivo contribuir com a ampliação de conhecimentos sobre a educação inclusiva a partir de situações reais e desafiadoras escolhidas pelos participantes.
Comentário
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Muito interessante.