Material pedagógico acessível elimina barreiras comunicacionais, proporciona estudo sobre meio ambiente e estimula senso de pertencimento
Somos educadoras da UME Cidade de Santos, escola de ensino fundamental localizada no município de Santos, na região litorânea do estado de São Paulo. Em 2019, uma das turmas de 1º ano em fase de alfabetização era bem heterogênea e contava com 26 estudantes muito participativos, com média de sete anos de idade.
No início do 2º semestre, recebemos o aluno Pablo, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ele se alfabetizou sozinho aos 4 anos e possui altas habilidades para o aprendizado. Porém, Pablo tem dificuldade em se relacionar com os colegas e aceitar regras. Quando contrariado, apresenta atitudes que dificultam sua socialização com a turma.
Elaborando estratégias pedagógicas
Diante desse contexto, buscamos formas de eliminar as barreiras comunicacionais entre os estudantes e proporcionar aprendizado a todas e todos. Nós, uma professora da sala comum e outra do Atendimento Educacional Especializado (AEE), em colaboração, decidimos elaborar um material pedagógico acessível (MPA) que proporcionasse a todos os estudantes o acesso ao conteúdo do currículo.
Partindo do interesse do Pablo por caminhões amarelos, tivemos algumas ideias. Inicialmente, pensamos em um jogo de tabuleiro que utilizasse caminhões de reciclagem, mas ainda não era o que queríamos. Nossa intenção era criar um recurso interativo e em tamanho ampliado. Depois de muita conversa e algumas adaptações, decidimos criar o Caminho sustentável.
+ Aprenda a construir o material
Trilha da sustentabilidade
O material possui uma trilha gigante como tabuleiro, com várias casas. A trilha foi inspirada no entorno escolar para estimular o senso de pertencimento comunitário.
O jogo permite aos estudantes tomar decisões coletivas sobre preservação do meio ambiente e descarte correto de lixo e resíduos. Em cada uma das casas do jogo, os estudantes se deparam com uma situação a ser analisada. Após refletirem sobre o problema em questão, eles devem escolher a melhor solução sustentável para o meio ambiente.
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O jogo também conta com inúmeros recursos visuais e sonoros. Como parte do material, elaboramos pequenos caminhões de lixo que transitam pelo caminho sustentável e recolhem os lixos e resíduos descartáveis.
Para a construção do material, levamos em consideração conteúdos articulados com a Base nacional comum curricular (BNCC). Entre as disciplinas envolvidas estão ciências (meio ambiente, reciclagem e lixo), geografia (noção espacial e entorno escolar), matemática (noção espacial, números e lateralidade) e língua portuguesa (leitura, escrita, interpretação e oralidade).
+ Como o Caminho sustentável se articula com a BNCC
Estudando a sustentabilidade em sala de aula
Em sala de aula, preparamos uma sequência didática para trabalhar outros projetos envolvendo o tema da sustentabilidade. As crianças assistiram a filmes, participaram de palestras com educadores ambientais e estudaram a reutilização de resíduos, como garrafas pet.
Também trabalhamos a leitura de livros didáticos e realizamos atividades sobre reciclagem. A construção do material foi, então, a finalização de um longo processo de estudo sobre o assunto.
Em todo o processo de elaboração e desenvolvimento do Caminho sustentável, os estudantes participaram customizando o material e criando sugestões de questões para o jogo.
Aplicação do material
Após a finalização do material, chegou o dia de aplicarmos em sala de aula. Preparamos o jogo na sala de informática e separamos os estudantes em grupos.
Os estudantes tinham que percorrer os trajetos da escola, construídos no tabuleiro, e recolher os lixos espalhados com o auxílio dos caminhões. Ao parar nas casas do tabuleiro, deviam responder coletivamente a uma questão sobre sustentabilidade.
Por fim, os estudantes ainda deveriam separar os lixos recolhidos ao longo do trajeto conforme o tipo de resíduo a que correspondiam: vidro, lixo orgânico, metal etc. O material possibilitou que eles se movimentassem ao longo dos trajetos, além de escrever as respostas na lousa e fazer a leitura das questões.
Participação e aprendizado
Todos participaram ativamente de todas as atividades, interagindo e trabalhando colaborativamente. Pablo também jogou em grupo com seus colegas e leu as questões para o grupo verificar se houve descarte correto.
Percebemos que todas e todos se apropriaram do conteúdo estudado, respondendo às questões com grande consciência. Além disso, demonstraram grande protagonismo ao longo das atividades propostas, fazendo sugestões e levando soluções.
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do Materiais pedagógicos acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Lemann. O objetivo é contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.