Após identificar barreiras atitudinais no ambiente escolar, educadores apostam em diálogo e no trabalho colaborativo para incluir estudante com deficiência
Somos educadores do município de São Roque (SP): professoras, coordenadora, diretora e técnicas da secretaria. Nossa rede é formada por 51 unidades escolares. São cerca de 13 mil estudantes entre educação infantil e ensino fundamental. Em 2019, nos deparamos com a possibilidade de ampliar nossos conhecimentos sobre práticas pedagógicas inclusivas participando do Diversa presencial, formação em educação inclusiva.
No decorrer da formação, fomos instigados a refletir sobre uma situação desafiadora da nossa rede municipal. A ideia era identificar barreiras que impossibilitavam a inclusão de estudantes com deficiência.
Levamos para os encontros o caso da aluna Sara*, matriculada no 8º ano da EMEF Professora Maria José Ferraz Schoenacker, que atende estudantes do 1º ao 9º ano do ensino fundamental. Achamos que os anos finais do ensino fundamental são etapa de maior dificuldade para se incluir alunas e alunos com múltiplas deficiências.
Sara tem um quadro neurológico grave que lhe causa várias sequelas e comprometimentos, sendo eles nas áreas motora, cognitiva, social, comunicacional, etc. Além disso, ela possui inúmeras crises convulsivas que a acometem durante a noite, fazendo com que passe o dia dormindo ou muito sonolenta.
Identificando barreiras
A partir das reflexões partilhadas no DIVERSA presencial, decidimos realizar um plano pedagógico de desenvolvimento para Sara. Inicialmente, identificamos barreiras atitudinais em nossa rede, uma vez que muitas educadoras e educadores demonstravam resistência para propor práticas inclusivas.
Fomos acostumados a um modelo de formação em que, na maioria das vezes, a participação ativa dos integrantes do grupo não é estimulada. Então, com a formação, apostamos no diálogo e na construção conjunta das atividades.
Levamos todas as reflexões vivenciadas no DIVERSA presencial para serem discutidas com os educadores da escola em encontros formativos. A metodologia aplicada favoreceu o comprometimento de cada participante e possibilitou o efetivo compartilhamento de experiências relacionadas ao dia a dia da inclusão escolar de todas as alunas e todos os alunos.
A ideia era criar um espaço de diálogo e troca de experiências entre os educadores para que as discussões em torno da educação inclusiva fossem ampliadas e se tornassem mais significativas para os participantes.
A cada desafio proposto pela formação, novos conhecimentos eram consolidados frente às inúmeras reflexões promovidas. O potencial dos participantes era revelado e novas expectativas surgiam acerca dos temas tratados. A equação que se estabelecia nos encontros era “reflexão-inquietação-aprendizado-ação”.
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Ações com envolvimento da comunidade escolar
A partir de experiências entre os educadores da escola, elaboramos um plano de atividades para ampliar a capacidade de comunicação da aluna, sua socialização com os colegas e sua autonomia em sala de aula. O projeto seria desenvolvido pela educadora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) em trabalho colaborativo com toda a comunidade escolar.
As atividades envolviam jogos lúdicos, trabalhos com música e contação de histórias. O plano pedagógico também visava estimular a independência de Sara nos ambientes externos e apostava no diálogo com os familiares da estudante para que todos os atores estivessem envolvidos no processo.
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Resultados e melhorias no ambiente escolar
A partir dos encontros formativos e atividades propostas, percebemos uma mudança de olhar dos educadores em relação às práticas inclusivas. Houve grande comprometimento de todos a fim de valorizar as potencialidades dos estudantes para proporcionar aprendizado significativo para todos.
O entusiasmo do grupo e os resultados obtidos garantiram ações práticas de melhorias em todo o ambiente escolar. Os diversos educadores estão empenhados em construir uma escola mais inclusiva e que garanta educação de qualidade para todas e todos.
Nosso objetivo é compartilhar as discussões e os conhecimentos adquiridos com toda a rede municipal de São Roque. Com a participação de gestoras da secretaria, há a proposta de multiplicar as experiências inclusivas para todas as escolas do município.
*nome fictício
Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do DIVERSA Presencial – formação para profissionais envolvidos com o processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Grupo Volkswagen. Por meio de parcerias com secretarias municipais de educação, o projeto tem como objetivo contribuir com a ampliação de conhecimentos sobre a educação inclusiva a partir de situações reais e desafiadoras escolhidas pelos participantes.