Augusto Galery faz comparação entre o cenário da época em que estudo de caso foi escrito e o contexto atual da educação inclusiva
“A primeira coisa que temos que lembrar é que a educação inclusiva é essa ideia de diversidade dentro da escola, de todas as pessoas aprenderem e serem levadas ao máximo do seu potencial.”
Com esta fala, Augusto Galery declara a importância da educação inclusiva para dar início a uma reflexão sobre o contexto político e social da área na época do estudo de caso “O Caso de Educação Física Inclusiva”, de 2013, em comparação com a atualidade.
Psicólogo, doutor em psicologia social e professor, Augusto realiza pesquisas relacionadas a sociedade inclusiva há vinte anos. Durante a sua vida, ele tem colaborado com a luta pela inclusão em diversas esferas sociais.
Há sete anos, quando era coordenador do DIVERSA, o pesquisador foi um dos autores do estudo que faz parte do livro “Educação Inclusiva na Prática”. A obra foi lançada recentemente pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com a Editora Moderna e Fundação Santillana.
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Segundo Augusto, os estudos de caso realizados foram essenciais para seu aprofundamento na temática da educação inclusiva: “O modelo multidimensional ainda é uma de minhas principais referências no assunto. Como hoje estou atuando no ensino superior, também uso muito os casos de inclusão nas universidades para falar sobre o assunto.”
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Educação física inclusiva
O estudo de caso sobre a educação física inclusiva aproveitou o momento de visibilidade do esporte no Brasil, por conta da Copa do Mundo de 2014 que estava para acontecer no país e pelas Olimpíadas de 2016.
De acordo com Augusto, a atenção foi voltada para garantir a inclusão no esporte também dentro das escolas: “Uma discussão importante sobre o objetivo da própria educação física foi levantada, buscando um foco mais sistêmico na vivência corporal e menos enfoque no esporte de alto rendimento. Constatamos, mais uma vez, que a presença da pessoa com deficiência é essencial para uma educação física mais criativa e cidadã.”
A partir de depoimentos de diversos envolvidos de todo o Brasil, o estudo proporciona reflexão sobre a educação física inclusiva, que pressupõe a participação de todos os estudantes em uma mesma atividade. Essa proposta, alinhada com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), implica no entendimento das especificidades de cada aluno e na flexibilização de recursos e regras das atividades físicas.
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Contexto da educação inclusiva em 2013
No ano de publicação do estudo no portal, em 2013, o momento era propício ao debate sobre práticas esportivas inclusivas nas escolas. Contudo, o pesquisador avalia que ainda se lutava para a construção de ambientes escolares verdadeiramente inclusivos e acessíveis a todas e todos.
Galery explica que, na época, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva estava em consolidação e a Lei Brasileira da Inclusão ainda era um projeto, mas a educação inclusiva já tinha relevância social. As escolas estavam começando a refletir sobre como se tornar inclusivas.
Para ele, a barreira atitudinal e a reação negativa à inclusão eram as principais preocupações do período na luta por uma educação inclusiva: “professores, pais e colegas não compreendiam que todo mundo tem direito a uma educação igualitária.”
Em contrapartida, no período houve um grande avanço na aquisição de recursos para eliminar barreiras arquitetônicas e criar condições de acessibilidade e outras conquistas políticas e sociais: “Apesar de diversos desafios, o ambiente era muito favorável, tanto que no ano seguinte (2014) aprovou-se a Meta 4 do Plano Nacional de Educação.”, conclui Augusto.
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Cenário atual da educação inclusiva
Considerando as ações políticas mais recentes, Augusto vê que o movimento pela educação inclusiva pode regredir ao invés de avançar. A nova Política de Educação Especial, lançada pelo atual governo federal, endossa a possibilidade do encaminhamento de estudantes com deficiência para escolas ou classes especiais.
”O desafio sempre foi tirar o ‘preferencialmente na rede regular’, fazer com que fosse realmente uma educação inclusiva”, entende Augusto. Citando o professor Romeu Sassaki, ele explica que “se é preferencialmente integração, não é inclusão.”
O pesquisador pondera sobre os desafios terem aumentado há pouco tempo e fala sobre as barreiras às pessoas com deficiência estarem mais evidentes durante a pandemia. Exemplos disso são a quantidade de pessoas com deficiência que perderam o emprego e a falta de apoio para garantir que crianças com deficiência continuem tendo acesso à educação nesse momento.
Conquista social
Embora o pesquisador especule que o cenário atual possa vir a ser preocupante, ele explica que houve muitos avanços nesses sete anos, principalmente em políticas públicas. Além disso, a sociedade civil tem lutado por direitos na educação, destacando que parte das escolas já aprendeu a trabalhar com educação inclusiva e vai continuar trabalhando com uma perspectiva de inclusão.
Galery cita, ainda, a participação positiva do ministério público na defesa dos direitos das pessoas com deficiência e a importância do papel dos familiares e responsáveis nesse processo de inclusão na educação.
“As grandes vitorias que tivemos foram mesmo sociais, foram em termos de como a sociedade vê a pessoa com deficiência. Ainda há o que melhorar, mas já temos uma perspectiva bastante diferente do que, por exemplo, da década de 1990, do começo do século, em que realmente havia uma segregação como principal política.”
Em defesa de uma sociedade diversa
Para continuar conquistando cada vez mais direitos e melhorias na educação inclusiva, é necessário que haja uma luta constante em defesa de um processo de aprendizado para todas e todos. Para Augusto Galery, a educação inclusiva significa “uma educação para a igualdade, para o equilíbrio” e declara que a diversidade é uma das maiores riquezas do ser humano, não só na escola, mas na sociedade como um todo.
“É extremamente importante defender a educação inclusiva para que a educação entre no novo século e garanta direitos e deveres de todos os cidadãos. Quando a gente ensina para a diversidade, a gente tem outros resultados, inclusive em termos de vínculo social, de como eu vejo o outro dentro da sociedade; de luta; de resolução de problema; de tudo aquilo que a gente vai precisar para sair desse caos que o mundo está atualmente. A diversidade é especialmente importante pra isso.”