Na atualidade, a organização da escola, no sentido de acolher a todos os alunos, constitui-se grande desafio. Uma parcela significativa dos educadores não compreende a educação inclusiva como um trabalho coletivo resultante do projeto pedagógico. As incompreensões se revelam por meio de discursos repetitivos indicando que o trabalho da sala de aula se organiza de modo isolado e individualizado. Atribui-se ao professor, de modo exclusivo, a responsabilidade de definir estratégias pedagógicas que atendam as diferentes formas de aprender e de ensinar. Tais atribuições aos docentes acarretam sentimentos de impotência e de incapacidade, por estes não identificarem no coletivo da escola engajamento colaborativo quanto aos desafios de se ensinar a todos os alunos.
Outro desafio enfrentado pelos educadores diz respeito à definição e implantação de políticas educacionais locais que garantam a oferta do atendimento educacional especializado (AEE), em caráter complementar e/ou suplementar, para os alunos público-alvo da educação especial. A oferta obrigatória do AEE constitui-se garantia de espaço no contraturno, que visa à ruptura de barreiras que interferem na aprendizagem desse alunado. A destinação desse espaço se revela uma alternativa de superação de suas dificuldades específicas no acesso ao conhecimento.
A reestruturação do trabalho coletivo na perspectiva da educação inclusiva implica em se considerar as diferenças como norteadoras da ação pedagógica. Ao considerar as diferenças, os educadores devem organizar o trabalho pedagógico contemplando diversas formas que possibilitem a expressão do conhecimento por todo e qualquer aluno. As possibilidades de expressão demandarão suportes e recursos que poderão auxiliar esses alunos, segundo suas necessidades, características e especificidades. A efetivação desse trabalho demanda a necessidade de engajamento de todos os educadores de modo indistinto.
Apesar desses desafios, observa-se que na medida em que os professores compreendem a filosofia da educação inclusiva e se sentem apoiados na organização e no planejamento de estratégias pedagógicas com atenção às diferenças, eles se engajam no propósito de promover a aprendizagem de todos. No entanto, ainda são perceptíveis momentos de tensão e de insegurança, e a consequente necessidade de se estabelecer parcerias com outros atores no interior e fora do ambiente escolar.
Adriana Leite Limaverde Gomes é doutora em Educação. Professora da Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Departamento de Teoria e Prática de Ensino. Pesquisadora nas áreas de educação especial, educação inclusiva, aprendizagem e desenvolvimento da linguagem escrita, alfabetização, deficiência intelectual, práticas pedagógicas no contexto das diferenças.
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