Matriculado há três anos na mesma turma da Escola Municipal dos Vinhedos, em Curitiba (PR), Pedro ensinou seus colegas a conviverem com as diferenças desde cedo. O estudante tem autismo e apresentava alguns dos comportamentos característicos do transtorno, como dificuldade para compreender regras e preferência por brincar sozinho. Nas aulas em quadra, costumava fugir ou, quando ficava, não participava das atividades. Para vencer essas barreiras foi necessário aproximar o trabalho dos docentes de educação física e do atendimento educacional especializado (AEE). Juntos, criamos o circuito motor com corrida, projeto que beneficiou toda turma e deu a Pedro a oportunidade de aprender a se divertir com os colegas.
Seguindo os eixos curriculares definidos pela rede municipal, flexibilizamos uma série de exercícios para permitir o desenvolvimento cognitivo – por meio de estímulos à memória, à atenção e à concentração – e motor dos alunos, trabalhando a coordenação, lateralidade e estruturação espacial. Para incentivar a interação, inserimos também corridas de revezamento, em grupo e em dupla. O material utilizado para a concretização do circuito motor com corrida foi aquele disponível na escola: cordas amarradas a cones formaram as barreiras e bambolês foram usados para criar uma amarelinha no chão. Os equipamentos foram distribuídos em estações pela quadra.
Circuito motor e corrida
Os estudantes iniciavam o circuito motor pulando amarelinha nos bambolês. Depois, saltavam duas barreiras até chegar a uma bola de futebol, que chutavam contra um gol de tamanho reduzido, delimitado por dois cones. Em seguida, eles se dirigiam a uma cesta de basquete, pegavam uma bola colocada sobre um cone e a arremessavam com as duas mãos. Quando a bola retornava, eles a colocavam novamente sobre o objeto. Por fim, jogavam uma pequena bola de borracha dentro de um balde e, na última estação, derrubavam pinos de boliche.
Na sequência foram realizadas as atividades de corrida de revezamento. Na modalidade em dupla, cada criança segurava a extremidade de um bastão e, juntos, corriam até a marcação no fim da quadra. Elas voltavam para a fila e passavam o objeto para a próxima dupla. O processo era repetido até que todos tivessem participado. Já na versão em grupo, os estudantes eram divididos em cinco grupos posicionados um ao lado do outro. Ao sinal da professora, o primeiro de cada fila corria até os bambolês na ponta oposta da quadra, levantando o bastão ao colocar os dois pés dentro do arco. Ao final do projeto foi realizada uma roda de conversa com os alunos e o registro em desenho das atividades favoritas.
As estações contavam com cartazes com representações em desenho do movimento solicitado e pequenas instruções textuais como “saltar”, “correr”, “derrubar”. Essa flexibilização foi pensada para facilitar a compreensão das crianças que aprendem mais facilmente por estímulos visuais. Além disso, qualquer aluno poderia solicitar ajuda a um colega em qualquer atividade.
Resultados e continuidade
Pedro participou de todas atividades propostas, esperando por sua vez com calma e respeitando as regras. Verificamos melhorias em sua atenção e acreditamos que seus colegas ganharam um amigo mais presente. Após o projeto, a mãe do estudante comentou que, em casa, ele passou a chamar os pais para jogar basquete e tem demonstrado mais interesse por brincar com amigos. A questão pedagógica também avançou: ele passou a reconhecer mais palavras e a fazer pesquisas na internet sozinho.
A partir da parceria firmada entre educação física e AEE, elaboramos uma apostila com informações sobre o transtorno do espectro autista, planos de ação divididos por eixo escolar e indicação de conteúdos para ampliar os conhecimentos em educação inclusiva. Baseados na experiência com o circuito motor e com as corridas de revezamento, os planejamentos dessa publicação traziam o conteúdo trabalhado nas aulas, objetivos, descrição da atividade, flexibilizações, reflexões, possíveis modificações e avaliação. A equipe gestora disponibilizou todos materiais e recursos para a impressão do material, que foi distribuído nas escolas do bairro.
Projeto participante do curso Portas Abertas para a inclusão 2015. Esta experiência faz parte da Coletânea de práticas 2015.
Comentário
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Para manter o melhor conforto e a concentração das crianças com TEA foram utilizados fones abafadores de ruídos para ajudá-los com a concentração no circuito.