Em 2020, a professora de educação especial Amy Campbell recebeu o prêmio de Educador do Ano em distrito nos Estados Unidos
Amy Campbell é professora há 13 anos na escola primária Helen Baller, instituição pública que recebe cerca de 600 crianças com e sem deficiência. Também é participante ativa de grupos de liderança sobre educação inclusiva na cidade de Camas, nos Estados Unidos, e colabora com o estabelecimento de normas e oportunidades de desenvolvimento profissional aos seus colegas. Seu amplo conhecimento sobre serviços relacionados a pessoas com deficiência permite que ela conecte famílias com apoios externos.
Em 2020, Amy foi nomeada Educadora do Ano do estado de Washington, por meio do Office of Superintendent of Public Instruction (Escritório de Superintendência de Instrução Pública de Washington). A premiação acontece anualmente e os educadores selecionados na fase regional concorrem ao prêmio de Educador do Ano em caráter nacional.
De acordo com a educadora, o reconhecimento adquirido por meio da premiação permitiu conexões com outros professores e líderes do estado e o compartilhamento da visão de equidade para a criação de ambientes escolares acessíveis.
No caso da escola Helen Baller, há um plano de educação individualizado a todos os estudantes com deficiência, além de programas de ensino e aprendizagem que apoiam as especificidades das crianças, valorizando suas potencialidades. A instituição também favorece a desmistificação de diferentes tipos de linguagem, estimulando grupos de apoio para praticar o uso de dispositivos de comunicação alternativa.
O intuito é gerir comunidades que sustentem a si mesmas, em que a equipe pedagógica trabalha para a inclusão de todos e a instituição tem trabalhado para se tornar cada vez mais inclusiva.
Precisamos reconhecer que os estudantes não têm necessidades especiais, eles têm necessidades humanas.
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Garantia de uma educação de qualidade
Embora as matrículas de estudantes com deficiência em escolas comuns tenham aumentado consideravelmente desde o início de seu trabalho, Amy acredita que ainda existem avanços e direitos a serem conquistados, dentre os quais a disponibilização de recursos e a capacitação de docentes.
Em 2019, o estado investiu mais de 25 milhões de dólares para apoiar recursos acessíveis, e há, no país, leis federais que protegem os direitos das pessoas com deficiência nos aspectos gerais da sociedade, inclusive para garantir uma educação pública de qualidade.
Esses requisitos podem influenciar a participação das crianças nas aulas e não diz respeito somente a pessoas com deficiência, uma vez que a aprendizagem passa a ser mais significativa e possibilita a valorização das potencialidades de cada um.
“Todos precisam se sentir capazes de desenvolver uma relação real com cada estudante, para colaborar com sua jornada educacional, sem importar em que nível de aprendizado ele está. A segregação começa quando os professores sentem que não têm o necessário para apoiar um estudante.”
Em sua experiência com educação inclusiva, Amy destaca o maior desafio encarado até hoje: enfrentar o pensamento da educação tradicional, cujo modelo tenta encaixar o estudante num padrão de obtenção de conhecimento que nem sempre funciona para todos. Para ela, a importância da valorização da diversidade e do poder do ensino permite criar oportunidades para que cada criança experiencie sua autonomia e sucesso.
Como a educação inclusiva beneficia a todos
Os efeitos positivos gerados por meio de estratégias educacionais inclusivas vão muito além das oportunidades aos estudantes com deficiência. Uma vez que o ambiente inclusivo permite a convivência com diferentes contextos, habilidades e ideias, a vida em sociedade é beneficiada como um todo.
Segundo Campbell, as experiências vividas na escola possibilitam o desenvolvimento de empatia e colaboram para a criação de relações baseadas em gentileza e aceitação: “temos ideias diferentes e experiências diferentes, o que nos torna mais fortes. Precisamos ensinar sobre diferenças e deficiências para desmistificar comportamentos e tipos de comunicação diferentes.”
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”Mais do que apenas um modelo de como ser acessível, a escola precisa oferecer um aprendizado concreto”, defende a educadora. Uma vez que o corpo docente entende que cada um aprende à sua maneira, no seu tempo, a verdadeira inclusão é colocada em prática.
“Sou motivada pelo entendimento de que nossas comunidades são mais fortes quando sabemos como incluir a todas e todos.”
Embora os estudantes com deficiência da Helen Baller tenham planos de aprendizagem individuais, que permitem um acompanhamento de seu progresso acadêmico, Amy afirma que as experiências adquiridas na sala de aula comum auxiliam significativamente no desenvolvimento de suas habilidades e contribuem para os aprendizados que acontecem fora da sala.
“Temos criado experiências que se adequam aos pontos fortes do processo de aprendizagem e oportunidades para que os estudantes mostrem seus aprendizados de diferentes formas.”
Trabalho colaborativo
A educadora afirma que as instituições educacionais da região possuem diferentes modelos de ensino de acordo com sua gestão, e isso causa um impacto significativo nas experiências inclusivas dos estudantes: “a escola precisa enxergar as crianças como capazes e entender que as diferenças sempre estarão presentes na sala de aula.”
Já em relação aos educadores, Amy explica que a colaboração entre os profissionais de educação especial e os da sala comum é fundamental para alcançar todos os estudantes. Familiares e responsáveis também são ótimas fontes de informação sobre os conhecimentos que a criança possui e os interesses que a motivam.
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O trabalho conjunto permite que informações sejam compartilhadas, principalmente em relação a como implementar estratégias pedagógicas, utilizar tecnologias assistivas e desenvolver conteúdos alinhados ao Desenho Universal para Aprendizagem, para prover alternativas de ensino significativas.
“Nós ainda estamos desenvolvendo a capacidade de entender todo o potencial da educação inclusiva em nossos sistemas, para assegurar resultados além do ensino básico para todos os estudantes, independentemente de terem ou não deficiência.”
Educação na pandemia
De acordo com a professora, o processo de inclusão enfrentou algumas barreiras durante o fechamento das escolas por conta da pandemia da covid-19. Os docentes precisaram pensar em novas formas de apoiar os estudantes no ensino on-line.
A colaboração com os familiares, as inovações e os esforços para manter uma educação para todos nesse período foram os responsáveis pela construção de novos sistemas de ensino e suporte a distância. O intuito é manter os alunos motivados a acompanhar as atividades remotas.
A escola permanece fechada para aulas presenciais, mas experiências inclusivas continuam sendo realizadas por plataforma de reuniões on-line. O conhecimento humano e tecnológico adquirido nesse período são bem avaliados pela educadora:
“Penso sobre como meus estudantes com deficiência irão se beneficiar agora que aprenderam a usar as ferramentas. As possibilidades são infinitas.”
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