Em 26 de julho é comemorado o Dia do Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Esse profissional é importantíssimo para a inclusão social plena das pessoas com deficiência auditiva, inclusive para o seu processo educacional.
Em contextos sociais específicos, como uma consulta no hospital, na compra de passagens na rodoviária, na realização de uma denúncia na delegacia, na sala de aula ou até mesmo na realização de um contrato de aluguel, é possível notar a importância da tradução/interpretação entre Libras e Língua Portuguesa. Esse é um trabalho que visa garantir a compreensão linguística, a mediação cultural e a participação social em Libras e em português em diferentes contextos.
Historicamente, no Brasil a atuação do tradutor/intérprete de Libras tem se dado majoritariamente em contextos educativos, em especial na sala de aula. Seja nas escolas bilíngues ou nas escolas inclusivas com estudantes que possuem deficiência auditiva, esse profissional tem garantido a relação linguística e o diálogo entre estudantes surdos e pessoas ouvintes, não usuárias da língua de sinais.
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Tem sido assim antes mesmo do reconhecimento da Libras como língua da comunidade surda sinalizante brasileira, em 2002, pela Lei 10.436. Nos cotidianos das escolas, muitos professores não possuem formação e apoio à aprendizagem da Libras, materiais didáticos, nem estrutura de trabalho que favoreçam uma abordagem de ensino visual, tal qual é apontado nos livros “Leitura e escrita na educação de surdos: das políticas às práticas pedagógicas” e “Práticas pedagógicas no ensino de Língua Portuguesa escrita para surdos: desafios, experiências e aprendizagens”.
Apesar de o Decreto 5.626, de 2005, que regulamenta a Lei 10.436 (Lei da Libras), sublinhar a importância do professor bilíngue para a atuação na escola com surdos, essa não é a realidade presenciada na maioria das vezes.
A falta de uma política de formação do professor bilíngue em Libras e Língua Portuguesa e da produção de materiais didáticos bilíngues é gritante no Brasil. Essa realidade tem feito com que o trabalho do profissional tradutor/intérprete de Libras se concentre na atuação na sala de aula, interpretando o professor e sua aula. Isso é um desafio que precisa ser enfrentado, uma realidade que precisa ser mudada, como muitos tradutores/intérpretes de Libras, educadores e a comunidade surda têm apontado.
Em 2021, a Lei 14.191 inseriu a Educação Bilíngue de Surdos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) como modalidade. Agora a Educação Bilíngue de Surdos é modalidade independente de ensino, fora da Educação Especial. E o que isso quer dizer? Que a educação dos estudantes surdos é linguística e intercultural, uma vez que as comunidades surdas são culturalmente visuais, além de constituírem uma minoria linguística.
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Esse reconhecimento da Educação Bilíngue de Surdos como modalidade independente reafirma a importância e urgência de professores fluentes em Língua de Sinais, a fim de garantir trocas e discussões linguisticamente ricas e aprofundadas entre professores e alunos.
Nesse contexto, longe de perder seu papel fundamental no processo educativo, o tradutor/intérprete de Libras muda seu espaço de atuação: das salas de aula, vai para o estúdio tornar acessíveis vídeos e filmes importantes para o processo de ensino-aprendizagem dos estudantes; vai traduzir materiais, informes, documentos, notícias da instituição; vai para as reuniões com a comunidade escolar e as famílias, uma vez que muitas não sabem ou não usam Libras.
Para o Dia do Intérprete de Libras, é importante reforçar que o reconhecimento da Educação Bilíngue como modalidade deve também trazer mais reconhecimento, compreensão e valorização desse profissional. Sem o tradutor/intérprete de Libras, fica difícil imaginar uma escola bilíngue em toda a sua potência e expressão, porque o bilinguismo não fica apenas na sala de aula: ele ultrapassa o portão, ele transborda a escola.
Tiago Ribeiro é professor e orientador pedagógico da Educação de Jovens e Adultos do Instituto Nacional de Educação de Surdos.
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Infelizmente ainda há falta de profissionais na área da psicologia e assistência social nas escolas públicas.