A Escola Municipal Professora Terezinha Souza foi fundada em 2000, em Belém (PA). A região é periférica, situada na fronteira entre a capital paraense e a cidade de Ananindeua, e enfrenta problemas como a falta de saneamento básico e de pavimentação. Além disso, nos períodos de chuvas intensas, é comum a ocorrência de alagamentos, o que configura um risco à saúde de todos que residem, trabalham ou transitam pela comunidade.
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A unidade atende cerca de 530 estudantes da educação infantil e do ensino fundamental I e II, nos turnos matutino e vespertino. Desses, 16 recebem atendimento educacional especializado (AEE) na sala de recursos multifuncionais (SRM) no turno oposto ao de suas aulas regulares. Estão presentes no ambiente escolar crianças e adolescentes com diagnósticos de deficiências intelectual e auditiva, paralisia cerebral, distúrbio de comportamento, hiperatividade, transtorno do espectro autista (TEA) e síndromes de Turner e de Down. A equipe de profissionais é composta por 63 funcionários, sendo 44 professores.
Educação física colaborativa
O circuito de miniatletismo surgiu em 2012 e acontece anualmente durante nossos jogos internos. Ele é constituído por nove estações de exercícios que tem como base as modalidades do atletismo tradicional: correr, saltar e arremessar. De modo geral, sempre consideramos as especificidades de turmas heterogêneas e os desafios de uma educação física escolar mais participativa e colaborativa. Porém, naquela época, não visualizávamos com clareza uma metodologia que pudesse aglutinar também os pais, a equipe gestora e os demais professores. Essa realidade mudou em 2015, quando a escola foi selecionada para participar do curso Portas abertas para a inclusão, do Instituto Rodrigo Mendes (IRM), o qual nos ajudou a buscar uma prática pedagógica pautada nos princípios da inclusão.
Os exercícios foram elaborados possibilitando a plena participação discente a partir do respeito às condições físicas, sensoriais, comportamentais e comunicacionais de cada um e, sempre que necessário, as ações pedagógicas foram flexibilizadas.
O miniatletismo e suas flexibilizações
O circuito de miniatletismo é aplicado com as turmas do fundamental I e II e funciona da seguinte forma: em grupos de 20, acompanhados pelas professoras das salas regulares, os estudantes iniciam a atividade divididos em duas colunas de 10 pessoas cada. Depois que todos cumprem a primeira estação, eles são conduzidos para a próxima tarefa, enquanto outra equipe inicia o percurso. Isso acontece até que todas as estações estejam ocupadas.
Os exercícios a serem realizados são:
• Salto sobre a corda elástica
• Salto triplo
• Salto com agilidade
• Salto em distância
• Corrida com obstáculos
• Arremesso de peso
• Lançamento de cabo de vassoura
• Salto com vara de bambu
• Corrida de revezamento
As definições do que eram cada movimento foram sendo criadas durante a própria execução dos exercícios, conforme as necessidades do grupo, de forma a permitir a participação de todos. Ao final, estabelecemos as seguintes flexibilizações:
Movimento: salto
Conceito tradicional: atirar-se de um lugar para outro
Flexibilização: passar de um lugar para outro
Movimento: lançamento
Conceito tradicional: arremessar esferas com força
Flexibilização: abandonar um peso em um determinado ponto
Movimento: corrida
Conceito tradicional: tarefa na qual se aplica tempo/velocidade
Flexibilização: tarefa na qual se aplica tempo/velocidade individual
Com essas mudanças, o circuito passou a estimular a superação pessoal de limites e o aumento da autoestima e da confiança dos alunos. Há o respeito ao tempo em que cada um executa seus movimentos, pois o objetivo é que as tarefas propostas sejam completadas, independentemente do tempo necessário para isso.
A montagem das estações foi realizada em conjunto por professores e estudantes com o uso de materiais de baixo custo e reutilizáveis, tais como pneus, garrafas plásticas, jornais, papelão, TNT, fita, saco plástico, barbante, cabos de vassoura, corda, varas de bambu, areia, tintas. Cada parada foi identificada com placas em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Envolvimento da comunidade escolar
Como estratégia para a execução das atividades, inicialmente, apresentamos nossas propostas, objetivos e dinâmica de trabalho para toda a comunidade escolar em dois encontros. Durante essas reuniões, reforçamos a importância de seu envolvimento para a construção de atividades que permitissem a participação de todos. Durante o projeto, professores de salas regulares, coordenação pedagógica, AEE, sala de leitura, operacionais, estagiários, alguns pais e demais funcionários da escola foram responsáveis por acompanhar e orientar os grupos nos exercícios.
Rosilene Baracho conta que o filho sempre gostou de ir para a escola para receber o AEE. Mas foi depois do miniatletismo que Douglas Baracho, estudante com baixa visão e deficiência intelectual, passou a se relacionar mais com os outros espaços da escola e com seus colegas e, também, a se interessar pela atividade física. “Antes ele não conseguia fazer nada. Há três anos na escola e, agora, participando do circuito, ele já alcançou muita coisa. Ele está muito participativo, os colegas gostam muito dele e o respeitam. No caso dele, fazer uma atividade física é fundamental”, disse.
Acredito que o projeto mudou a maneira como a escola enxergava as pessoas com deficiência. Professores, pais e alunos vivenciaram uma intervenção educacional que contemplou a todos os sujeitos, garantindo os direitos dos estudantes com alguma deficiência e tornou a comunidade escolar mais justa e solidária. O trabalho interdisciplinar entre os docentes e o apoio da equipe gestora e demais funcionários foram fundamentais para essa transformação.
Projeto participante do Portas Abertas para a Inclusão 2015. O trabalho alcançou a 2ª colocação no Prêmio Paratodos de Inclusão Escolar. Esta experiência faz parte da Coletânea de práticas 2015.