No Centro Educacional Unificado (CEU) Paz, situado na periferia da região norte de São Paulo (SP), a inclusão de estudantes com deficiência já acontece há alguns anos. Mas, como o acesso e permanência na escola nem sempre são sinônimos de qualidade de ensino, a equipe escolar sempre apontou a necessidade de desenvolver intervenções pedagógicas significativas para a aprendizagem desse público. Quando a oportunidade de participarmos do curso de formação “Portas abertas para a inclusão” surgiu, o desejo de proporcionar o melhor para nossos alunos pôde então se materializar por meio de uma metodologia de ensino diferenciada e que nos deu embasamento teórico e prático.
De início, nossa perspectiva foi trabalhar exclusivamente com a educação física. Contudo, durante nossos encontros, percebemos que para haver uma real mudança, toda a escola precisaria estar engajada. Pensando nisso, investigamos as barreiras e os facilitadores presentes em nosso cotidiano escolar e, a partir dessas informações, construímos nosso projeto calcados em um objetivo comum: a autonomia e independência de todos os alunos. Vimos, então, na rica cultura popular brasileira, mais especificamente nas manifestações corporais, nos jogos e nas brincadeiras, um cenário interessante para acolher as diferenças.
A partir das rodas de conversa com os estudantes e dos questionários enviados para os pais, mapeamos os conhecimentos e interesses da comunidade escolar sobre jogos da cultura popular. A tabulação dos dados coletados nos permitiu planejar as vivências práticas. Na sequência, realizamos oficinas durante as aulas de educação física (pipas, amarelinhas, cinco marias etc.) sem perder de vista o objetivo inicialmente proposto. Todas as atividades foram registradas em vídeos e fotografias.
As oficinas foram planejadas com antecedência e mobilizaram os funcionários da escola. O público-alvo foram 140 crianças do 3º ano, incluindo alunos com transtorno do espectro autista (TEA), com deficiência intelectual e com deficiência múltipla. Realizamos as atividades mensalmente e as registramos em vídeo. Posteriormente, eles eram analisados e nos faziam redirecionar nossas práticas a partir de reflexões coletivas dos docentes envolvidos. Para finalizar a avaliação, entrevistamos duas mães cujos filhos participaram do projeto.
Cabe destacar que a amplitude de nossas ações não se restringiu à intervenção pedagógica. Ousamos e demandamos nossas necessidades para que uma intervenção política ocorresse concomitantemente com o desenvolvimento de nosso projeto. Recorremos à gestora do CEU Paz que compreendeu a necessidade de mudanças arquitetônicas para a garantia de uma inclusão ampla e providenciou adaptação das calçadas para acessibilidade de alunos com locomoção limitada. A Diretoria de Ensino da Região Freguesia do Ó/Brasilândia soube das transformações em nossa unidade escolar e demonstrou interesse em publicar em sua revista uma nota sobre nosso trabalho.
Essa experiência teve como objetivo inspirar novas práticas inclusivas e ratificar que é possível, por meio de muito planejamento e trabalho, ultrapassar os obstáculos do cotidiano e construir um novo olhar acerca da inclusão. Como diria Rubens Alves: “O que muda não é a diferença. São os olhos…”
Projeto participante do curso Portas Abertas para a inclusão 2013 Site externoSite externo.