Protagonismo, trabalho colaborativo e ampliação de vocabulário marcam projeto idealizado para romper barreiras e incentivar atividade teatral
Somos educadores da E.M. Angelina Daige, localizada no município de Guarujá, região litorânea do estado de São Paulo. A escola oferece ensino fundamental I e possui 10 salas de aula tanto para o período da manhã, quanto para o da tarde.
Em 2019, a turma do 1º ano D era composta por 29 estudantes bem agitados e comunicativos. Dentre eles, Yuri era um aluno com paralisia cerebral. Ele não falava e tinha comprometimento motor nas pernas e rigidez na mão.
Identificando barreiras e criando estratégias
Ao longo das aulas, percebemos que Yuri tinha dificuldades para se comunicar com os outros estudantes e participar das atividades propostas. Por conta disso, visamos criar uma estratégia pedagógica para eliminar barreiras à plena participação de todos os estudantes aos conteúdos trabalhados.
Partindo do interesse da turma por contação de histórias e a apreciação deles pela biblioteca da escola, pensamos em elaborar uma atividade de teatro de fantoches. Imaginávamos que seria uma forma bem divertida de estimular a participação de todas e todos.
A Cartola mágica
Percebemos que somente o teatro não seria suficiente para uma aula motivadora e divertida, seria necessário algo diferente para promover a interação de todos. Assim surgiu a ideia da Cartola mágica, material pedagógico acessível que possibilita a montagem de um teatro interativo produzido pelos próprios estudantes.
A cartola possui um sensor de presença que capta movimento e ativa 14 sons de forma aleatória, entre músicas e sons de animais. Esses recursos sonoros são emitidos assim que um dos estudantes coloca ou passa uma das mãos sobre a boca da cartola.
+ Aprenda a confeccionar a Cartola mágica
Com ela, é possível criar atividades teatrais para estimular o desenvolvimento da oralidade e da criatividade de todas e todos os alunos. Além da cartola propriamente dita, nos preocupamos em criar materiais de apoio para a construção do cenário do teatro, como molduras, bonecos etc.
Participação dos estudantes
Ao longo das atividades, nos preocupamos em promover meios para que Yuri participasse de todas as etapas do projeto. Por conta disso, os fantoches foram confeccionados com velcros e adaptamos luvas feitas com meias. Dessa forma, os estudantes “vestiam” meias com velcros em suas mãos e conseguiam pegar as figuras do painel com mais facilidade.
Todos os estudantes participaram da elaboração da Cartola mágica e dos materiais de apoio. Nas aulas, eles deram sugestões de personagens, escolheram figuras para impressão dos fantoches em feltro e selecionaram áudios para a história. Além disso, também fizeram pinturas com tinta para a decoração da moldura do teatro.
A gestão escolar também foi envolvida no processo. Os áudios escolhidos foram gravados pela diretora, enquanto uma das educadoras da escola ficou responsável pela confecção dos fantoches. Outro ponto positivo do projeto foi o trabalho colaborativo entre o professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e a professora da sala comum.
+ Saiba como a Cartola mágica se articula com a BNCC
Alegria e motivação contagiante
Após a finalização do material, o apresentamos aos alunos. Organizados em duplas na sala de leitura da biblioteca, eles passavam a mão sobre a cartola, ouviam o som, direcionavam a mão (com a meia) na figura do painel, escolhiam seu fantoche e dirigiam-se ao teatro.
A partir daí, criavam uma história de acordo com sua criatividade. Sempre produziam uma história diferente e curiosa. Os estudantes que estavam na plateia interagiam cantando, imitando os sons dos animais e ajudando aqueles que tinham dificuldade em falar alguma palavra.
Todas e todos participaram da atividade com a Cartola mágica, demonstrando muita motivação e alegria. Ficou claro que o material estimulou o protagonismo e desenvolveu atenção e espera (despertando o respeito à fala do outro), além de ampliar o vocabulário de toda a turma.
Yuri foi auxiliado pelo professor de AEE e participou com entusiasmo. Conseguiu acionar o som da cartola e escolheu seu fantoche. Ficamos admirados ao ver o seu sorriso contagiante.
“A Cartola tornou-se mágica para todos”
Foi muito gratificante ver a participação de professores, funcionários e equipe gestora durante todo o projeto. Professores ofereceram-se para costurar o velcro nas meias, fazer o painel com as figuras e decorar a Cartola.
O marido da vice-diretora confeccionou o tripé em madeira para o painel com as figuras, a diretora gravou os sons selecionados para a cartola e a inspetora de alunos preparou a biblioteca para a realização da atividade, tudo com muito carinho.
Alguns familiares também apoiaram e incentivaram a participação dos alunos. Sem dúvida alguma, a Cartola ajudou a eliminar barreiras e tornou-se mágica para todos!
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do Materiais pedagógicos acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Lemann. O objetivo é contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.