Capacitismo: o que é e como a escola deve enfrentá-lo

Combater o preconceito contra pessoas com deficiência e promover a inclusão exige rever vocabulário e atitudes, participar de formações e repensar as práticas pedagógicas

Em um campo com gramado verde, um grupo de seis adolescentes jogam handebol próximos à área do gol. Uma das jogadoras é uma jovem que utiliza cadeira de rodas e está com a bola na mão. Fim da descrição
Enfrentar o capacitismo é papel de toda comunidade escolar. Ilustração: Paloma Santos

Você provavelmente já ouviu — e reproduziu — pelo menos uma dessas frases: “É tão bonita que nem parece que tem deficiência”; “Estou falando com você, está surdo?”; “Parece retardado”; “Mais perdida que cego em tiroteio”; “Você é meio autista”; “Não temos braço para isso”; “Fingindo demência”; “Que mancada, hein!”. O que talvez você não saiba é que todas elas são expressões capacitistas, ou seja, que denotam preconceito ou discriminação contra pessoas com deficiência. Ainda que muitas vezes sejam usadas de maneira casual ou sem a intenção de ofender, frases como essas reforçam estereótipos negativos e contribuem para a marginalização e exclusão das pessoas com deficiências. Mas o capacitismo não está relacionado apenas com o nosso vocabulário.  

O termo capacitismo” vem da palavra em inglês ableism”, junção de “able”, que em português significa “capaz”, com o sufixo “ism”, que designa doutrina, teoria ou tendência com sentido pejorativo, segundo o professor Romeu Kazumi Sassaki, considerado a maior referência do Brasil em conteúdo sobre o universo da pessoa com deficiência.  

A explicação faz parte da pesquisa Gênero, deficiência, cuidado e capacitismo: Uma análise antropológica de experiências, narrativas e observações sobre violências contra mulheres com deficiência, de Anahí Guedes de Mello, uma das precursoras do debate sobre o assunto no país. Na dissertação de mestrado, publicada em 2014, ela afirma que não havia no Brasil uma categoria analítica que expressasse a discriminação por motivo de deficiência, como ocorre, por exemplo, com o racismo e a homofobia. À época, uma das principais razões para a adoção da palavra capacitismo era “a demanda de urgência para visibilizar uma forma peculiar de opressão contra as pessoas com deficiência e, por consequência, dar maior visibilidade social e política a este segmento”.  

A antropóloga explica que o capacitismo se materializa em atitudes preconceituosas que hierarquizam sujeitos em função da adequação de seus corpos a um ideal de beleza e capacidade funcional. Em linhas gerais, isso significa que “o capacitismo é a discriminação pautada numa ideia arbitrária sobre norma e desvio, na qual as pessoas sem deficiência são consideradas o padrão, o ideal a ser perseguido, enquanto as pessoas com deficiência representam o desvio. É um julgamento que hierarquiza os corpos, impondo-lhes a experiência da subalternidade”, de acordo com o guia Como educar crianças anticapacitistas, de Mariana Rosa e Karla Garcia Luiz.  

De acordo com Mariana, que é fundadora do Instituto Cáue – Redes de Inclusão e integrante do Coletivo Feminista Helen Keller, o capacitismo é um julgamento moral que permite a alguém avaliar a capacidade de outra pessoa a partir das suas funções biológicas. “É como se impedíssemos a possibilidade de compreensão de que é possível enxergar sem os olhos, ouvir sem os ouvidos, andar sem ter pernas, pensar com o corpo inteiro. O capacitismo é esse julgamento que cola uma capacidade à biologia. Todo corpo que desafia essa ideia não só é considerado incapaz como é colocado em uma prateleira inferior dos corpos. É como se ele não fosse um corpo digno, a partir do qual a gente pudesse presumir competência e capacidade”, ressalta.  

Como o capacitismo se manifesta no dia a dia  

Nem sempre o capacitismo se manifestará como uma ofensa e pode aparecer em um olhar de pena, em uma pergunta invasiva e até mesmo na tentativa de um elogio ou em um comentário sem intenção de ofender — a exemplo de “tão bonita, nem parece que tem uma deficiência”, considerada um clássico entre as frases capacitistas. Ou “ele é especial”, outra expressão bastante utilizada que também reproduz preconceito.  

O guia explica que, “embora ‘especial’ seja um adjetivo costumeiramente utilizado de maneira positiva, quando lançado para dizer das pessoas com deficiência, é tomado como substantivo para nomear a condição daquela pessoa, de modo a diferenciá-la das demais. (…) Está em oposição ao ‘normal’ e, portanto, é uma estratégia de diferenciação para discriminação, ou seja, uma estratégia capacitista”. 

Para Alessandra Trigo, consultora e mentora sobre diversidade e inclusão, servidora pública federal e pessoa com deficiência, isso ocorre por conta dos chamados vieses inconscientes. Isto é, tudo aquilo que uma pessoa traz consigo como verdade absoluta, como a crença de que pessoas com deficiência são dependentes e incapazes de tomar suas próprias decisões.  

“O viés inconsciente é quando eu tomo uma atitude sem saber que estou agindo de forma errada. Aquilo, para mim, é tão verdadeiro que passo a ter como verdade o que não acontece. A partir do momento que eu sei que a pessoa com deficiência pode, que ela tem condição, e mesmo assim continuo tratando-a de maneira equivocada, eu saio da esfera do viés e passo a ser uma pessoa preconceituosa”, observa.  

Ivan Baron, pedagogo, influenciador digital e pessoa com deficiência, complementa o raciocínio destacando que o capacitismo faz parte de uma grande família de preconceitos. “O capacitismo é irmão do racismo, da LGBTfobia, do machismo, da gordofobia, dentre outros, sendo que essa violência, opressão e preconceito são direcionados às pessoas com deficiência”, pontua. Conhecido nas redes sociais como influenciador da inclusão por falar, principalmente, sobre o capacitismo, ele explica que o problema é estrutural e se apresenta na nossa sociedade de várias formas, como no silenciamento das pessoas com deficiência e na negação de oportunidades. “O capacitismo é esse sistema de opressões em que, a todo custo, tentam nos diminuir e nos deixar de fora da sociedade.”

O capacitismo no ambiente escolar 

Descrição: O primeiro quadro da tirinha é ambientado em uma sala de aula. A professora convida os estudantes, que estão sentados, para irem à quadra jogar handebol. No segundo quadro, a professora se dirige à Laura, uma pessoa que utiliza cadeira de rodas, e diz que ela não precisa jogar, pois pode fazer um trabalho sobre handebol e entregá-lo no final do semestre. No terceiro quadro, Laura e uma colega de sala se entreolham. No quarto e último quadro, um grupo de quatro estudantes jogam handebol. Entre eles está Laura. Ela segura a bola com a intenção de arremessá-la. Também conta com o apoio de uma colega que empurra sua cadeira de rodas durante o jogo. A professora assiste à cena e demonstra estar surpresa ao ver Laura jogar. A docente percebe que teve uma atitude capacitista com a jovem. Fim da descrição.
Restringir o currículo a partir da hipótese de que o outro não aprenderá é uma prática capacitista. Ilustração: Paloma Santos

Como em todas as esferas sociais, o capacitismo está presente também na escola, onde pode se manifestar de diferentes maneiras. Segundo Mariana, ele ocorre desde a negativa de matrícula — crime previsto na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de 2015 —, devido ao entendimento de que existem estudantes que estão mais aptos ou que são mais capazes de serem escolarizados do que outros, até quando, por exemplo, o professor tende a limitar o acesso ao currículo por presumir que o estudante com deficiência não será capaz de entendê-lo, o que, infelizmente, acontece frequentemente com pessoas com deficiência intelectual.  

“Muitas pessoas acham que essa é uma estratégia e pensam ‘mas, coitadinho, ele tem uma deficiência intelectual, ele não vai acessar o currículo todo’. Ora, é ele quem pode dizer [ou demonstrar] até onde vai, não é a gente supondo nada. Até porque cada pessoa é única”, enfatiza a ativista, que é mestranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), pessoa com deficiência e mãe de uma criança com deficiência.  

Embora tenha cursado todas as etapas da educação básica em escolas regulares, Ivan, que hoje tem 26 anos, vivenciou muitas situações capacitistas ao longo de sua vida escolar. “Minha matrícula nunca foi negada quando minha mãe apresentava o laudo que informava sobre a paralisia cerebral. Mas, ao mesmo tempo, eu era só um estudante integrado, e não incluído de fato. O meu corpo apenas estava presente, mas eu não participava ativamente das atividades escolares”, recorda.  

Uma das lembranças mais marcantes é dos momentos de intervalo na escola. “Eu não conseguia correr igual aos colegas, então, quando tocava o sinal do recreio, todo mundo saía correndo, e eu ficava para trás. Hoje vejo que essa era uma situação de capacitismo. A professora não incentivava uma discussão com a turma no sentido de perguntar: por que a gente não espera todo mundo? Por que não respeitamos o ritmo do outro? Então, se não fossem as situações capacitistas, eu poderia ter me desenvolvido muito mais rápido”, reflete.  

Alessandra enfatiza que situações como essa reforçam como a educação é essencial para transformar a sociedade. “As crianças não têm vieses inconscientes ou preconceitos. Elas aprendem com os adultos. Uma criança que convive com outra criança cega, que é a sua melhor amiga, vai chegar em casa e muitas vezes falar ‘o meu amigo’, e não ‘o meu amigo cego’, porque o amigo está acima da cegueira”, comenta a consultora. “A educação é o principal agente para construirmos uma sociedade inclusiva”, reforça ela, que defende a adoção de uma linguagem cada vez mais inclusiva em todos os segmentos da sociedade, especialmente no escolar.

Tudo que problematiza, inferioriza, e que, de alguma forma, causa xingamentos em deficiências, nós precisamos eliminar do nosso vocabulário. Se abordássemos isso nas escolas, com certeza traríamos à tona uma linguagem mais inclusiva e evitaríamos que crianças e adolescentes reproduzissem esse capacitismo linguístico, que é tão importante combater”, complementa Ivan.  

A importância de debater o tema na escola

Valeria Otaviano dos Reis Souza, pedagoga, formadora e supervisora de educação especial na Secretaria de Educação de Mogi Guaçu (SP), atua há cerca de trinta anos na educação e garante que falas e ações capacitistas muitas vezes ainda passam despercebidas no ambiente escolar, principalmente porque os profissionais têm dificuldade de identificar o problema.  

“Os professores e os gestores sabem o que é uma briga, um xingamento, mas o capacitismo vai muito além disso. Às vezes, as pessoas não percebem que estão sendo capacitistas, inclusive por atitudes validadas pela nossa cultura. Por isso, é fundamental discutir o tema no dia a dia e não só em uma data específica”, reforça.  

Ela defende que, quando a escola de fato é inclusiva, a diversidade é favorecida e valorizada. Isso cria oportunidades para as pessoas verem que todos os estudantes são capazes. “O conceito que a gente constrói do outro vem muito das experiências que tivemos. Cabe à escola valorizar as oportunidades de conviver com as diferenças, de oferecer situações em que a criança seja capaz e não com ações pedagógicas que reforcem o que ela não pode. Esse movimento é muito rico, pois legitima o jeito de fazer de cada um”, diz Valeria, que é pós-graduada em Educação Especial e Autismo, especialista em deficiência intelectual e presidente do Conselho do Direito da Pessoa com Deficiência (Condefi) de Mogi Guaçu.  

Currículo que transforma o cotidiano

Mas como levar o assunto para dentro da escola? “Acredito que a inclusão escolar, antes de ser uma técnica (‘eu vou fazer essa ou aquela ação’), é uma ética. Significa entendermos que todas as vidas são dignas. É nossa responsabilidade, como sociedade e como comunidade escolar, dar conta de sustentar as condições para todos os estudantes”, afirma Mariana.  

Para ela, a escola deve ter isso como premissa e, a partir dela, transformar o cotidiano em currículo. “Não dá para a gente ignorar as questões que emergem da convivência e fingir que elas não acontecem. Tampouco dá para pegar essas questões e irmos à exaustão explicando cada uma delas”, afirma Mariana. “Esse equilíbrio é responsabilidade da escola, como parte das questões que estão colocadas no cotidiano dos estudantes. É necessário transformar isso em perguntas para refletir o modo como se aprende e se ensina, os conteúdos que serão trabalhados e as abordagens que vamos trazer”, ressalta.  

Ela garante que uma formação anticapacitista passa menos por provocar reflexões sobre determinada deficiência e mais por debater o aspecto político, no sentido de os estudantes compreenderem o contexto a partir de perguntas disparadoras, como: vocês já repararam que temos uma colega que usa cadeira de rodas e ela não consegue chegar ao pátio porque tem cinco degraus até lá? Como a escola pode ser melhor para que ela possa acessar essa área, uma vez que é direito dela também? Vocês já repararam que, quando toca o sinal, o colega autista se incomoda muito por conta do barulho? Será que há outro jeito de sinalizar e combinar entre nós uma mudança de ritmo ou de momento sem que ele fique incomodado? Só ele se incomoda?  

Ou seja, é sobre promover discussões coerentes com o modelo social de deficiência que norteia a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2006 e fundamenta a legislação brasileira sobre deficiência e educação inclusiva. A ênfase não está nas características das pessoas, e sim nas barreiras existentes na sociedade. São elas que dificultam ou limitam o desenvolvimento e o exercício da cidadania.   

“Então é menos sobre o autista não entender metáfora ou não socializar, e mais sobre quais são as barreiras presentes nesse ambiente que nós construímos e quais são os combinados que podemos fazer para eliminar ou minimizá-las de maneira a construir um ambiente escolar equânime e bom para todos”, explica Mariana.  

Comunidade escolar e PPP 

Valeria acrescenta que, nesse sentido, o docente tem um papel crucial, afinal é quem está diretamente ligado aos estudantes no dia a dia. Por isso, ter repertório para atuar e propor ações relacionadas ao enfrentamento do capacitismo é essencial. “Primeiro, o professor deve saber o que é capacitismo, não tem outro caminho. O papel dele é propor um fazer pedagógico que todos consigam realizar. E, quando identificadas situações capacitistas, falar sobre e dar nome ao que de fato é”, comenta.  

É necessário, porém, tomar o cuidado de não achar que educar o vocabulário é o suficiente para mudar a realidade. Mariana Rosa acredita ser preciso, sim, prestar atenção ao que dizemos, mas mais importante do que isso é o cuidado com o que fazemos, no sentido de entender como as estruturas estão funcionando e como estamos organizando a nossa convivência.  

“Eu posso nunca falar, por exemplo, ‘João sem braço’, por saber que é uma expressão capacitista, mas eu não convivo com nenhuma pessoa com deficiência, não tenho um amigo com deficiência, eu não me relaciono afetivamente com alguém com deficiência, não me consulto com um médico com deficiência. A linguagem pode estar boa, mas a realidade não está sendo compatível com isso. Por isso, precisamos usar de um e de outro, da linguagem e da mudança da realidade, para ir tensionando mutuamente, de forma dialética, para que possamos conseguir fazer as mudanças que realmente queremos”, avalia. 

Para os gestores, valem todos os pontos anteriores e mais. É essencial trabalhar o tema na formação docente. “Maria Teresa Eglér Mantoan defende que a escola precisa derrubar preconceitos e paradigmas. Para isso, precisamos discutir quais são os paradigmas que a escola traz. A gestão deve trazer esse assunto [capacitismo] como pauta formativa, um tema tão importante quanto qualquer outro que ela proponha à sua equipe. É necessário intervir e construir projetos que envolvam a reflexão dessas ações. O gestor é a pessoa que canaliza tudo isso e busca soluções”, argumenta Valéria.  

A educadora chama a atenção para o fato de que o envolvimento de toda a comunidade escolar é indispensável o que pressupõe ter um projeto político-pedagógico (PPP) que não cumpra meramente um papel burocrático, mas que se mantenha vivo e envolva também as famílias.  

“O PPP é instrumento poderosíssimo e deve propor ações de discussão com toda a comunidade escolar. É o trabalho conjunto que favorece o processo de inclusão, no qual todos são corresponsáveis e há a compreensão de que essa tarefa não cabe apenas ao professor, pois as famílias têm muito a contribuir. É uma ação coletiva e o PPP é o norteador dessas ações.” 

Valeria acredita que é possível fomentar discussões sobre capacitismo mesmo que a escola não tenha nenhum estudante com deficiência. “Um currículo que atenda a todas as diferenças da escola é o ideal. Somos diversos, e todos aprendem de maneiras diferentes. Um currículo que respeite todas as singularidades e que entenda as dificuldades e as formas de aprender de todos e de cada aluno é o caminho”, diz.  

Ivan concorda e argumenta que não é preciso ser uma pessoa com deficiência ou ter contato com uma pessoa com deficiência para ser anticapacistista. “Uma escola não é para todos? Então, que ela não precise ter casos de capacitismo, de racismo ou LGBTfobia para abordar esses assuntos. Isso deveria ser o princípio de tudo. É importante trabalhar a prevenção, e não esperar acontecer para falar. Acho mais eficaz do que a escola começar a tratar o assunto somente quando chegar um estudante com deficiência. Se for desde o início, quando esse aluno chegar, a presença dele será algo comum e natural”, diz o pedagogo. 

Mariana, no entanto, defende que, para ser anticapacitista, a escola precisa ter estudantes com deficiência,senão a gente fica com uma promessa descolada da realidade”. “Isso significa que sou anticapacitista, mas não estou sendo colocado em xeque, e não é possível a gente se preparar para quem não está”, frisa.  

Ela enfatiza que não existe uma receita pronta para lidar com essas questões, mas é possível seguir alguns caminhos, como o que está previsto nas políticas educacionais em termos de acessibilidade arquitetônica e tecnológica, disponibilização das tecnologias assistivas, oferta dos recursos e materiais pedagógicos acessíveis e diversificação das práticas, por exemplo. E tudo isso pode ser pensado para que esteja presente no PPP.  

“Agora, para aquele estudante, a escola ideal não vai existir a priori, só vai existir na presença dele, o que depende também da sua participação e do fato de a escola poder ser afetada pela sua presença para se reinventar e utilizar essa presença para estimular e fazer avançar as discussões e as ações dentro da instituição”, reforça Mariana.  

5 ações para construir uma escola anticapacitista 

A pedido do DIVERSA, Valeria elencou cinco ações para combater o capacitismo e construir uma escola anticapacitista.   

  1. Identificar e reconhecer as ações capacitistas. Compreender o problema é fundamental para enfrentá-lo. O gestor escolar deve promover diálogos por meio de rodas de conversa e propor palestras nas quais circulem informações sobre o capacitismo para mapear como essa forma de discriminação permeia as atitudes da comunidade escolar (gestores, professores, funcionários, alunos e familiares). E também debater como enfrentá-las, individual e coletivamente.
  2. Conhecer e, se necessário, repensar as bases teóricas que embasam as práticas da escola. Uma instituição de ensino que acredita que todos aprendem da mesma maneira e que, portanto, não reconhece as diversas formas de aprendizagem não conseguirá propor situações diferentes de ensinagem. Uma pedagogia centrada em cumprir um currículo que não considera a diversidade não cabe em uma escola inclusiva.
  3. Investir na formação da comunidade escolar: gestores, professores, funcionários, estudantes e famílias. A formação é crucial para que todos possam ter informação e oportunidade de reflexão sobre o capacitismo. Informar e divulgar conteúdos educativos sobre o tema e seus impactos na sociedade – como cartilhas, palestras, dinâmicas, vídeos, depoimentos etc – são estratégias potentes de formação.
  4. Promover espaços de diálogo.  É essencial criar espaços de diálogo, em que as pessoas com deficiência participem de forma ativa e possam, em conjunto com outros membros da comunidade, compartilhar experiências e debater como a escola todos e cada um deve agir para respeitar e valorizar a diversidade. Para conduzir esse processo, os gestores devem escutar e observar a equipe, os estudantes e os familiares para que possa identificar possíveis referências/líderes na mediação de atitudes capacitistas (leia reportagem sobre como elaborar um plano de convivência e entenda porque ele pode ser uma estratégia para lidar com conflitos).
  5. Garantir práticas pedagógicas que respeitem e promovam o fazer dos estudantes e evidenciem a potencialidade de todos. Ter uma abordagem que remova barreiras metodológicas para que todos possam participar de todas as propostas escolares tendo oportunidade de acessar o currículo e realizar atividades que garantam o seu desenvolvimento e aprendizagem , é uma forma de combater atitudes de depreciação da deficiência. É preciso que as formações reforcem a importância de adotar metodologias que promovam diversos meios de engajamento, apresentação dos conteúdos, expressão, ação e representação, tornando, assim, o estudante com deficiência também protagonista do seu processo de aprendizagem e favorecendo o desenvolvimento da autonomia de pensamento e de ação. Extinguir práticas que evidenciem as limitações dos estudantes com deficiência aos olhos de toda a comunidade escolar é oferecer condições de expressão e de empoderamento. Um fazer pedagógico que respeita as características de todas as pessoas.  

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