No Dia do Professor, o DIVERSA traz um panorama da inclusão de docentes com deficiência na educação e os desafios para a valorização dos educadores
O dia 15 de outubro é marcado pela comemoração do Dia do Professor, data que reforça a importância deste profissional na formação e desenvolvimento humano de todas e todos nos diferentes níveis de ensino.
Quando se pensa em educação inclusiva, educadoras e educadores, sejam da sala comum, do Atendimento Educacional Especializado (AEE), da educação básica ou do ensino superior, são fundamentais para que todos os estudantes tenham uma educação, efetivamente, de qualidade.
Por conta do empenho e perspectiva inclusiva dos docentes, juntamente com familiares, comunidade escolar e sociedade civil, é possível a presença, a participação e o aprendizado de estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns.
Apesar de celebrar a importância do professor, a data também nos permite refletir sobre a existência de muitos desafios a serem enfrentados pelos docentes, desde a sua formação até a atuação em sala de aula. E quando pensamos em educação inclusiva, surge outro desafio: aumentar a presença de educadores com deficiência nas escolas.
Educação inclusiva é para todas e todos
A educação inclusiva tem o objetivo de garantir o direito ao ensino de qualidade para todas e todos e pressupõe a igualdade de oportunidades e a valorização das diferenças humanas, contemplando, assim, a diversidade étnica, social, cultural, intelectual, física, sensorial e de gênero dos seres humanos.
A inclusão escolar não se limita aos estudantes público-alvo da educação especial em escolas comuns, que chegou a 88% em 2020, de acordo com o Censo Escolar. Os profissionais de educação também devem estar inseridos nesse contexto.
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Contudo, olhando para o cenário de docentes com deficiência na educação básica e ensino superior, o mesmo Censo Escolar revela que menos de 1% das educadoras e educadores têm alguma deficiência.
João Vitor, professor de educação física com Síndrome de Down, aponta uma das barreiras para a inclusão dos docentes: “O capacitismo, infelizmente, ainda é o principal motivo para não termos mais educadores com deficiência em escolas e universidades”.
Ele afirma que é muito importante o aumento de educadores com deficiência nas escolas, pois, segundo João Vitor, “isso mostra que a educação inclusiva realmente inclui todos”.
Por mais de três anos atuando como professor no ensino superior, o jornalista Jairo Marques, que é cadeirante, acredita que um dos motivos para esse baixo percentual de docentes com deficiência na educação está relacionado à questão da acessibilidade: “A falta da acessibilidade física e comunicacional é um complicador. Se você não consegue se deslocar e ser entendido, como você vai trabalhar?”.
Na visão do jornalista, o fator humano é fundamental para reverter esse quadro e um pequeno grupo de pessoas consegue iniciar esse processo e, assim, possibilitar a inclusão.
Ele entende que os frutos do crescimento da educação inclusiva farão com que esse cenário mude: “O incremento de estudantes com deficiência em escolas comuns vem trazendo aos poucos resultados em toda a sociedade. Pessoas com deficiência dando aula se tornará algo real com o tempo”.
Representatividade e inclusão
A educação inclusiva permite que a diversidade esteja presente dentro das instituições de ensino e seja valorizada. A pluralidade auxilia o desenvolvimento do respeito entre todos e o potencial de cada um.
Outro ponto importante é que um ensino para todos permite entender que qualquer pessoa, independentemente de sua especificidade e característica, pode participar ativamente da sociedade e é capaz de exercer a função que desejar.
Ao pensar na educação, Jairo Marques acredita que educadores com deficiência trazem um grande impacto a todos os estudantes: “Quando temos professores com deficiência dando aula, já há um impacto para os estudantes e todos os envolvidos. Isso gera um poder de multiplicação em relação à inclusão, pois mostra que toda e qualquer pessoa tem potencial e capacidade de construir sua autonomia”.
Tendo estudado em escolas comuns durante todo o ensino básico e se formado em Educação Física e Ciências Biológicas na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), o educador João Vitor tem a mesma opinião: “A verdadeira inclusão em sala de aula, não só de estudantes, desenvolve o respeito, o acolhimento e mostra que as diferenças humanas estão presentes e são normais da sociedade. Somente na prática, cada um irá entender que é possível haver uma inclusão de verdade”.
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Valorização docente
Uma educação de qualidade para todas e todos depende muito do trabalho de professoras e professores. Ao longo dos anos, a luta pela inclusão escolar vem acompanhada da valorização dos educadores em diferentes aspectos.
Um dos fatores destacados por João Vitor é a necessidade de melhoria da formação inicial para que os futuros docentes saiam das universidades mais preparados para a prática pedagógica. Além disso, ele afirma que essa evolução tem que ter um olhar inclusivo: “Penso que os estudantes universitários já devem ter uma capacitação na perspectiva inclusiva. Dessa forma, as escolas estarão de portas abertas para receber todas as crianças e adolescentes”.
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O professor de educação física diz que é “preciso acreditar verdadeiramente na capacidade dos educadores e sempre os respeitar para que a inclusão e o ensino de qualidade se façam presentes nos ambientes escolares”.
Para Jairo, a relação dos educadores com os estudantes precisa ser revista. No seu entender, a profissão parou um pouco no tempo e isso atrapalha o trabalho docente: “Acredito que estamos vivendo um hiato, muitos professores estão em fase de transição. A pessoa aprendeu dentro de valores de uma geração e trabalha com outra geração e, com isso, surgem muitas dificuldades de comunicação”.
O jornalista também ressalta que é importante que todos os profissionais de educação tenham conhecimento e habilidade com o uso da tecnologia, algo que, aponta Jairo, faz parte do cotidiano dos estudantes e, portanto, é preciso acompanhar essa realidade.
Ele encerra dizendo que tem esperança em um futuro melhor: “Apesar de todos os problemas, sou otimista ao saber que mais pessoas estão falando sobre inclusão, cobrando avanços e tendo entidades que buscam a melhoria do trabalho docente”.
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