Entrevistados apontam o uso de materiais pedagógicos acessíveis e a formação docente como práticas a fim de promover a aprendizagem e a inclusão em química
Em 18 de junho é celebrado o Dia Nacional do Químico, data escolhida por ser a mesma em que foi promulgada a Lei nº 2800/56, conhecida como a “Lei Mater dos Químicos”, que regulamentou o exercício da profissão no país.
A atividade está relacionada à ciência natural que trata principalmente das propriedades das substâncias, das transformações que elas sofrem e das leis que as regem.
Na área da educação, a química faz parte do ensino médio, mas tornou-se uma matéria não obrigatória aos estudantes, que comumente consideram o conteúdo de difícil compreensão. Aliado a isso, a inclusão é outro paradigma a ser quebrado dentro da disciplina, em busca da construção do conhecimento científico de todas e todos.
Para incentivar o ensino inclusivo de qualidade em química e em outras disciplinas, o DIVERSA conversou com profissionais da área, que citam exemplos práticos de atividades inclusivas a fim de auxiliar educadoras e educadores.
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Uso de materiais pedagógicos acessíveis
Os materiais pedagógicos acessíveis são recursos desenvolvidos por educadores no intuito de apoiar o processo de ensino-aprendizagem de estudantes. A professora de química Alda Enerstina, do Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Bambuí (IFMG), entende que materiais que colocam estudantes no papel de protagonistas são essenciais.
“Precisamos vencer essa barreira do ensino tradicional, que ainda prevalece. As metodologias ativas e os materiais, que de fato possibilitea o estudante colocar em prática, de forma concreta, o conhecimento adquirido em sala, são fundamentais para a aprendizagem”, afirma a educadora.
Em 2020, durante a suspensão das aulas presenciais por conta da pandemia de covid-19, Alda participou de um curso básico de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Apesar de naquele momento não estar atuando com estudantes público-alvo da educação especial, ela decidiu contribuir com a educação inclusiva ao criar a Tabela Periódica em Libras.
Segundo a professora, já existiam materiais semelhantes, mas todos impressos: “Encontrei algumas tabelas voltadas ao público surdo sinalizante, mas todas em papel. Com isso, comecei a elaborar uma tabela periódica em Libras para o formato digital. Usei o conhecimento da formação em Libras e ferramentas básicas de design.”
Com o mesmo objetivo de contribuir para a inclusão, o estudante de química Ronaldo Lima Carneiro, do Instituto Federal do Ceará – Campus Caucaia (IFCE), desenvolveu o cubo químico em braile.
O estudante teve a ideia após participar de palestras sobre inclusão e por conta da disciplina de educação especial do seu curso: “Ao pesquisar recursos acessíveis, identifiquei a carência de materiais pedagógicos voltados ao público cego, por isso iniciei esse trabalho”.
Os cubos trazem informações em braile sobre a identificação de todos os elementos químicos de cada família da tabela periódica: “Após assimilar a leitura da tabela, a pessoa com deficiência visual também vai conseguir aprender as ligações químicas, que também estão nos cubos”, relata o estudante.
Para atender, de fato, estudantes com deficiência, o cubo químico em braile está em etapa final de teste, na qual Ronaldo está padronizando o conteúdo dos materiais.
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Somente o material pedagógico não basta
Embora os materiais pedagógicos acessíveis sejam essenciais para o processo de ensino-aprendizagem, sozinhos eles não são suficientes para promover o aprendizado e a inclusão.
A professora de química Samanta Arruda, que já atuou na rede estadual de São Paulo, acredita que o trabalho colaborativo também é importante: “Precisamos fazer com que as estratégias sejam para todos, por meio do trabalho em equipe, envolvendo todos que possam ajudar. É importante que as experiências em sala sejam acessíveis, contemplando todos os estudantes, para melhor entendimento do conteúdo.”
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Já Alda Enerstina entende que a interdisciplinaridade é um meio para possibilitar ainda mais a compreensão das aulas: “Trabalhar com projetos, de preferência interdisciplinares, é uma via para conseguir um aprendizado de todos. Fazer trabalhos em locais não convencionais, como museu e laboratórios, por exemplo, ajuda muito”.
Em consonância com as educadoras, Ronaldo Carneiro aponta a formação continuada como parte essencial da educação inclusiva: “O material é parte do ensino, é parte da inclusão, mas o educador é fundamental para promover o ensino. A pesquisa e a formação continuada são essenciais para criação de estratégias pedagógicas assertivas”.
A fim de possibilitar que mais educadores utilizem o cubo químico em braile, o estudante cederá o conteúdo para o Instituto Federal do Ceará, que disponibilizará o material a professoras, professores e demais interessados no tema.
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