Tour cultural amplia diálogos sobre igualdade e direitos civis

Nos últimos anos, muitos professores da Escola Municipal de Educação Básica Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, de Cuiabá (MT), participaram de uma série de formações enriquecedoras. Esses cursos, como o Portas Abertas para a Inclusão, abriram nossos olhos para as possibilidades de criar estratégias pedagógicas que levassem em conta a diversidade. Embasados por essas capacitações, nos atentamos para a necessidade de aprimorar o diálogo com nossos estudantes sobre questões ligadas à igualdade e conquista de direitos.

A EMEB Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon atende cerca de 400 crianças e adolescentes do ensino fundamental, de manhã e de tarde, e outros 100 alunos na educação de jovens e adultos (EJA) no período noturno. A unidade tem como proposta pedagógica desenvolver projetos. Ou seja, organizamos o currículo por projetos de trabalhos bimestrais, em conjunto com alunos, professores e pais, pois acreditamos que esse tipo de metodologia faz os estudantes desenvolverem consciência sobre o próprio processo de aprendizagem. Já o educador deixa de ter o papel de “transmissor de conteúdos” para se transformar em um pesquisador.

Recentemente, uma palestra da ex-ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade nos trouxe informações importantes sobre o processo migratório no Mato Grosso, comunidades quilombolas, populações indígenas, escravidão contemporânea, etc. Decidimos, então, unir esses conteúdos aos adquiridos nas formações anteriores e, no primeiro bimestre de 2015, demos início ao projeto “Nossos direitos civis”. A proposta era levar nossas crianças e adolescentes a refletirem criticamente sobre igualdade de oportunidades para negros, indígenas e mulheres a partir de figuras históricas do estado.

 

Visita a monumentos

Participaram das atividades as turmas do 1º ao 4º ano, incluindo 11 estudantes com deficiências intelectual, múltipla e física. Nossa primeira ação foi utilizar o material “A cor da cultura”. O kit conta com obras literárias, vídeos, canções e outros recursos sobre a cultura afro-brasileira. A cada aula, os alunos vivenciavam as histórias e mergulhavam em um rico universo de costumes, tradições, lendas, jogos e brincadeiras. Para as crianças com deficiência, a professora do atendimento educacional especializado (AEE) preparou atividades no computador e materiais visuais a partir das histórias do material.

Após familiarizar as turmas com o tema, realizamos um tour por Cuiabá. Eles visitaram os principais monumentos e locais da cidade que fazem referência a fatos históricos e culturais relacionados às populações negra e indígena e a mulheres. Com isso, passaram a conhecer a história de pessoas que tiveram pouca visibilidade, mas que foram importantes na luta por direitos e igualdade no Mato Grosso. Os locais visitados foram:

• Estátua dos paiaguás: os paiaguás foram um grupo indígena que habitou a região do alto Rio Paraguai. Desde o século XVIII, com a descoberta das jazidas de metais preciosos no interior do país, os índios paiaguás estiveram em confronto com os portugueses. A etnia foi extinta;

• Estátuas do Cururueiro e do Siriri: duas esculturas com dois metros de altura, somadas a mais um metro da base de apoio, que homenageiam os tocadores de toadas de cururu e o siriri, dança típica da região;

• Praça Maria Taquara: Maria foi uma mulher negra que lavava roupas às margens de um córrego no centro da cidade entre as décadas de 1930 e 1940. Por ser alta e magra, ganhou o apelido de “taquara”. Tornou-se símbolo de igualdade por ter sido a primeira mulher a usar calças compridas em Cuiabá;

• Parque Mãe Bonifácia: durante a época da escravidão, houve no local um quilombo, que era comandado por uma senhora negra conhecida como mãe Bonifácia. Alforriada e curandeira, ela se tornou figura lendária na cidade por acobertar e proteger negros fugidos.

Os estudantes levaram câmeras fotográficas, cadernos e canetas para registrar as imagens e as falas do guia. Todos foram orientados a ficar atentos às necessidades dos colegas durante o caminho, guiando-os pelas mãos, ajudando-os a descer do ônibus e reforçando o que haviam visto e ouvido sobre os monumentos para os alunos com deficiência intelectual, se preciso. A Secretaria de Educação ofereceu o transporte adaptado.

 

Atividades de pesquisa

Ao retornar para a escola, os estudantes iniciaram produção de trabalhos sobre o que foi observado. Eles foram divididos em grupos e cada um ficou responsável por pesquisar sobre uma das personalidades históricas. Nessa etapa, eles confeccionaram banners, cartazes e painéis com fotos e explicações e apresentaram para as outras turmas da escola.

Durante o projeto, observamos que muitas crianças ficaram intrigadas e curiosas quando souberam que as mulheres foram importantes na história de Mato Grosso. Foi comum, inclusive, que os alunos apontassem semelhanças entre essas personagens e suas mães, avós e tias.

Projeto participante do 1º Prêmio Paratodos de Inclusão Escolar

Comentário

  • Projetos assim devem ser expandidos por todo o país! Nos entristece saber que são poucos os Órgãos Públicos que se preocupam em fornecer uma educação inclusiva de qualidade.

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