Benefícios da leitura para estudantes com Transtorno do Espectro Autista

Educadora do Atendimento Educacional Especializado aponta práticas de sucesso realizadas em escola pública para apoiar estudantes na alfabetização

Este artigo aborda algumas estratégias metodológicas que estão sendo aplicadas e adaptadas para fortalecer a fluência leitora de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em uma escola pública do Estado de São Paulo, no Atendimento Educacional Especializado (AEE).

É uma proposta pedagógica para fortalecer e incentivar a leitura de forma individual, compartilhada, oral, lúdica, exploratória, interpretativa, crítica, criativa e interativa, ajustadas às necessidades individuais de aprendizagem de cada aluna e aluno, e que pode ser aplicada a todas e todos, sem exceção.

“O trabalho de escolarização das crianças com autismo exigirá dos professores uma reflexão sobre os processos usuais de ensino e aprendizagem, bem como um olhar diferente. Um olhar que leve em conta um estudante que não está em posição de curiosidade, mas que aprende de maneira específica e pouco convencional.”
(DIVERSA, 2018)

Assim, destaca-se a importância de estabelecer mecanismos que facilitem o estudo e o aprendizado, principalmente da alfabetização e da leitura, adaptando o ensino para as necessidades cognitivas de cada estudante, bem como a necessidade de eliminar a ideia de uma única estratégia metodológica de ensino ao identificar que cada indivíduo possui um ritmo próprio também ao aprender. Em outras palavras, alunos que possuem níveis variados de aprendizagem, mas interagem e desenvolvem a proposta de leitura e interpretação com interesse e criatividade.

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Valquiria Pereira, para a Revista Nova Escola (2013) declara que “a leitura de um texto requer conhecimento de seu propósito por parte dos alunos”: “para que ler, quais estratégias poderão ser utilizadas e o que se espera ao final. E é importante expor aos alunos esses propósitos em cada atividade. É necessário um trabalho que o ajude a ir além da leitura “palavra a palavra” ou “sílaba a sílaba” para buscar outros meios de identificação que permitam tornar a leitura mais fluente, utilizando paralelamente os processos de decifração e compreensão”.

Propostas de leitura

Das propostas que estão sendo aplicadas na escola, há a leitura compartilhada; a leitura exploratória; a leitura analítica; a leitura crítica; e a leitura criativa. Saiba mais sobre os objetivos de cada uma delas:

Leitura compartilhada ou colaborativa: Ler em grupo e expor as ideias ou interpretações sobre o que foi lido, podendo explorar os símbolos das palavras, as imagens de forma a incentivar os estudantes, principalmente aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem. Ao atribuírem sentido às palavras, também pode-se utilizar pequenas perguntas sobre as histórias em relação aos comportamentos ou sentimentos das personagens e, ainda, acrescentar recursos tecnológicos como aliados à leitura no processo de ensino-aprendizagem.

  • Leitura exploratória: Investigar o que há de principal no texto, ou nas imagens, para explorar outras ideias a partir desse entendimento. Essa estratégia é utilizada principalmente com estudantes que apresentam dificuldades de aprendizagem na alfabetização e se dá por meio de livros com textos curtos ou só com imagens.
  • Leitura analítica ou interpretativa: Ampliar o conhecimento de mundo e a parte linguística do contexto (relacionada à gramática).
  • Leitura crítica: Propor aos estudantes compreenderem e interpretarem a intenção do texto ao diferenciar a ideia do autor em relação à crítica do leitor ao analisar, concordar, relacionar, sugerir etc.
  • Leitura criativa com apresentação de teatro de fantoche (ou outros tipos de apresentações): Fortalecer a narrativa, promover o hábito à leitura com o desenvolvimento da imaginação e da capacidade de escuta, dar sequência lógica aos fatos, e ampliar o vocabulário e a criatividade.

Estratégias metodológicas

A seguir, são evidenciadas algumas das estratégias metodológicas que estão sendo aplicadas e adaptadas para fortalecer a fluência leitora dos estudantes:

  1. Proposta pedagógica com variedade de livros da literatura infantil e juvenil; uso do caderno meia pauta (adaptação de um caderno de desenho), em que metade da folha do caderno é separada com linhas e a outra é deixada em branco: essa adaptação oferece ao aluno a oportunidade de utilizar os dois espaços de forma diversificada.
  2. Mapa Conceitual: estrutura gráfica para representar o que foi lido. Teatro de fantoche, construído pelos próprios alunos com materiais reciclados para interpretação, contextualização e produção textual do livro.

Além disso, é feita a utilização do “livro de imagem”, recurso que pode ser manuseado por estudantes em fase de alfabetização, bem como na utilização da leitura oral gravada, com auxilio tecnológico dos aplicativos Google Forms, Jamboard e WhatsApp.

Educação inclusiva de fato

Não adianta apenas a permanência física de estudantes com deficiência junto aos demais na escola. É necessário representar urgentemente a ousadia de rever concepções e quebra de paradigmas, bem como desenvolver o potencial desses alunos, respeitando suas singularidades e ritmos para aprender.

Deve-se elaborar uma proposta integrada e inclusiva, que tenha como foco o desenvolvimento crítico e intelectual. Para isso, é importante a utilização de recursos tecnológicos e estratégias pedagógicas variadas.

Assim, é possível fortalecer e estimular o imaginário e a criatividade dos estudantes para prática de leitura e o seu empoderamento como indivíduos ativos e protagonistas de sua própria aprendizagem.


Maria de Lourdes de Moraes Pezzuol é mestre em educação, especialista em TEA, neuropsicopedagogia e psicomotricidade, professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e gestora voluntária de uma Ecobrinquedoteca, na cidade de Mogi das Cruzes.

2 Comentários

  • O ambiente escolar inclusivo tem que respeitar a diversidade dos alunos, o ritmo de aprendizagem, a percepção dos mesmos sobre o mundo e seu repertório cultural. Tudo isso tem a ver com as formas de intervenção na realidade escolar, no que a escola pode oferecer em termos de aprendizagem e construção de saberes. Outro aspecto, quanto o que pode modificar, no que pode contribuir para que o conhecimento realmente transforme ás pessoas e para que eles, os estudantes, transformem às comunidades onde vivem.

  • Uma educação realmente inclusiva contempla o diverso, o diferente, o simples, o complexo, não como difícil, mas como pessoas indivíduos inseridos numa sociedade globalizada, com mudanças céleres onde se deve exercitar o exercício de reinvenção das práticas pedagógicas escolares. Reinventar, ressignificar e refletir sobre a realidade em mutação de forma permanente, num exercício que leve às pessoas a modificarem seu modus vivendi e aos professores, suas formas de intervenção na realidade. O lema “É se propor ao novo, sempre”.

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