Peru implementa políticas públicas para inclusão escolar

Governo peruano tem aprovado leis e políticas públicas que visam a inclusão de crianças e adolescentes que estão fora das escolas

A educação inclusiva no Peru tem progredido nos últimos anos com a adoção de uma legislação que garante e oferta um ensino de qualidade para crianças e adolescentes que estejam, de alguma forma, excluídos da escola.

No que diz respeito aos estudantes público-alvo da educação especial, uma das primeiras medidas que o país adotou no caminho da inclusão em escolas comuns é a assinatura e a ratificação da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, das Nações Unidas (ONU), em 2008.

Esse foi um importante marco para que o Ministério da Educação do Peru e outros órgãos públicos mudassem a lei que estabelece a organização e os princípios da educação em nível nacional e implementassem, paralelamente, políticas públicas inclusivas.

Legislação para educação inclusiva

A Lei Geral de Educação (2003) estabelece as diretrizes do sistema educacional peruano. Em 2018, por meio da Lei nº 30.797, o Congresso Nacional aprovou uma alteração na regulamentação, garantindo atendimento especializado a estudantes com deficiência de forma complementar ao ensino regular. Outro grande avanço a esse público foi o direito à matrícula em escolas e instituições de ensino público e privado, da educação infantil ao ensino superior.

“A educação inclusiva não gera custos adicionais para alunas e alunos com deficiência, em aplicação do direito à não discriminação e à igualdade de oportunidades educativas”, como está disposto na Lei nº 30.797.

Com esse esforço, o sistema educacional peruano atende mais de 60 mil estudantes com deficiência em escolas comuns, segundo o Censo Escolar Peruano de 2021.

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A Lei Geral de Educação também prevê que a inclusão incorpore os grupos sociais excluídos e vulneráveis, especialmente em áreas rurais, sem distinção de etnia, religião, sexo ou qualquer outra causa de discriminação, buscando, assim, contribuir para a eliminação da pobreza e das desigualdades.

Além disso, o Ministério da Educação atualizou o Currículo Nacional da Educação Básica considerando uma abordagem inclusiva e equitativa. De acordo com o ministério, a versão atualizada em 2017 tem “como suas principais características o aumento de sua aplicabilidade em sala de aula, o seu compromisso com abordagens transversais, autoaprendizagem e uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e sua ênfase em uma avaliação formativa e não apenas qualificadora”.

Entre as contribuições do novo documento, o ministério destaca a promoção da arte e da educação física, o aprimoramento do aprendizado para se conectar com a globalização, o padrão nacional de aprendizagem e a permissão da diversificação regional e local, conforme o território.

Projeto Nacional de Educação

Em 2007, o governo peruano lançou o Projeto Nacional de Educação, no intuito de traçar metas a serem concluídas até 2021. De acordo com o Ministério da Educação, importantes avanços foram conquistados nesse período, mas permaneceram grandes lacunas daquilo que foi traçado, e novos desafios surgiram.

Por conta dessa situação, e levando em conta as mudanças na Lei Geral de Educação e no Currículo Nacional, foi lançado, em 2021, um novo Projeto Nacional de Educação, com vigência entre 2022 e 2036.

O projeto foi intitulado “O desafio da cidadania plena” e considera que todos os estudantes e demais cidadãos “aprendam e se desenvolvam ao longo da vida, exercendo sua liberdade em uma sociedade democrática, igualitária e inclusiva, que valoriza a diversidade e garante a sustentabilidade ambiental.”

O documento tem quatro propósitos que o norteia: “Vida cidadã’, “Bem-estar socioemocional”, “Produtividade, prosperidade, pesquisa e sustentabilidade” e “Inclusão e equidade”.

Capacitação docente

A nova legislação e as políticas públicas peruanas consideram a formação continuada dos educadores fundamental para uma verdadeira educação inclusiva.

Duas mulheres estão em uma sala enquanto utilizam um computador. Uma das mulheres está em cadeira de rodas. Fim da descrição.
Fonte: Ministério da Educação do Peru.

Durante o Fórum Internacional sobre Inclusão e Equidade na Educação, realizado em 2019, o então vice-ministro da gestão institucional do Ministério da Educação do Peru, Guido Rospigliosi, afirmou que “a formação continuada e a infraestrutura acessíveis são a chave para a educação inclusiva”. Ele entende que a formação inicial não é suficiente para a prática inclusiva, sendo necessários processos contínuos para docentes e gestores.

Conforme dados oficiais do Peru, mais de 34 mil pessoas participaram dos cursos de autoformação realizados pelo Departamento de Educação Básica Especial. Tendo como maioria professores e gestores escolares, os cursos virtuais gratuitos de Língua de Sinais Peruana, Uso de Software para Estudantes com Deficiência e Neurodiversidade e sobre o Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) também tiveram a participação de familiares e de outros membros da comunidade escolar.

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Para fortalecer a formação continuada de professores, o Ministério da Educação desenvolveu e disponibilizou no ano passado o Sistema Integrado de Formação de Professores em Serviço. A plataforma on-line tem a finalidade de reforçar as competências de educadores e gestores por meio de serviços e ferramentas pedagógicas.

Inclusão em todos os lugares

Para não deixar ninguém para trás, há ainda outras políticas que favorecem o ensino para todos no país.

Na educação indígena, os estudantes são contemplados no sistema educacional por meio da Constituição Política do Peru, que promove uma educação igual em qualidade, eficiência e habilidade.

No que diz respeito à acessibilidade comunicacional, a constituição protege a educação intercultural bilíngue, garantindo a aprendizagem da língua materna do estudante e o espanhol. Além disso, a Lei Geral de Educação decreta que os docentes sejam proficientes na língua nativa do território em que atuam.

O Plano Nacional de Educação Bilíngue Intercultural incentivou ainda mais a modalidade de ensino e, segundo dados oficiais, 18,3% das crianças da educação infantil e 23,6% do ensino fundamental participam da educação bilíngue.

No que se refere ao uso da tecnologia, a pandemia de covid-19 fez com que o ensino a distância fosse uma realidade em todo o mundo. Para promover a aprendizagem dos estudantes no período de isolamento, foi criada a ferramenta “Aprendendo em casa”, na qual todos os estudantes tinham acesso aos conteúdos curriculares.

A ferramenta permitiu que o atendimento especializado a estudantes público-alvo da educação especial fosse mantido e, com isso, o acompanhamento realizado junto aos familiares. Depois do retorno presencial, a plataforma continua sendo utilizada e melhorada para o uso em todos os níveis de ensino.

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