Trabalho colaborativo é parte de estratégia para receber jovem com TEA

Coordenadora e professoras de escola estadual no Piauí falam sobre o planejamento de aulas inclusivas para participação plena de todos

Dante chegou à Unidade Escolar Professora Maria de Lourdes Rebêlo, localizada em Teresina (PI), no ano de 2018 para iniciar o curso do ensino médio. O estudante, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), precisava de um profissional de apoio que o acompanhasse no ambiente escolar, além do profissional do serviço de Atendimento Educacional Especializado (AEE), que já havia na escola.

Quando falamos em inclusão, sabemos que o sistema em si não oferta condições para o profissional de educação. É o professor que, com a experiência, desenvolve atividades e práticas inclusivas para o aluno.

Dante não foi o primeiro jovem com TEA que a escola teve, mas cada estudante é diferente. Para nunca deixar ninguém para trás, criamos estratégias pedagógicas que abarquem as especificidades e apoiem o desenvolvimento das habilidades de cada um.

Desde o primeiro ano, notamos que o estudante é curioso, tem motivação para crescer e se interessa no processo de ensino-aprendizagem. e então, ele sempre participou das atividades, sendo em sala de aula ou fora dela. No início ele apresentou dificuldades de aprendizagem, principalmente para acompanhar as aulas de leitura, mas nós proporcionamos vários tipos de leitura, tanto o professor da sala comum quanto o professor do AEE. O estudante chegou a participar de saraus literários, fazendo declamações de poesia.

O jovem também desenvolveu seus conhecimentos em matemática, a partir do segundo ano, com auxílio da educadora da disciplina, que trazia diferentes tipos de objetos para trabalhar os temas de forma concreta em sala de aula.

 

Em sala de aula, estudante usando óculos sorri enquanto olha para figura montada com formas geométricas sobre a mesa. Fim da descrição.
Foto: Ana Celia Vieira. Fonte: Arquivo pessoal.

Boas práticas em andamento

Para que o trabalho inclusivo fosse realizado com sucesso, foi necessária a execução de algumas ações a fim de proporcionar bem-estar no ambiente escolar e desenvolver boas práticas no processo de ensino-aprendizagem.

Os pontos principais que levamos em consideração foram que o aluno fosse acolhido por toda a equipe escolar; que uma adequação dos materiais didáticos e dos componentes curriculares fosse realizada para possibilitar a participação do estudante no dia a dia em sala de aula; que Dante também participasse das atividades sociais da escola, como desfiles e recitais; e que sua autoestima fosse trabalhada por meio de vídeos, filmes, audiolivros e diálogos com os profissionais da escola.

Fora a adequação dos materiais, também passamos a oferecer diferentes formas de ensino com utilização de linguagem objetiva. Além de atividades escritas, trabalhamos, por exemplo, com material lúdico, adequação das avaliações, música e materiais concretos.

 

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Ensino remoto

O discente esteve no ensino presencial nos anos de 2018 e 2019. Em 2020, devido à pandemia da covid-19, seu acompanhamento pedagógico foi realizado de forma remota e tinha como principal meio de comunicação o celular da mãe, por meio de videochamadas e mensagens por WhatsApp. A gestão, especificamente a coordenadora pedagógica e a profissional do AEE, deram assistência durante todo o ano letivo.

A família de Dante realizou a retirada do material impresso na escola, conforme o agendamento da coordenação, e fazia a devolutiva das atividades no mesmo local. O material foi reproduzido pelos docentes e pela professora do AEE de acordo com os conteúdos programáticos.

Além dessas ações, a metodologia, recursos e estratégias utilizadas com o discente foram planejadas para reduzir o impacto da suspensão das aulas por meio de aulas expositivas dialogadas, seja no próprio ambiente escolar e/ou virtual.

 

Em casa, estudante usando óculos escreve em caderno sobre mesa. Fim da descrição.
Foto: Sheila Silva. Fonte: Arquivo pessoal.

Sendo assim, fora as atividades previstas no currículo, foram propostos alguns exercícios para desenvolver as habilidades de atenção e concentração, por meio de jogos como caça-palavras, jogo da memória, cruzadinhas, jogo dos setes erros, quebra-cabeça, figura oculta e indicações de filme para discussão posterior. Todos esses materiais estiveram de acordo, de forma interdisciplinar, com os demais conteúdos pedagógicos.

Para o desenvolvimento do pensamento lógico e resolução de problemas matemáticos, o estudante utilizava, além do material concreto, a calculadora. Para o desenvolvimento da leitura, eram indicadas leituras diversificadas para interpretação e produção textual. Vale ressaltar que, no caso deste estudante, a presença da linguagem não verbal é de maior domínio para uma compreensão melhor nos textos verbais. Portanto, a linguagem mista é a mais adequada para seu entendimento e é por meio do questionamento e da interação que o aluno adquire mais formas de raciocínio.

Frutos da inclusão

O trabalho colaborativo com as professoras de AEE também apoiaram o desenvolvimento dessas competências, pois elas proporcionavam atividades extras. Onde víamos que ele estava com mais dificuldades de aprendizagem, elas procuravam atividades que poderiam favorecer aquela habilidade.

Dante sempre esteve motivado a executar as atividades, e acreditamos que isso favoreceu muito a evolução do potencial dele. Quando ele entrou no primeiro ano, dizia: “professora, eu vou pra universidade?”. E eu respondia: “se você quer, você vai”. Então, ele sempre teve isso na cabeça. Em 2021, Dante foi aprovado para ingressar no ensino superior no Instituto Federal do Piauí.

 

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