Como potencializamos o ensino de ciências com material em 3D

Projeto de construção de material pedagógico acessível possibilitou aprendizagem mais significativa de conteúdos com alto grau de abstração   

Somos educadoras da EMEF Ayres Martins Torres, localizada na zona leste da capital paulista. Em 2019, uma das turmas do 6º ano do ensino fundamental era bem heterogênea e contava com três alunas com deficiência. Lívia tem deficiência física; Heloísa, deficiência intelectual; e Luana, deficiência intelectual e Síndrome de Down. 

De maneira geral, os estudantes apresentavam muita dificuldade para aprender conceitos que exigem capacidade de abstraçãoPor conta disso, tivemos o desejo de construir um material pedagógico acessível (MPA) para proporcionar aprendizagem significativa de conteúdos de difícil compreensão.  

No início, buscamos compreender como um recurso pedagógico acessível poderia nos auxiliar a potencializar o processo de ensino-aprendizagem para toda a turma, incluindo estudantes com e sem deficiência. 

Como primeira ideia, projetamos a criação de um mapa mundi que permitisse o ensino de temas de ecologia e vegetação. A intenção era trabalhar de forma interdisciplinar com as disciplinas de históriageografia e ciências. Posteriormente, discutimos a montagem de um sistema solar sensorial para o estudo de conteúdos climáticos e geoespaciais. 

Em sala de aula e sentados em carteiras, estudantes observam professora, que em pé segura célula tátil com a mão direita e imagem de organela com a esquerda. Fim da descrição.

A célula tátil ganhando forma

Nosso projeto começou a ganhar forma quando idealizamos a produção de uma célula animal. Como o organismo celular não pode ser visualizado a olho nu, a compreensão sobre as questões que o envolvem se torna complexa.  Por conta disso, pensamos em um material que possibilitasse aos estudantes aprender de forma mais lúdica e significativa. 

Para isso, realizamos coletivamente a reprodução em 3D de uma célula animal. O material foi planejado para possibilitar aos estudantes manipular cada componente celular individualmente, de forma a facilitar a compreensão das funções de cada organela.

Assim, os componentes celulares foram criados separadamente, com o auxílio de uma impressora 3D, e posteriormente pintados com cores específicas para facilitar a identificação das estruturas por parte dos estudantes.  

Durante o percurso, nos organizamos e dividimos as tarefas de modo a garantir que todos pudessem participar do processo de montagem.  Desde a idealização do material até a aplicação em sala de aula, todas as decisões foram tomadas coletivamente. Isso foi muito importante para que todos os educadores se apropriassem do projeto e pudessem contribuir para tornar o processo muito mais rico. 

O material aplicado em sala

Após a montagem do material, chegou a hora de utilizá-lo em sala de aula.  Realizamos a aplicação para a turma na disciplina de ciências e trabalhamos de forma a garantir a participação de todos, estudando as funções de cada organela a partir das impressões em 3D.

Em sala de aula e em frente à lousa, professora apresenta material pedagógico acessível Célula Tátil para a turma. Fim da descrição.

Ao longo da atividade, utilizamos imagens em 2D para que os estudantes as relacionassem com o material e percebessem as características de cada componente da célula. 

MPA tem diversas possibilidades de uso e pode ser aplicado para várias turmas diferentes, a partir do  do ensino fundamental.  

 Saiba como os conteúdos se articulam com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
 Aprenda a deixar o conteúdo de ciências mais acessível em sala de aula 

Aprendizado mais significativo

O material possibilitou a todos os estudantes acesso ao conteúdo proposto pela disciplina. Luana, aluna com Síndrome de Down e deficiência intelectual, apresentou grande progresso: ela se manteve atenta durante toda a atividade e realizou os exercícios de manipulação das organelas sem grandes dificuldades.   

Percebemos que o aprendizado foi muito mais prazeroso e significativo: alunas e alunos demonstraram grande interesse pela aula e se apropriaram do conteúdo. O material agradou tanto, que estudantes de outras turmas nos pediram para utilizar a célula tátil nas demais salas de  ano. 

Para nós, foi uma experiência muito proveitosa e certamente contribuiu para que nosso trajeto, na condição de professores e profissionais da educação escolar, seja melhor e mais significativo para todos.


Este relato de experiência é fruto da participação dos autores na edição 2019 do Materiais pedagógicos acessíveis – formação em serviço para educadores envolvidos no processo de escolarização de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, desenvolvida pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Fundação Lemann. O objetivo é contribuir na construção de materiais pedagógicos acessíveis que auxiliem o processo de ensino-aprendizagem de estudantes com e sem deficiência.

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