Formação continuada a favor da educação de qualidade para todos

Com a intenção de promover reflexão e articular novos saberes, as formações continuadas são fundamentais para a prática pedagógica na perspectiva inclusiva

É fato que a educação inclusiva vem avançando no Brasil e no mundo, principalmente nos últimos anos. Isso se deve por movimentos da sociedade civil em prol de políticas públicas que buscam uma educação de qualidade para todas e todos.

A ratificação do Brasil à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2008, inspirou a criação de legislações que garantem o direito das pessoas com deficiência. Na educação, a principal delas é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, com o objetivo de garantir a matrícula de estudantes público-alvo da educação especial na escola comum.

Depois de 14 anos do lançamento dessa política, o país já contempla mais de 90% das matrículas de estudantes com deficiência em salas de aulas comuns, conforme dados do Censo Escolar 2021.

Mediante a essa realidade, a perspectiva de educadoras e educadores sobre a educação inclusiva mudou. Pesquisa realizada em 2022 pelo Datafolha, a pedido da Fundação Lemann e apresentada pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM), mostra que a maioria dos docentes acredita que a escolarização de crianças com deficiência proporciona benefícios educacionais a todos os estudantes.

Das 967 entrevistas feitas com professoras e professores de todas as regiões do Brasil, 70% acreditam ser benéfica a inclusão escolar.

“A opinião dos professores nesta pesquisa corrobora o que a legislação brasileira já garante e as evidências científicas mais recentes mostram. A inclusão de estudantes com deficiência nas escolas comuns beneficia a todos e a cada um”, afirma Rodrigo Hübner Mendes, CEO e Fundador do IRM.

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Formação continuada

A pesquisa Datafolha aponta, entretanto, que 40% dos docentes entrevistados nunca participaram de nenhum tipo de formação em inclusão. Esse é um dado preocupante, uma vez que as formações continuadas são espaços para a prática pedagógica na perspectiva inclusiva.

Em artigo, Rodrigo Hübner Mendes falou sobre a questão, que já era sinalizada em outras pesquisas:

“Outros estudos feitos nos últimos anos já vinham nos sinalizando que, apesar de os educadores estarem dispostos a receber esses estudantes nas salas de aula em que lecionam, eles se sentem inseguros diante da falta de conhecimento.”

Em consonância, Helayne Carvalho, professora alfabetizadora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e supervisora pedagógica da Escola Municipal Padre Leonel da Franca, em João Pessoa (PB), também identificou que seus colegas de trabalho tinham o sentimento de insegurança quando se tratava de inclusão escolar.

Buscando mudar esse panorama, durante o mestrado profissional em Educação Especial, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a educadora desenvolveu uma pesquisa e experiência de formação continuada em educação especial.

A prática foi feita com professoras alfabetizadoras da escola municipal em que atua, abordando alfabetização e inclusão, através de encontros e vídeos: “Nesses 13 anos de atuação, tenho acompanhado as necessidades formativas nas escolas em que trabalho e sempre foi um desafio aos demais educadores lidar com o processo de inclusão.”

Segundo Helayne, de uma maneira geral, as formações precisam ser constantes, pois as necessidades mudam e os conhecimentos devem ser aprimorados. Ela ainda comenta que as capacitações ajudam a mudar a concepção de educadores que não acreditam na inclusão: “A formação é um descortinar do desconhecido. Quando compartilhamos conhecimentos, mostramos que há possibilidades. Não são receitas de bolo, mas são caminhos. O objetivo maior é mostrar que toda pessoa aprende.”

Em relação à oferta de capacitações, a pedagoga acredita que seja necessário oportunizar mais momentos de aprendizado: “É preciso o poder público ofertar essas formações, podendo ser a formação continuada em serviço. Muitas das vezes faltam oportunidades e informação de qualidade aos educadores sobre educação inclusiva. Assim como é preciso ouvir os estudantes, também é necessário ouvir os professores. O saber precisa ser valorizado.”

A fim de oportunizar mais conhecimento em educação inclusiva, Helayne fará novos encontros formativos com docentes da rede municipal de João Pessoa. Fora isso, um documentário sobre a sua experiência foi produzido no intuito de inspirar outros docentes na luta pela educação inclusiva.

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A perspectiva inclusiva desde o início

Além das formações continuadas em educação inclusiva, a formação inicial também é um ponto chave para que os educadores possam ter uma perspectiva inclusiva. Embora haja uma grande importância de se falar sobre o tema durante a graduação, Sônia Maria Rodrigues, professora do curso de pedagogia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), apontou, em artigo publicado no DIVERSA, que isso ainda não ocorre:

“Nas universidades, a temática da educação das pessoas com deficiência ainda não é incorporada como uma discussão geral. A formação inicial se resume a uma disciplina que não consegue atender à complexidade do tema e a formação continuada precisa ser discutida e aliada a ações de pesquisas e extensão.”

Na mesma linha, Helayne entende que a graduação não contempla uma base suficiente que possibilite os formandos a terem uma real noção do que é a sala de aula comum. Segundo a mestranda, o curso de pedagogia “precisa ser revisto, para que a educação inclusiva esteja presente no currículo.”

Apesar de ainda existirem desafios em relação à inclusão, ela pondera que houve muitos avanços: “A educação inclusiva precisa caminhar, mas temos que entender que já avançou muito. Anos atrás, a escola estava fechada para as crianças com deficiência. Hoje, elas já mostram que é possível uma inclusão nos ambientes escolares. Essa inclusão é benéfica para toda sociedade, visto que se vive com a diversidade e se promove o respeito entre todas e todos.”

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