Escola de SC promove projetos que contemplam alunos com deficiência

Unidade conta com gestão escolar e secretaria da educação para seguir princípios da inclusão após participar de formação continuada

Em 2021, a Escola Municipal de Educação Básica (EMEB) Hilda Granemann de Sousa, localizada na cidade de Caçador, Santa Catarina, fez parte da formação Materiais Pedagógicos Acessíveis, do Instituto Rodrigo Mendes (IRM). Antes disso, já era realidade no cotidiano escolar a preocupação com a participação plena de todos os estudantes, independentemente de suas especificidades. 

Na época, os integrantes da equipe escolar Néllik Silva, Gabriel Dalcortivo, Dayane Silva, Gamaliel Ribeiro, Rosete Ferlin, Fabiana Moscheta e Jalmei Hermann desenvolveram o material pedagógico Librando, bem como as estratégias pedagógicas para sua aplicação em sala de aula. 

“Costumamos dizer que existia uma Hilda Granemann antes e uma depois do Librando. A escola sempre foi um espaço de acolhimento e preocupada com a inclusão de nossos alunos com deficiência, mas sentíamos que faltava algo para que o aluno com deficiência auditiva fosse incluído de forma concreta”, afirma Néllik.

Imagem da frente da Escola Hilda Granemann de Sousa, no qual há um letreiro com nome da unidade. Fim da descrição.
Foto: Néllik Silva. Fonte: arquivo pessoal.

A educadora conta que, a partir do jogo, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), outros professores, alunas e alunos passaram a querer saber mais sobre a língua para se comunicar: “Os colegas de turma se empenharam para aprender a língua. Quase dois anos depois, a Libras está presente na vida dos alunos que participaram de forma ativa no jogo”. 

Fora a aprendizagem da língua, todos os ambientes da escola receberam plaquinhas com seus respectivos sinais em Libras. 

Henrique, estudante da turma participante do desenvolvimento do projeto naquele ano, afirmou que “hoje se sente parte da escola. Antes os colegas não o entendiam, não sabiam como conversar com ele, hoje eles entendem sua deficiência e conseguem interagir”. 

A prática, que transformou a realidade dentro da escola, também ganhou a comunidade escolar: “Os alunos chegavam em casa e, como estavam empolgados com a nova língua, mostravam para suas famílias o que haviam aprendido formando um grande círculo de participação do nosso projeto”.

Montagem com duas fotos de ambientes da escola que possuem placa com sinais em Libras. À esquerda, refeitório. À direita, Libras.
Foto: Néllik Silva. Fonte: arquivo pessoal.

Saiba mais 

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Inclusão é para todas e todos

Hoje a escola de ensino fundamental atende, nos turnos da manhã e da tarde, 1.108 alunos, entre eles, mais de 90 estudantes público-alvo da educação especial são atendidos pelas profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE), sendo crianças com deficiência intelectual, auditiva, Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com dificuldades de aprendizagem. 

A partir do Librando, foram criados outros projetos inclusivos e os conhecimentos adquiridos na formação foram ampliados. Em 2022, a escola iniciou um projeto para valorizar as predileções do estudante Izaque, que possui TEA, e preparou uma exposição de suas produções manuais, além de realizar uma conscientização sobre o transtorno. 

Todos os alunos saíam fascinados com a criatividade e pediam dicas de como fazer, foi lindo! Mas o mais importante para nós naquele momento era primeiramente elevar a autoestima do educando e, em segundo lugar, fazer com que os alunos típicos entendam que em nossa escola existem colegas atípicos que, assim como eles, têm qualidades e dificuldades em algumas áreas. Todos nós temos potencialidades em alguma área, elas só precisam ser enxergadas pelo outro e estimuladas.”

Néllik Silva

Estudante, acompanhado da professora, observa placa de identificação onde está escrito “ginásio” em Língua Portuguesa e Libras, após ter fixado uma placa na sala de AEE. Fim da descrição.
Foto: Gabriel Dalcortivo. Fonte: arquivo pessoal.

Gestão escolar e Secretaria de Educação

Ao ser questionada sobre o papel da gestão escolar nesse cenário, Fabiana Moscheta, diretora escolar, contou que a inclusão em escolas comuns é possível desde que se tenha uma secretaria ativa, professores dispostos e gestores empenhados para que isso de fato aconteça, fazendo a diferença na vida de cada indivíduo inserido no ambiente escolar. 

“O primeiro passo para que realmente a inclusão aconteça na escola é a postura que a gestão escolar precisa tomar frente a isso, que é o reconhecimento de que todos os alunos têm o direito à educação”

Fabiana Moscheta 

Ela alega que a equipe escolar tem um olhar diferenciado para os estudantes, por saberem a importância de proporcionar o desenvolvimento da aprendizagem, a autoestima e, principalmente, o espírito de pertencimento: “Inclusão não deve ser levada apenas como um cumprimento de lei, e sim uma ação humana que educadores devem priorizar enquanto escola”. 

Dados disponibilizados no Painel de Indicadores da Educação Especial apontam que, em 2020, apenas 5,5% dos professores regentes possuíam formação em educação inclusiva, por isso, a ampliação da oferta de cursos sobre o tema é tão importante. 

Pensando nisso, Néllik destaca o trabalho da Secretaria de Educação: “Temos apoio e parceria da Secretaria de Educação, que busca de forma ativa ampliar os espaços escolares e oferecer salas de AEE bem equipadas com materiais tecnológicos e lúdicos, promover momentos de troca entre professores de sala comum e professores do AEE, além de cursos de aperfeiçoamento, sempre visando a aprendizagem do aluno”. 

De acordo com a coordenadora de educação especial da Secretaria Municipal de Educação de Caçador, Claucia Comerlato, a pasta sempre esteve preocupada em promover nas escolas um ambiente de acolhimento e inclusão: 

“Antes, durante e depois da formação, sempre houve uma troca e parceria positiva entre os professores, pois esse é um dos maiores focos de nossa secretaria. Contamos com programas relevantes na área para atender nossos alunos com deficiência ou transtornos de aprendizagem de forma inclusiva e acolhedora.”

Claucia Comerlato

Imagem de local externa da escola onde há alguns brinquedos, como escorregador e gira-gira. Fim da descrição.
Foto: Néllik Silva. Fonte: arquivo pessoal.

Apoio das famílias

“Mesmo antes do Librando, já trabalhávamos na perspectiva da educação inclusiva, não só do aluno no ambiente escolar, mas nos laços e redes de apoio às famílias. Nossa escola sempre foi um ambiente acolhedor e preocupado em manter uma relação saudável.”, conta Néllik. 

Grazieli Baldissera, mãe do estudante Henrique, que participou do projeto Librando, confirma que sua relação com a escola Hilda Granemann sempre foi boa: “Sempre estavam muito presentes em tudo quando precisei, mas depois do projeto foi melhor ainda, pois vi o quanto eles estavam preocupados em ajudar o Henrique”. 

A mãe declara ser imprescindível que as pessoas com deficiência ganhem espaço na sociedade, mas ainda existe muito preconceito e a família deve estar presente: “A família é muito importante para escola nos processos de aprendizagem e é essencial a construção de ambientes inclusivos em todas as escolas”. 

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