Uma data para renovação de compromisso e crença

Integrante do movimento social da luta por direitos, Elza Ambrósio traça histórico do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência e reforça avanços necessários

O grande marco das conquistas das pessoas com deficiência foi em 1981, com a instituição do “Ano Internacional das Pessoas Deficientes”, como constava a nomenclatura da época. Foi também o ano em que conheci e passei a participar do movimento social de pessoas com deficiência, em São Paulo.

A partir desse marco, houve uma expansão natural de reivindicações pela participação plena em igualdade de condições. Depois de uma década dessa tomada de consciência, em reunião ministerial sobre as pessoas com deficiência, as Nações Unidas proclamaram o dia 3 de dezembro como Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.

Em cartum, quatro pessoas representativas de grupos minoritários, como pessoas com deficiência e uma mulher negra, seguram um lápis gigante e o utilizam como ferramenta para construir um muro formado pela palavra "Não". Na parte superior está escrita a frase: "É tempo de desconstruir pré-conceitos e construir uma sociedade inclusiva". Fim da descrição.
Imagem: acervo Ricardo Ferraz

Desde então, a data é celebrada como uma renovação de compromisso com a causa e afirmação da crença de que conquistas só acontecem no coletivo. As ações podem ser individuais, mas, quando se juntam a outras, os resultados são para todos.

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A princípio, as comemorações aconteciam nas reuniões do Movimento pelos Direitos das Pessoas com Deficiência (MDPD), da Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência (FCD), no quarto da Maria de Lourdes Guarda (residente do antigo Hospital Matarazzo de 1947 a 1996).

Aconteciam também em muitos outros grupos e associações espalhados pelos municípios do estado de São Paulo e do Brasil. No estado paulista, aos poucos as comemorações foram ganhando as ruas e se ampliando por todo o território, inspirando estados e países vizinhos, como Chile e Argentina.

A resolução que institui a data que celebramos desde 1992 conclama que as pessoas com deficiência “saiam às ruas” nesta data. O objetivo é se fazerem notadas e, com isso, conquistarem oportunidades iguais, participarem na vida da comunidade, assegurarem voz em programas e políticas que afetam suas vidas e eliminarem a violação dos seus direitos humanos.

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Neste ano de 2020, porém, a recomendação mundial foi a de ficar em casa, em virtude da pandemia provocada pela Covid-19. Esse período incitou grande preocupação e investimento em pesquisas pela manutenção da vida. Mas, diante desse contexto, onde fica a pessoa com deficiência? E o 3 de dezembro?

O isolamento social nos leva a refletir sobre nosso papel como indivíduos e como sociedade. Também nos leva a questionar Desenho Universal como garantia de um mundo de possibilidades, visto que ele ainda não está disponível em igualdade de condições. Isso nos distancia do ideal de mundo que queremos, pois a sociedade que exclui um de seus membros jamais poderá ser considerada uma sociedade para todos.

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Este ano de grandes transformações trouxe muito desenvolvimento tecnológico e inúmeras possibilidades digitais. Também nesse contexto, os questionamentos continuam. As muitas possibilidades digitais atendem a todas as pessoas? Certamente NÃO. E esse NÃO é o que o grande cartunista Ricardo Ferraz desenhou em 1981, conhecido pelas pessoas que frequentam este movimento desde então.

Ilustração em preto e branco de um cadeirante sendo impedido de se locomover por letras gigantes que compõe a palavra "Não". Fim da descrição.
Imagem: acervo Ricardo Ferraz.

É preocupante saber que, 27 anos depois, no ano de profundas transformações e grandes descobertas, as pessoas com deficiência continuem à margem do Desenho Universal, da igualdade de direitos e do pleno exercício da sua cidadania.


Elza Ambrósio é integrante do Movimento Social de Pessoas com Deficiência.

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