Diagnóstico escolar para construir saberes e desenvolver habilidades

Artigo aborda o papel do diagnóstico escolar para um melhor conhecer os estudantes e para elaborar estratégias pedagógicas inclusivas

Conforme RODRIGUES (2009), a origem da palavra diagnóstico vem do grego ‘’diagnose’’ e significa faculdade de conhecer. Sendo assim, para que se faça um diagnóstico de um estudante com deficiência ou dificuldade de aprendizagem na escola, é necessário analisar toda a sua realidade. Considerando a sala de aula, o programa pedagógico, o educador, a metodologia, a escola, a família e a comunidade, é possível diagnosticar e, posteriormente, atuar para minimizar barreiras. O panorama oferecido pelo diagnóstico é amplo e oferece uma perspectiva global.

Trata-se de um instrumento usado pela escola que possibilita direcionar caminhos durante todo o trabalho, fazer intervenções precisas, bem como respeitar as particularidades do educando.

Certamente, realizar um diagnóstico não é uma tarefa fácil, seja no segmento da saúde ou no da educação. Sabe-se que o diagnóstico, principalmente no espaço escolar, pode ser uma responsabilidade das mais difíceis de ser elaborada, devido à sua complexidade e por ser um recurso que exige saberes determinantes, como aportes teóricos utilizados para compreender o estudante em sua singularidade, entender a causa de suas dificuldades e conhecer suas habilidades.

O processo do diagnóstico não deve ser feito em momentos específicos do tratamento ou na escola. Deve ser um trabalho constante do profissional que almeja ter um conhecimento integral da aluna ou aluno.

De acordo com FABRÍCIO e CANTOS (2011), os profissionais da saúde e educação sabem que pacientes ou estudantes são seres humanos únicos e que precisam de estratégias específicas para seu pleno desenvolvimento.

Portanto, é fundamental que os profissionais desenvolvam a visão de que o diagnóstico tenha a função de instrumento para a compreensão das singularidades do indivíduo. Assim, eles devem atuar de maneiras diversas, e não esperar as mesmas respostas para diferentes pessoas. Também é preciso reavaliar constantemente os objetivos e os procedimentos.

Os autores afirmam que diagnósticos não são sentenças imutáveis e nem mesmo são o ponto final de um processo. Dar um nome ao quadro apresentado não pode, em nenhuma hipótese, finalizar o processo de construção de uma intervenção adequada e tampouco limitar o desenvolvimento do indivíduo.

A participação familiar

A família também é de grande importância e, por isso, é necessário que ela esteja interligada com a escola, trabalhando de forma conjunta para que o processo de ensino-aprendizagem seja melhor efetuado.

Nesse mesmo sentido, ALICIA FERNÁNDEZ (1991, p.31) declara que a família, sendo incluída no processo de diagnóstico, tem a oportunidade de tecer considerações sobre a dificuldade da filha ou do filho, além de desenvolver questões para reflexão, considerando a vida do grupo familiar. Dessa forma, a compreensão das relações familiares assume grande relevância no diagnóstico.

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Diversidade e múltiplos saberes no espaço escolar

Todo contexto escolar, naturalmente, é marcado pela diversidade, seja ela social, política, econômica, cultural ou ética. Dia após dia há convivência com as diferenças e transformação diante dos desafios que o novo traz.

Conforme PAGANELLI (2018), no espaço escolar, tanto o professor como o pedagogo conseguem enxergar de uma maneira tridimensional. Eles têm a capacidade de perceber que determinado estudante pode ter alguma dificuldade, deficiência ou transtorno, não informados ou sabidos pela família.

Sabe-se que o professor tem um ‘’olhar clínico’’, ou seja, consegue notar mais facilmente as potencialidades que cada estudante aparenta possuir. Sob ampla perspectiva, o educador, principalmente, é capaz de fazer uma leitura das primeiras observações a respeito do educando.

Essa análise é crucial, pois, posteriormente, ajudará na compreensão do comportamento da criança com a equipe pedagógica e a família, bem como na estruturação do diagnóstico. De acordo com a autora, esforços nesse sentido são legítimos, principalmente para assegurar direitos.

A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) “garante a oferta de rede de serviços articulados, com atuação intersetorial, para atender às necessidades específicas da pessoa com deficiência’’, assegurando, especificamente, o diagnóstico e o atendimento clínico.

O diagnóstico tem que ser visto como uma fonte de informações reveladora das características humanas (diferenças que não podem ser negadas), bem como um recurso que subsidia o trabalho do educador no que se refere à identificação de estratégias pedagógicas para que haja uma prática inclusiva eficaz.

PAGANELLI (2018) ressalta que o diagnóstico não é um receituário, que vem com orientações de como trabalhar as necessidades do estudante. Não existe receita pronta, já que ninguém é igual. Cada um tem suas particularidades e diferenças. E, em várias situações, o que serve para um, não serve para o outro, mesmo diante de diagnósticos semelhantes.

FABRÍCIO E CANTOS (2011) pontuam que um laudo médico não pode ser interpretado como um atestado de incapacidade, incompetência ou barreira de impedimento para que o educando avance em seus direitos, garanta um aprendizado adequado e inclusivo.

Os fatores que devem ser levados em consideração pelo psicopedagogo para um diagnóstico mais preciso, segundo PAÍN (1985), são orgânicos, aspectos específicos (dislexias, indeterminação na lateralidade, inadequação perceptivo-motora, entre outros), causas psicogênicas (neuroses) e ambientais (relação com a ideologia e os valores vigentes no grupo ao qual pertence).

A compreensão integral do indivíduo

FABRÍCIO E CANTOS (2011) também mencionam que as intervenções terapêuticas e escolares precisam ser realizadas com base na compreensão integral do indivíduo, que acontece por meio de uma postura diagnóstica e da observação cuidadosa por parte dos profissionais, englobando uma conduta investigativa, o estabelecimento de vínculo, a troca de informações entre os envolvidos e as reavaliações periódicas das intervenções realizadas para replanejamento. Assim, permeando uma intervenção positiva.

É interessante ressaltar que o estudante é da escola. Então, cabe a cada um colaborar para os avanços no espaço escolar, com transformações e intervenções, ainda que pequenas, que possam propiciar o desenvolvimento integral da aluna e do aluno.

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É preciso que o educador busque novas estratégias e recursos diversificados, bem como mude seu olhar em relação ao diagnóstico, ao planejamento, ao replanejamento, à avaliação e à reavaliação. Pois, assim, ele estará sendo não só o agente transformador no processo educativo, como também o corresponsável pela formação integral das crianças.

Nesse sentido, aspectos relativos ao diagnóstico dos educandos, assim como qualquer outra de suas características, não podem ser neutralizados ou negados. Conhecê-los pode ajudar os educadores a identificarem os apoios necessários para que o estudante participe plenamente e em igualdade de condições da vida escolar.

Conhecer o estudante como ele é

O diagnóstico é um instrumento que viabiliza conhecer o indivíduo nas suas especificidades, para então traçar o caminho que o permita descobrir suas capacidades e sanar dificuldades.

A escola deve conhecer o aluno, como pessoa que é, a família, o meio no qual ele está inserido, além de reconhecer aspectos que precisam ser compensados por meio de estratégias e recursos que proporcionam ou ampliam as habilidades do estudante.

Assim, deve-se buscar parcerias com os atendimentos clínicos, se for o caso, identificar e diminuir ou eliminar as barreiras à participação e à aprendizagem presentes em seu contexto. Esse trabalho deve ser interligado com família e uma equipe multiprofissional para que se consiga bons resultados.

É importante que o educador trabalhe a autoimagem e a autoestima dos estudantes, pois muitos deles não acreditam em suas capacidades e habilidades. É necessário mediar a descoberta do “eu posso””, para garantir uma significativa descoberta do “eu aprendo”.

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Referências

BOATO, Elvio Marcos. A caminho de um ensino mais que especial. 1ª Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.

BRASIL, 2015, Lei n.13.146, de 6 de jul.de 2015.Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/com 2018/2015/ Lei/ L13146.html; acesso em 24 abril 2017.

FABRÍCIO, N.M.C; CANTOS, P.V.V. Diagnóstico-intervenção-perspectivas: atuação da escola inclusiva. Const.psicopedag.[On line].2011, vol.19, n.19, São Paulo.

ZIMMERMANN V.B. Singularidade na inclusão: estratégias e resultados. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2007.

FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Trad.Iara Rodrigues. Porto Alegre, RS:Artmed,1991.

PAGANELLI, Raquel. O papel da escola quando há hipótese de diagnóstico de deficiência.2018. Disponível em: http://diversa.org.br/artigos/o-papel-da-escola-quando-ha-hipotese-de-diagnostico-de-deficiencia. Acesso em: 20 de maio.2018.

PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed,1985.

RODRIGUES, Judite Filgueiras. Origem do Termo Diagnóstico. Disponível: http:// profjuditerodrigues.blogspost.com

Diagnóstico Psicopedagógico na Instituição Escolar. http://www.webartigos.com/articles/14213/1/DIAGNOSTICO-PSICOPEDAGOGICO-NA-INSTITUICAOESCOLAR /pagina3.htm#ixzz10VEW2QEg, publicado em 07/02/2009 por JUDITE RODRIGUESSOUZA, Audrey Setton Lopes. Pensando a inibição intelectual: perspectiva psicanalítica e proposta diagnóstica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.


Márcia Carvalho de Oliveira Quadros é pedagoga pela PUC/MG e psicopedagoga com experiência de vinte anos com diagnósticos e acompanhamentos de crianças com dificuldades de aprendizagem no espaço escolar na rede municipal de ensino de Carmo do Cajuru (MG).

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