ONG em Israel oferece atividades inclusivas em escolas comuns

A Krembo Wings tem projetos que atuam com pessoas com deficiência desde o ensino infantil até a preparação para o mercado de trabalho

Este mês, o DIVERSA conheceu a Organização Não Governamental (ONG) Krembo Wings, que atua em Israel com o Youth Movement (movimento juvenil, em português) há 20 anos, contando com crianças e jovens estudantes como ativistas. 

As atividades socioeducativas propostas pela instituição contribuem para aumentar a conscientização sobre a população com deficiência e sobre acessibilidade social, ao mesmo tempo em que aborda as necessidades emocionais e sociais e a plena participação de todos na sociedade, apoiando, também, a diversidade religiosa presente no país. 

“Nosso objetivo é criar um ambiente significativo para todos. Focamos no trabalho colaborativo, então essa não é minha missão, não é a missão deles, é o objetivo de todos nós, pessoas com e sem deficiência, judeus e não judeus, e de toda a diversidade que temos em Israel.”

É o que afirma Adiel Tammam Benjamin, que está há 11 anos na Krembo Wings, tendo começado como voluntária enquanto estava no ensino médio. Atualmente, ela trabalha no centro de conhecimento e treinamento. 

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Início do movimento

A Krembo Wings divide seu trabalho em três grupos de atuação: a educação informal de crianças e jovens em idade escolar, a educação formal de professores e a preparação para o mercado de trabalho. 

O Youth Movement, que deu início à instituição, é um projeto de educação informal e atualmente tem 94 unidades por toda Israel. O programa atende estudantes de 7 a 22 anos de uma a duas vezes por semana após o horário escolar, e, buscando acessibilidade em todas as esferas, além dos materiais e recursos tecnológicos que contemplam diferentes necessidades e em diversos idiomas, é disponibilizado transporte acessível no caminho entre as filiais e a casa dos participantes. 

“Toda a operação do projeto é acessível na esperança de que todos possam ser independentes, autônomos, e se desenvolvam para ser a melhor versão deles mesmos.”

Jovens brancos com camisas da Krembo Wings estão em espaço aberto. Um menino com headsets fala com outro, que está à sua frente. Fim da descrição.
Fonte: Krembo Wings.

O sistema de aprendizagem utilizado é baseado no trabalho colaborativo, onde, mesmo divididas em grupos, toda criança que precisar de apoio pode contar com amigos de idade aproximada para acompanhá-la na atividade. Sendo um estudante com deficiência ou não, são destacadas as habilidades e conhecimentos para ajudar o colega. 

“É daí que a maior parte de nossa experiência vem. Nos últimos três anos, começamos a pegar o conhecimento vindo das atividades de educação informal e aplicar na educação formal.” 

De acordo com Adiel, eles já contam com 8.500 membros, sendo 20% dos conselheiros do movimento pessoas com deficiência. Para a equipe da Krembo Wings, isso é essencial para que a própria organização seja mais inclusiva: 

“Não podemos falar em inclusão sem praticar inclusão, por isso acreditamos que nosso trabalho deve ser um espelho para a sociedade na qual estamos inseridos. Esse é um lugar que inclui todos. Com toda a diversidade que temos em Israel, tentamos ser um espelho para a sociedade.”

Formação de professores

Adiel conta que, como na maioria dos países, o sistema de ensino costumava ser separado entre educação regular e educação especial e um comitê definia quem iria para qual escola. Contudo, há seis anos a 11ª emenda à Lei de Educação Especial deu a oportunidade de escolha para os familiares e responsáveis de crianças com deficiência: 

“Ainda temos escolas especiais, mas os estudantes podem ser matriculados em escolas comuns e ainda receber apoio pedagógico em sala de aula. Nos últimos anos têm sido construídas o que chamamos de escolas inclusivas, onde todos podem estar independentemente de suas especificidades.”

Quatro educadoras estão sentadas em círculo e observam tela de tablet. Fim da descrição.
Fonte: Krembo Wings.

Por conta de a promoção de uma educação inclusiva ainda ser recente em Israel, a organização identificou um desafio na formação de professores, que não necessariamente possuíam conhecimento sobre inclusão, e passou a oferecer cursos na área. 

Anualmente as escolas recebem uma verba destinada ao treinamento docente, por isso, todos os programas de educação formal precisam ser aprovados pelo Ministério da Educação de Israel. Cada escola pode escolher pelo site oficial do governo de qual dos programas quer participar. 

Os treinamentos da Krembo Wings são separados em cursos para professores que já atuam na escola e cursos para estudantes de pedagogia no ensino superior e todos se dão por meio do modelo de sistema de educação da instituição, que foca as habilidades e a união entre a diversidade das pessoas, encontrando um ponto de apreciação entre elas. 

“O que tentamos ensinar aos professores é o modelo de apreciação mútua, que ensina a pessoa a enxergar as habilidades da outra sem julgar e sem comparar. Valorizar o que eles podem fazer e não o que não podem, baseando-se no que eles são bons.”

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Inclusivos desde pequenininhos

A ONG acredita que o ensino sobre educação inclusiva deve começar o quanto antes, por isso eles oferecem um programa planejado para professores e estudantes da educação infantil. 

Essa iniciativa consiste em construir um ambiente inclusivo e envolvente, onde cada criança se desenvolva em meio a uma exposição natural à diversidade social que as rodeia: “Quanto mais cedo conversar com as crianças sobre inclusão, maior a probabilidade de elas serem abertas à diversidade”, afirma Adiel. 

Todo o projeto é realizado com bases positivas, a partir de uma boa vivência, discurso, atividades e vivência social, para estabelecer em todas e todos a consciência dos pontos fortes e necessidades de cada um a partir do reconhecimento de suas singularidades. 

Já no ensino fundamental, a instituição lidera grupos de aprendizagem socioemocional com alguns estudantes de diferentes idades de cada turma para promover atividades de caráter socioemocional e retornarem às salas de aula com tarefas a serem concluídas com os colegas que não participaram dos exercícios: 

“Isso aumenta a inclusão e o pertencimento. Nós treinamos crianças para serem embaixadoras da inclusão nos ambientes dos quais participam.”

Pessoas com deficiência no mercado de trabalho

Ido Barnea, responsável pelos projetos com jovens adultos e ex-alunos da Krembo Wings, relata que muitos membros do movimento querem permanecer fazendo parte após a saída da escola e, por isso, foram criadas iniciativas para apoiar o ingresso no mercado de trabalho ou se tornar um colaborador na própria instituição. 

A empregabilidade é sempre uma questão quando se fala em pessoa com deficiência, uma vez que essa população não tem oportunidades de conseguir um emprego em situação de igualdade com as demais pessoas, seja por falta de acessibilidade, acesso à formação ou por barreiras atitudinais. 

Pensando nisso, Ido afirma que o objetivo dos programas é “Prover um espaço seguro para jovens adultos com deficiência experienciem um ambiente de trabalho e desenvolvam habilidades para trabalhar em qualquer outro lugar. Eles terão as habilidades e a confiança para encontrarem suas paixões em algum outro lugar do mercado de trabalho”. 

A Krembo Wings oferece um programa para jovens entre 18 e 20 anos, faixa etária que antecede o serviço no exército, obrigatório para homens e mulheres no país. Nele, os jovens com e sem deficiência moram em um espaço compartilhado e fazem voluntariado na comunidade. Além disso, há o chamado National Service (serviço nacional, em português), para que pessoas que não participam dos serviços regulares do exército possam contribuir. 

A instituição também disponibiliza mentorias sobre o mercado de trabalho, para abordar temas como “o que é estar em um ambiente de trabalho”, “como se comunicar com o coordenador”, “como ser um colaborador produtivo”, entre outros. 

“Não temos apenas um ambiente com recursos de acessibilidade, mas também no sentimento, no pensamento, no jeito em que tratamos as pessoas ao redor. Nós deixamos que eles sonhem, que experienciem e façam trabalhos que eles não imaginavam ser possíveis. Eles têm oportunidade de mostrar do que são capazes.”

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