Escola do Espírito Santo utilizou recursos tecnológicos para promover a inclusão de aluna surda e o protagonismo estudantil de toda a classe
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Cândido Portinari, localizada em uma região rural de Sooretama, no Espírito Santo, recebe cerca de 500 estudantes, divididos nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Entre as alunas e alunos que estão matriculados, alguns são público-alvo da educação especial.
Em uma das salas de aula, um projeto para quebrar barreiras de comunicação e promover um bom relacionamento entre uma estudante surda e seus colegas motivou a criação de uma estratégia pedagógica inclusiva com a turma do ensino fundamental.
A ação contemplou atividades aplicadas ao uso de tecnologias digitais para aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem voltado ao ensino de língua portuguesa e da Língua Brasileira de Sinais (Libras) dentro do espaço escolar.
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A inclusão no ensino híbrido
A professora bilíngue (português e Libras), que colabora com a aprendizagem da estudante com deficiência auditiva, despertou nos demais estudantes ouvintes o interesse em aprender a língua de sinais.
Com isso, a educadora regente, juntamente com a professora bilíngue e um instrutor surdo que atuava na unidade, pensaram em como tornar o ensino acessível a todos os educandos e promover uma educação equitativa, em que surdos e ouvintes possam conviver sem quaisquer barreiras de comunicação.
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Denominado “Ensino híbrido”, a primeira etapa do projeto foi a criação de um site que dá acesso a materiais adaptados para Língua Brasileira de Sinais e a conteúdos curriculares de ensino em língua portuguesa e em Libras, para que o processo de ensino-aprendizagem possa ser realizado de forma simultânea.
Em seguida, foram criados grupos de Facebook e de WhatsApp para dar continuidade às atividades de forma remota e favorecer a interação de todos, mesclando momentos de entretenimento à proposta pedagógica.
Na terceira etapa, aconteceram aulas de Libras, ministradas para os estudantes ouvintes, no modelo de ensino híbrido e de “aula invertida” – os educandos se tornam professores.
Todo material da aula era disponibilizado antecipadamente à estudante com deficiência, que pesquisava no site de estudos, com o apoio do professor bilíngue, e, depois, se tornava a professora de Libras. Ou seja, a própria aluna ensinava aos seus colegas ouvintes a língua de sinais.
As aulas foram realizadas em uma sala virtual, no Google Meets, e o acesso dos estudantes era feito a partir dos recursos tecnológicos da escola e com seus próprios celulares.
Desafios e os resultados obtidos
O projeto se iniciou com um grande objetivo: incluir uma estudante com deficiência na turma. Entretanto, esse desafio não foi o único a ser superado dentro da realidade da escola.
Por estarmos em uma escola localizada na região rural, o acesso à internet é muito instável, o que, em algumas ocasiões, dificultou a realização de atividades síncronas. Porém todos os envolvidos estiveram empenhados na aprendizagem dos conteúdos e conseguimos dar continuidade ao projeto.
Todos os estudantes mostraram vontade de aprender, principalmente por utilizarmos recursos tecnológicos e por existirem momentos de descontração durante os estudos. O processo de inclusão foi muito satisfatório e todos os estudantes tiveram uma melhora em seu desempenho escolar, na autoestima e se sentiram valorizados ao serem protagonistas do processo de aprendizagem, com a troca de ensinamentos sobre as diferentes formas de se comunicar.
Essa experiência não foi importante apenas para esses estudantes, mas para toda a escola, uma vez que ficou nítida a necessidade de uma educação inclusiva na sala de aula comum, onde todas e todos têm o direito de estar e de aprender.
O objetivo da nossa escola é dar continuidade ao projeto, estendendo o ensino de Libras para todas as turmas e ampliando o uso do projeto “Ensino híbrido”, com adoção das novas tecnologias digitais para outras disciplinas.
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