Material desenvolvido para conteúdo de ciências possibilita trabalho em equipe e elimina barreiras para garantir a participação de todos
Somos educadoras da EMEF Guimarães Rosa, localizada na zona leste da cidade de São Paulo (SP). Em 2019, uma das nossas turmas de 3ª ano do ensino fundamental tinha estudantes em diferentes níveis de aprendizado: alguns estavam alfabetizados, enquanto outros ainda não dominavam a escrita.
Uma aluna, dentre os 23 estudantes, tinha deficiência múltipla e não conseguia se expressar usando palavras. Ela apenas emitia sons que nem sempre eram compreendidos pelos professores e colegas. A sala também apresentava dificuldades de comunicação e interação entre os estudantes.
Identificando barreiras e criando estratégias
Diante desse cenário, era um desafio para qualquer professor elaborar propostas que levassem em consideração as singularidades e o estágio de aprendizado de cada estudante. Tendo em vista essa situação desafiadora, discutimos a possibilidade de elaboração de uma estratégia pedagógica que proporcionasse aprendizado e acesso ao currículo a todos os estudantes da sala.
Em diálogo com a coordenação pedagógica, com o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e também com a comunidade escolar, analisamos a construção de um material pedagógico acessível que possibilitasse interação e trabalho colaborativo entre os alunos.
Partindo da predileção dos próprios estudantes por música, começamos a idealizar um material para ser utilizado por todas e todos que apresentasse efeitos sonoros, visuais e luminosos.
Além disso, como os estudantes estavam trabalhando aspectos do reino animal em sala de aula, entendemos que era possível articular o uso do material ao conteúdo da disciplina de ciências, como as características e o desenvolvimento de animais.
Com a definição da proposta, passamos para a fase de concretização do material. Pensamos em associar o acionamento de luzes e sons a um jogo de perguntas e respostas sobre características de animais. Nossa ideia era acionar os efeitos sonoros e visuais para confirmar respostas corretas. Assim, o “Painel de adivinhação” começou a ganhar forma.
O Painel de adivinhação
Pretendíamos que o recurso fosse utilizado para que os estudantes pudessem adivinhar o animal trabalhado a partir de características apresentadas no jogo. Caso a aluna ou o aluno acertasse a resposta, o painel emitiria sons e luzes.
Dando sequência ao nosso planejamento, o painel de adivinhação foi construído a partir de uma caixa sonora e visual, com botões para o acionamento de respostas, e estruturas com velcro para a utilização de imagens de animais. Cada botão corresponde a uma possibilidade de resposta.
+ Aprenda a construir o Painel de adivinhação
A partir de dicas fornecidas ao longo do jogo, os estudantes precisam adivinhar o animal que possui as determinadas características. Após realizaram a sua escolha, de acordo com as alternativas, os estudantes selecionam um dos animais e apertam o botão correspondente. Se estiver errado, nada acontece; mas, se correto, luz de LED e o som do animal são emitidos.
Por exemplo, caso as dicas sejam “bota ovos”, “se alimenta de grãos” e “vive em granjas”, os estudantes podem supor que a resposta correta seja “galinha”. Ao decidirem por uma resposta, eles poderão testá-la no painel.
Ao longo do processo, também tivemos o cuidado de possibilitar a troca de áudios e imagens do material. Dessa forma, é possível trabalhar outro conteúdo de ciências ou de outras disciplinas, bem como alterar os animais.
A aplicação do material superou nossas expectativas
Com o recurso finalizado, decidimos apresentá-lo aos estudantes. Para que houvesse maior interação entre todos, realizamos a divisão em grupos. Assim, eles puderam conversar para descobrir qual a resposta mais adequada, levando em consideração as pistas do jogo. Ao chegarem a um consenso, apertavam o botão correspondente a um dos animais do material para descobrir se a escolha estava correta.
A atividade em sala superou as nossas expectativas, permitindo a interação, a troca de conhecimentos e a participação dos estudantes de uma forma mais ativa e lúdica. Todos gostaram do jogo. Eles ainda sugeriram outros animais para serem usados e conseguiram responder corretamente todas as questões.
O Painel de adivinhação foi benéfico para o aprendizado de todas e todos, proporcionando o trabalho em equipe. Cada grupo teve a possibilidade de testar a resposta de forma instantânea. Se a escolha estivesse incorreta, eles poderiam observar as dicas e realizar posteriormente uma nova tentativa.
Multidisciplinaridade
Após a aplicação, optamos por deixar o material disponível na Sala de Recursos do AEE para ser utilizado por qualquer turma ou disciplina. Para isso, basta apenas que os educadores interessados realizem a adaptação das imagens e troca dos áudios do material.
+ Entenda mais sobre o material e saiba como ele se articula com a BNCC
Por exemplo, em matemática o professor poderá escrever um problema na lousa. Após a resolução, o aluno apertaria o botão do painel correspondente ao resultado que ele acredita estar correto. Se estiver, os efeitos sonoros e luminosos serão emitidos para mostrar que ele acertou. Também é possível trabalhar com contação de histórias e com outros conteúdos de diversas disciplinas. Basta dar asas à imaginação.
Adivinhe: a experiência foi incrível para nós?
Para nós, foi uma experiência rica e gratificante. Nos permitiu refletir sobre a importância de criar condições de participação a todos os estudantes, independentemente das suas situações de aprendizagem.
Também estreitou os laços entre os professores de AEE e da sala comum para desenvolver estratégias pedagógicas de eliminação de barreiras e garantia de acesso ao currículo a todos os estudantes, levando em consideração as especificidades e potencialidades de cada.
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do Materiais pedagógicos acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Lemann. O objetivo é contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.