Após ações da SME para difusão da cultura surda, foi iniciado o processo de transição de uma escola municipal para um polo bilíngue
O município de Caieiras fica localizado na sub-região norte da região metropolitana de São Paulo. A rede municipal de ensino conta com conta com 39 escolas de educação infantil e ensino fundamental.
Em 2023, cerca de 10 mil estudantes estão matriculados nas unidades de ensino. Desse total, 219 são estudantes público-alvo da educação especial. Uma parcela dos estudantes da nossa rede tem algum nível de deficiência auditiva, surdez ou são filhos ouvintes de pais surdos, o que nos fez pensar nesse público, que pode aumentar no futuro.
Desde 2020 a Secretaria Municipal de Educação, por meio do núcleo de Difusão da Cultura Surda e da Libras (DCSL), do qual fazemos parte, tem realizado ações para promover a cultura surda em nossa rede, principalmente no ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Essas ações envolviam cursos abertos à comunidade escolar; atendimento aos familiares das crianças surdas de nossa rede; eventos adequados com acessibilidade para surdos.
Uma ação importante desenvolvida nas escolas municipais que não podemos deixar de evidenciar são as intervenções em Libras feitas nas salas das crianças surdas, com envolvimentos dos familiares e dos professores com debates em Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), pois sabemos que é nessa primeira fase, dentro da educação, que devem estar em contato com pessoas surdas para iniciar as primeiras noções sobre a cultura, as formas de comunicação e a comunidade surda.
Início da implementação
O grupo de educadores e gestores decidiu que a melhor forma de desenvolver o trabalho é a partir do planejamento pedagógico de cada professor, que poderia ser feito de forma colaborativa.
Para iniciar a implementação da educação bilíngue, foi definido que o professor regente entraria na sala comum acompanhado de um intérprete de Libras. Durante a aula, um horário pré-definido é usado para o ensino da língua de sinais, usando o assunto/tema que está sendo trabalhado naquele momento pelo professor regente.
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Iniciamos com sinais de cortesia (bom dia, boa tarde, boa noite, obrigada, por favor, com licença, desculpe, “posso beber água?”, “posso ir ao banheiro?”) e a empolgação tomou conta da escola. Todos sinalizando o que sabiam. Não demorou muito para que os familiares dos estudantes do ensino fundamental percebessem mudanças em casa, e os professores, na escola.
A mãe surda de uma das crianças, que antes não participava tão ativamente das atividades da escola, reconhecendo os esforços de todos, passou a interagir mais conosco, sem receio de que não seria atendida.
A mesma dinâmica realizada com as crianças acontece com os adultos da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI). Os professores selecionam os sinais e nós entramos na sala para ensinar. A diferença de público é denotada principalmente pelas vivências significativas que as alunas e os alunos adultos trazem de bagagem e que são aproveitadas pela equipe no processo de ensino-aprendizagem.
Concomitante a esse movimento, no período noturno também acontece o Projeto Fluindo Libras, no qual, uma vez por semana, estudantes surdos frequentam o espaço da EJAI, o que possibilita a interação entre pessoas surdas, familiares, ouvintes e demais interessados da comunidade escolar.
Polo bilíngue
Os resultados de todas essas ações, embora tímidos no início, ganharam proporções de peso, e possibilitaram as primeiras iniciativas para o processo que ainda está em transição na EMEB Joaquim Osório de Azevedo para um polo bilíngue (com ensino de língua portuguesa e Libras), no qual há oferta do ensino fundamental durante o dia e no EJAI à noite.
O estudo para o projeto teve início no fim de 2022. Em 2023 se deu a continuidade do processo, com o ensino da Língua Brasileira de Sinais em sala de aula, para implementar, no ano letivo de 2024, a educação bilíngue de fato.
A escolha da EMEB Joaquim Osório de Azevedo para ser o primeiro projeto de polo bilíngue da cidade se deu por conta da localização, pois está na região central da cidade, o que facilita o acesso de todos, além de haver um bom número de estudantes matriculados. Outro motivo é para alcançar o público da EJAI.
A expectativa de atingir nossa meta possibilitou ações que fez com que crianças de outros bairros, com deficiência auditiva, fossem matriculadas na EMEB, pois teriam acesso à aprendizagem em Língua Brasileira de Sinais. Ao iniciar a proposta e durante o início do ano letivo, participamos do planejamento pedagógico e reunimos a gestão escolar, o corpo docente e demais profissionais da escola para entender a expectativa, anseios e dúvidas sobre o novo modelo.
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Primeiro fizemos uma reunião com a equipe gestora da unidade para explicar a proposta. Depois, participamos do momento em que os educadores estavam reunidos no HTPC para apresentar a eles. Esse grupo é a nossa ponte até as crianças e, portanto, não podem caber dúvidas.
Este ano, o professor regente da sala acompanha as intervenções em Libras, que acontecem em todas as salas do primeiro ano até o EJAI e aborda os mesmos conteúdos que o professor regente está ministrando no momento.
Combinamos com a equipe gestora que participaríamos dos encontros durante o ano letivo, tendo o espaço de uma hora, aproximadamente, para tratar assuntos acerca da educação bilíngue, cultura surda e Libras. Esse combinado se deve à necessidade de estudarmos juntos para alinharmos os trabalhos. Acordamos que tudo seria decidido coletivamente e a aceitação foi unânime, para nossa felicidade.
Evidenciando os projetos
Nos momentos de HTPC e Formação do núcleo de Difusão da Cultura Surda e da Libras (DCSL), nossa equipe sentiu que precisaria evidenciar o envolvimento da unidade escolar de alguma forma. Afinal, o trabalho e empenho são de todos e nós do núcleo somos apenas agentes multiplicadores.
Então surgiu a ideia de comemorar o dia 24 de abril, Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais, apresentando as produções de três meses dos projetos de alunas e alunos das salas regulares e do Fluindo Libras. Foi assim que nos envolvemos todos nesse evento, com apresentações das crianças durante a manhã e à tarde, e com roda de conversa com surdos, estudantes do curso de Libras (iniciante e intermediário) e, à noite, da EJAI e convidados da comunidade surda e escolar.
Foi um dia e uma noite repletos de trocas, aprendizado e alegria a todos, mas principalmente a nós, que tanto almejamos ver em ação tudo aquilo que planejamos e estudamos. Ver a participação de todos, sinalizando, foi mais que satisfatório. Foi uma injeção de ânimo para continuidade e expansão, para um dia transcender os limites do município.
Continuação das ações
Nós acreditamos ter extrapolado nossas expectativas iniciais para os projetos desenvolvidos. E já sonhamos mais alto, visto a receptividade e devolutiva tão positivas. Agora é firmar nossas parcerias e dar sequência, para alcançar nossos objetivos específicos:
- Difundir a cultura surda e a Língua Brasileira de Sinais entre estudantes, professores e demais funcionários da unidade escolar, de maneira prática e vivenciada;
- Garantir o atendimento de maneira efetivamente inclusiva por meio do bilinguismo;
- Evidenciar e fortalecer a comunidade surda do município, reconhecendo-a e cadastrando-a.
Continuamos com ações afirmativas para disseminação da cultura surda, pois essa é uma forma de tornar a nossa rede de ensino inclusiva a esse público e promover a sua cultura a todos.
Atualmente estamos dando orientação pedagógica aos educadores da rede com estudantes surdos e temos duas turmas para o ensino de Libras (iniciante e intermediário). Além disso, estamos formando os agentes da Guarda Civil Municipal (GCM) para estarem aptos na comunicação com munícipes surdos e desenvolvemos orientação para acessibilidade comunicacional em Libras para eventos da Secretaria Municipal de Educação.