Trabalho colaborativo é desenvolvido com crianças da educação infantil

Projeto “A voz das crianças: conexões que aproximam” estimulou a aprendizagem das crianças e a aproximação entre a escola e suas famílias

Meu nome é Cristiele Borges dos Santos Cardoso. Sou professora na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Joaninha, em Novo Hamburgo (RS). Por conta da pandemia de covid-19, as escolas ficaram fechadas e foi preciso pensar em estratégias de continuidade e adaptação ao ensino remoto. Pensando nisso, realizamos o projeto “A voz das crianças: conexões que aproximam”. As crianças acompanharam a germinação de uma batata doce na água, que cresceu em suas casas e que para os cuidados contaram com o apoio das famílias.

Essa iniciativa possibilitou integrar conhecimento científico, cuidado com as plantas e registros a partir da experiência – feitos especialmente por meio de desenhos e fotos. Permitiu também a troca de ideias sobre o aprendizado adquirido e a valorização da aproximação entre as famílias e a escola. O projeto buscou compreender como as crianças pensam, constroem conhecimento e se comunicam – especificidades que fazem parte da educação infantil.

Em um vaso transparente de vidro, uma batata doce que já germinou está na água com plantas em tamanho grande. Fim da descrição.
Fonte: arquivo pessoal

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O apoio das famílias e o uso das tecnologias

A contribuição das famílias foi fundamental para o sucesso do projeto. Elas eram nossas mãos e olhos para propor, observar e registrar. Conforme as semanas iam seguindo, mais retornos eram enviados, e foi possível perceber um grande desenvolvimento das crianças, que expressavam suas ideias e sentiam-se, a cada etapa, mais confiantes e autônomas no cuidado com sua batata. O resultado foi muito positivo.

Criança abraçada com um vaso de vidro, no qual está sua batata doce. Fim da descrição.
Fonte: arquivo pessoal.

O domínio e a ressignificação do uso da tecnologia pelas crianças também foi algo muito evidente ao longo do processo. Os contatos foram realizados de várias formas, levando em consideração situações particulares de cada família. Ligações telefônicas, grupo de WhatsApp, Facebook e Instagram foram algumas das ferramentas utilizadas para nos mantermos próximos uns dos outros. Na nossa escola, temos algumas famílias haitianas. Buscamos dialogar e auxiliá-las também, traduzindo todo o material, por exemplo.

O diálogo foi constante. Realizamos reuniões on-line e conversas individuais, nas quais as famílias puderam falar, perguntar e contar como estava sendo cada processo. Elas foram nossas grandes aliadas nesse período de isolamento social. Contamos muito com a ajuda delas para conseguir fazer com que as propostas pensadas chegassem até as crianças.

Acredito que o projeto também conseguiu demonstrar a importância do trabalho colaborativo entre escolas e famílias. Foi um exemplo de como a comunidade escolar (professoras, gestoras e famílias) pode se aproximar e contribuir para que as crianças aprendam de maneira prazerosa e significativa – independentemente da faixa-etária, de suas singularidades e de adversidades como a pandemia.

Em telas divididas de videoconferência estão a professora, as famílias e as crianças. Fim da descrição.
Fonte: arquivo pessoal.

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BNCC na prática

Os direitos de conviver, brincar, participar foram assegurados. As brincadeiras eram propostas pelos professores ou surgiam da interação das crianças, que acontecia mesmo virtualmente por meio das chamadas de vídeo.

Com as propostas de desenho, modelagem e investigação, além das brincadeiras, foi permitido o direito de explorar, perceptível nos registros enviados pelas famílias. Expressar e se conhecer era um processo contínuo. Seja nas chamadas de vídeo, nos áudios que enviavam, nos desenhos, nas fotos…, todo o processo possibilitava que as crianças fossem se expressando e se conhecendo.

Em relação aos campos de experiências, que compõem a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), foi possível focar em três: “O eu, o outro e o nós”, “Traços, sons, cores e formas” e “Escuta, fala, pensamento e imaginação”. Ao longo da prática, as crianças foram desenvolvendo questionamentos e construindo autonomia na interação com os colegas e professores. Tiveram experiências nas quais puderam falar e ouvir, revelando a evolução também da linguagem oral.

Elas utilizaram materiais variados nas propostas de desenho e modelagem, explorando cores, texturas, superfícies e formas. As crianças se expressaram por meio de várias linguagens e criaram suas próprias produções autorais.

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Os resultados alcançados

O maior desafio foi pensar um contexto virtual potente de educação infantil dentro da proposta que temos em nossa escola, que não trabalha com atividades prontas e padronizadas, mas a partir de investigação, curiosidade e percursos das crianças.

Menino com uma lupa observa sua batata doce. Fim da descrição.
Fonte: arquivo pessoal.

Também foi desafiador manter o contato e o interesse das 25 famílias, pois todas elas tinham particularidades e situações distintas. Inicialmente, também não sabíamos como produziríamos mini-histórias – uma marca de nossa escola – num contexto de isolamento social.

No entanto, a partir de um esforço coletivo, os resultados apareceram. Percebemos um grande desenvolvimento das crianças. Cada uma dentro do seu tempo e em seu processo fazia descobertas e as compartilhavam com os colegas e professores. Em cada etapa, percebemos as crianças mais confiantes, autônomas e responsáveis pelo cultivo da sua batata, o que repercutia no seu desenvolvimento como um todo. As mudanças, frustrações com apodrecimentos, diferenças entre um processo e outro provocavam as crianças a falarem, a se expressarem, a se comunicarem.

Nas propostas de desenho e modelagem, foi perceptível o avanço das crianças. A partir dos registros que nos foram enviados, conseguimos ver essa evolução. Produzimos muitos registros, mini-histórias, relatos, que compartilhamos no Instagram e que incentivavam as famílias a continuar se envolvendo com a investigação. Elas ajudavam as crianças a cuidarem com carinho da batata, comunicavam-se entre si – famílias e famílias pensando em dicas de como cultivar, fazer a batata melhorar –. Isso aproximou o grupo como um todo, fortalecendo o vínculo que já existia.

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Foi notório também o avanço no domínio do uso da tecnologia por várias crianças como meio de comunicação, e não somente como meio de diversão. Elas compreenderam que a tecnologia tem outras finalidades, como falar com as pessoas, interagir, mostrar coisas, brincar, contar piada, “fazer uma festa”, “ir para a escola”.

Isso ficou evidente com a comunicação que, com o tempo, as crianças começaram a estabelecer entre elas de forma natural, com o envio de áudios no grupo de WhatsApp, além das comunicações nas chamadas de vídeo.

Desenvolvemos ainda um podcast, premiado em uma feira de iniciação científica do munícipio, que se chama “Conversa de Criança”. Nele, organizamos as teorias das crianças em formato de conversa, pois muitos desses diálogos ocorreram por áudios enviados no grupo de WhatsApp montado para a turma e, também, por chamadas de vídeos.

Com o tempo, algumas batatas começaram a perder suas folhas, algumas apodreceram, e fomos percebendo que as curiosidades das crianças e as investigações já estavam um pouco esgotadas. Nesse período, já nos encaminhávamos para o final do ano letivo e, simultaneamente a essa investigação, tínhamos outras propostas sendo realizadas, também relacionadas ao plantio. Fizemos individualmente com as crianças uma retrospectiva de cada processo, buscando escutar o que aprenderam e o que foi mais significativo para elas.

Em suma, iniciamos o processo de investigação com muitas dúvidas e nenhuma certeza. Fizemos algumas escolhas tentando desenvolver propostas nas quais as crianças tivessem possibilidades de serem protagonistas e pudessem principalmente expor suas ideias. Acompanhamos a investigação sempre pensando na continuidade, levando em consideração nossa proposta educativa, a disponibilidade das famílias e o desenvolvimento das crianças. Fomos surpreendidos positivamente, e foi possível acompanhar cada uma individualmente dentro do seu processo.

No final do período letivo, entregamos para as crianças e suas famílias um portfólio, que contava o processo individual de cada menino e menina ao longo do ano. Mais uma vez, os retornos em relação a essa documentação foram muito positivos. As crianças, em vídeo e registros enviados, reconheciam a autoria do material, lembravam dos colegas que também estavam nas fotos e conseguiam rememorar o processo vivido. Encerramos esta investigação e o ano de trabalho com a turma satisfeitos com os resultados.


O projeto “A voz das crianças: conexões que aproximam” é um dos vencedores do Prêmio Educador Nota 10 de 2021. 

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